As medidas de estímulo ao consumo anunciadas no Brasil para enfrentar a crise internacional serão insuficientes para retomar o boom econômico e impulsionar a indústria nacional, advertem analistas, segundo os quais o maior problema do país é a baixa competitividade.
Sexta maior economia do mundo, o Brasil não atingirá o crescimento de 4,5% previsto anteriormente pelo governo para este ano, admitiu na segunda-feira o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que nesta terça-feira (22) apresentou um documento com uma nova estimativa oficial de 4%.
"As perspectivas para este ano estão sendo reduzidas", disse o economista Juan Jensen, da consultora Tendências, de São Paulo. "A economia continua em trajetória de crescimento, mas de crescimento fraco, e o principal sinal disso é a desaceleração da indústria", completou Jensen.
A Tendências reduziu de 3,2% para 2,5% sua estimativa de crescimento para 2012. O mercado rebaixou também, de acordo com dados divulgados na segunda-feira, a estimativa de crescimento de 3,20% a 3,09% para este ano, segundo o relatório semanal do Banco Central.
"A indústria possui custos mais altos e não há produtividade para compensar esse aumento", afirmou Jensen.
Ao mesmo tempo, o governo insiste em sua estratégia de reduzir juros e pressionar os bancos privados para que também os reduzam, em uma tentativa de estimular o consumo neste país de mais de 190 milhões de habitantes, que em 2010 registrou 7,5% de crescimento do PIB.
Com esse objetivo, o Banco Central cortou, desde agosto, de 12,5% para 9% a taxa de juros básica do país (Selic), e acredita-se que ela continuará baixando.
"As pessoas têm me perguntado sem estamos preparados para o que possa ocorrer na Europa. Pois eu posso garantir: estamos 100% preparados, 200% preparados, 300% preparados", enfatizou na segunda-feira a presidente Dilma Rousseff.
Analistas, no entanto, alertam sobre a aversão ao risco gerada pelos mercados emergentes e sobre a queda da demanda chinesa por matérias-primas, além de uma desvalorização do real, que poderá pressionar a temida inflação - que foi de 6,5% em 2011.
"Caso de Brasil não tenha um crescimento forte, nem continue contando com a ajuda dos preços das matérias-primas, o país passa a não ser mais tão atrativo para os investidores estrangeiros, disse Jensen.
Para Zeina Latif, doutora em Economia pela Universidade de São Paulo, o consumo está focando em importações e não por mais produção e por isso as recentes medidas oficiais não serão suficientes.
"É preciso lidar com problemas estruturais como custos do transporte, energia e mão de obra", afirmou. "A fragilidade da indústria pode acabar contaminando outros setores", completou.
Segundo especialistas, os bancos também podem ficar mais reticentes em conceder créditos a juros menores e pode haver aumento na inadimplência.
No primeiro trimestre, a produção industrial caiu 3% com relação ao mesmo período de 2011. Golpeada por mais importações e pela perda de competitividade pela valorização do real nos últimos anos, a indústria em 2011 cresceu apenas 0,3%, contra o vigoroso 10,5% de 2010.
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