A Azul Linhas Aéreas poderá antecipar sua estréia no mercado brasileiro de aviação, inicialmente prevista para o início de 2009. A empresa trabalha com a possibilidade de entrar no mercado antes do fim do ano, entre novembro e dezembro. "Caso o cheta (Certificado de Homologação de Transporte Aéreo) saia logo, poderemos começar a operar antes do fim do ano", afirmou ao Grupo Estado o criador e presidente do Conselho de Administração da Azul, David Neeleman.
Quando exatamente dependerá da obtenção do cheta do junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Segundo Neeleman, esse processo está "bastante avançado". Dentro de dez dias, a empresa recebe o primeiro avião de uma encomenda de 76 jatos modelo Embraer 195, de 118 lugares.
O jato será utilizado no processo de certificação da companhia e nas próximas semanas fará testes entre as bases que a empresa está montando nos aeroportos de Santos Dumont (Rio de Janeiro), Campinas e Curitiba. A primeira turma de pilotos e comissários já está formada e a segunda já está a caminho.
A Azul planejava iniciar operação com três aeronaves em sua frota, terminando o ano de 2009 com 10 aviões. Mas Neeleman admite que será difícil enfrentar a concorrência com apenas três aviões e que, portanto, poderá antecipar as entregas. "Não descartamos a possibilidade de aumentar a nossa oferta", disse Neeleman. "O prazo de entregas na Embraer está apertado, mas com a alta do petróleo e o desaquecimento na demanda, alguns clientes estão começando a postergar suas entregas." Segundo o empresário, já houve pelo menos "uma desistência" na fila de entregas.
Com TAM e Gol/Varig dominando 90% do mercado doméstico de aviação, as duas têm poder de mercado suficiente para esmagar um concorrente com uma oferta tão limitada de assentos. Foi justamente isso que inviabilizou o primeiro projeto da WebJet - posteriormente comprada pela CVC - além de impedir o crescimento de outras companhias menores. Como o preço é livre, as líderes costumam enfrentar concorrentes menores oferecendo os mesmos vôos e horários, a preços imbatíveis.
Mas antes mesmo da Azul anunciar ou entrar com pedidos de vôos, TAM e Gol já deram demonstração de que a briga não será fácil. No mês passado, pouco depois de tomarem conhecimento da intenção da Azul de operar nos aeroportos centrais do Rio de Janeiro (Santos Dumont) e Belo Horizonte (Pampulha) - hoje limitado à aviação regional e, no caso do Rio, também aos vôos da Ponte Aérea - as duas entraram com pedidos para voar desses aeroportos. Dentre os pedidos, estão os vôos Santos Dumont-Brasília e Pampulha-Congonhas (SP). Os pedidos marcam uma mudança de posição de TAM e Gol, que até um mês atrás eram contra a abertura dos dois aeroportos.
A Azul descobriu que as portarias que restringiram as operações dos dois aeroportos, de 2002, se chocam com a lei que criou a Anac, que proíbe a agência de promover restrições de mercado por razões que não sejam de segurança. "Se existe uma portaria que vai contra a lei e a liberdade de voar, que a portaria seja revogada já", afirma o vice-presidente da TAM, Paulo Castello Branco. "Queremos autorização para fazer novos vôos dos dois aeroportos a partir de setembro."
A Anac já manifestou que pretende revogar a portaria, mas afirma que é preciso antes fazer estudos e promover consulta pública. "Se a Anac revogar as portarias só em janeiro, ela estará nitidamente sinalizando...", disse o vice-presidente da TAM, preferindo deixar a frase incompleta.
"Vamos começar a operar junto com a liberação desses aeroportos. Se o cheta sair rápido, poderemos iniciar as operações ainda este ano", disse Neeleman.