No total, encomendas recentes de companhias aéreas brasileiras somam cerca de 70 aeronaves| Foto: Sebastião Moreira/EFE

Infraestrutura e controle de tráfego limitados devem frear expansão

Apesar do otimismo generalizado para a aviação, analistas alertam que o crescimento do setor tem um limite que não pode ser ignorado: a infraestrutura aeroportuária e o controle de tráfego aéreo. "Quem determinará o limite não será a demanda, e sim a infraestrutura", destaca o analista de transportes do banco San­­tander Caio Dias. Se a demanda continuar crescendo e os problemas estruturais não forem solucionados, no médio e longo prazos o preço das passagens terá de ser elevado, constata Dias. Ele acha que 2010 fechará com estabilidade nos preços, de R$ 0,20 em média por quilômetro voado.

Na opinião de Respício do Es­­pí­­rito Santo Junior, do Ins­­tituto Cepta e da UFRJ, não adianta as empresas ampliarem suas frotas e o governo abrir a possibilidade de mais capital estrangeiro nas aéreas, se não há aeroportos e espaço aéreo.

Na avaliação do especialista em aviação Paulo Sampaio, da consultoria Multiplan, o governo precisa fazer valer as projeções "generosas" traçadas para o mercado de aviação. "Preci­samos de pesados investimentos do governo em aeroportos e controle do tráfego aéreo", diz.

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Enquanto países desenvolvidos tentam contornar a fraca procura por passagens aéreas, a aviação no Brasil vem apresentando crescimento vigoroso. E o setor espera mais. De olho no potencial deste mercado, que deve avançar perto de 20% nas rotas domésticas em 2010, as companhias aéreas voltaram a fazer captações, a investir na compra de aeronaves e a lançar rotas. As contratações de tripulantes também aumentaram e empresas que antes se dedicavam exclusivamente à aviação executiva querem alçar voos na comercial.A confiança das empresas brasileiras de que o setor aéreo só tende a crescer tem incentivado a compra de aeronaves. A TAM, maior companhia aérea do Brasil, inaugurou este movimento em junho ao encomendar 25 aviões da Airbus, em um negócio de quase US$ 3 bilhões, considerando os preços de tabela. As aeronaves, que chegam entre 2014 e 2016, substituirão modelos antigos. Com isso, a frota da TAM fechará 2010 com 148 aviões, contra 132 unidades no ano passado, já considerando os modelos ATRs herdados da Pantanal, comprada no fim de 2009.

No entanto, o professor Respício do Espírito Santo Junior, da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente do Instituto Cepta, ressalva que, diferentemente do que vem ocorrendo lá fora, há no Brasil um crescimento real da frota, já que as companhias de menor porte têm adicionado aviões à sua malha. "Esta é uma das comprovações de que as empresas aéreas enxergam um potencial muito grande no mercado doméstico", opina.

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Embraer

Trip e Azul Linhas Aéreas, por exemplo, surpreenderam nesta semana ao anunciar novas encomendas. No primeiro caso, a compra foi de dois jatos Embraer 190, de 106 lugares, no valor de US$ 80 milhões. Já a Azul aproveitou uma sobra de produção da Embraer para levar mais cinco jatos 195, de 118 assentos, transação que soma US$ 200 milhões a preço de tabela. A empresa já havia pedido outras 76 aeronaves à Embraer. A maior surpresa, no entanto, foi a inclusão de modelos da franco-italiana ATR à frota antes formada exclusivamente por modelos da Embraer. A Azul comprou 40 unidades da fabricante estrangeira, sendo 20 ofertas firmes e 20 opções, em uma transação estimada em US$ 850 milhões.

Para o analista de transportes do banco Santander Caio Dias, a mudança no plano de frotas da Azul deixa antever a estratégia de privilegiar rotas mais curtas, já que a ligação entre cidades periféricas aos centros onde estão os principais aeroportos tem grande potencial. "A aviação regional vai promover a segunda onda de expansão do setor. E a primeira onda, da popularização do transporte aéreo, ainda está acontecendo", afirma o profissional. Atenta às perspectivas positivas para a aviação regional, no fim de 2009 a TAM, maior companhia aérea do país, anunciou a compra da Pantanal. A TAM avalia, agora, se amplia a frota da subsidiária com modelos da ATR ou da Embraer.

A aviação regional comercial está, inclusive, atraindo novos players. A Laguna, empresa que nasceu como táxi aéreo, quer iniciar em dezembro o transporte regular de passageiros. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) já expediu a autorização para a prestação deste serviço. Segundo fontes, a nova aérea regional investirá R$ 70 milhões e terá São José dos Campos (SP) como sede. Sua frota será composta por 48 aeronaves Fokker com capacidades para até 118 e 50 passageiros. A ideia será privilegiar linhas com pouca ou nenhuma concorrência. Serão cerca de 96 destinos em 14 estados.