Aprender a lidar com os efeitos da baixa temporada é a maior dificuldade dos empresários dos balneários paranaenses, segundo a pesquisa "Oportunidades de Negócios de Turismo no Litoral do Paraná", encomendada pelo Sebrae-PR. Para 29% dos empresários, a sazonalidade é o principal problema enfrentado, seguida da carência de mão de obra (16%), em especial a qualificada (15%).
A pesquisa ouviu lideranças e empresários da região, veranistas da capital e do interior e operadores turísticos. Quase 1,3 mil pessoas foram entrevistadas para traçar o perfil e o mapa das oportunidades de novos negócios. O Sebrae fez 55 entrevistas com lideranças do litoral; 31 com operadores turísticos do Paraná e de outros estados; 270 com empresários da região e 900 com turistas de Curitiba, Cascavel, Maringá e Londrina.
Sobre a sazonalidade, o levantamento mostrou que, nos meses de baixo movimento, quase metade dos negócios (48%) sofre quedas de faturamento significativas, que ameaçam sua sobrevivência, e somente 6% dos empreendimentos estão imunes a esse problema. Uma ação que poderia melhorar o fluxo de turistas, segundo 69% dos empresários, é a promoção de eventos e campanhas de divulgação, algo que poderia ser feito em conjunto por empresas, associações e governo.
Carências
A infraestrutura básica foi citada por empresários e visitantes como o principal complicador para o turismo na região. Dos 270 empresários ouvidos, 41% consideram o saneamento básico um ponto fraco. Consequência da falta de redes de esgoto, praias sujas e poluídas foram citadas por 18% dos empresários. Entre os turistas, 44% também apontaram a precariedade do saneamento básico. Detalhe: para 46% dos turistas, a limpeza das praias é pré-requisito para incluir uma cidade no roteiro.
Segundo Carlos Gnata, presidente da Agência de Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (Adetur), os problemas são consequência da falta de planejamento e investimentos no litoral. "Além de saneamento, faltam sinalização turística, banheiros e quiosques na orla", observa. Outra deficiência, diz, é o setor de serviços há poucos receptivos turísticos e guias preparados para divulgar e "vender" a região.
Destinos
O litoral paranaense concentra boa parte dos destinos escolhidos no Paraná por turistas do estado e de outros estados. Entre os lugares mais visitados estão os balneários de Guaratuba e Caiobá, conhecidos por 78% dos turistas entrevistados. Paranaguá (71%), Matinhos (70%) e Morretes (62%) completam a lista dos lugares mais conhecidos.
Apesar de 68% dos operadores de turismo acharem que a região não está bem servida de estabelecimentos para atender os visitantes, a maioria dos turistas (84%) disse não ter tido dificuldades para encontrar produtos ou serviços no litoral. Mas, para Patrícia Albanez, consultora do Sebrae-PR e gestora do Projeto Turismo no Litoral do Paraná Emoções o Ano Inteiro, os turistas receberiam bem novas opções de serviços. "A maior parte utilizaria serviços como pousadas sofisticadas, resorts e parque para crianças", observa a consultora.
Aposta no ecoturismo
Moradora de Matinhos há 30 anos, Nívea Carraro Gursky decidiu deixar o comando da loja de materiais elétricos aos cuidados da filha para se dedicar a um sonho antigo: abrir uma pousada. Na companhia do sócio, o ex-representante comercial Jamil Pereira, ela transformou a casa onde vive, próximo ao Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange, em Matinhos, em uma pousada com foco no ecoturismo.
O Recanto das Bromélias abriu as portas ao público no dia 1.° de setembro de forma modesta, com apenas três suítes e um funcionário para ajudar nos serviços externos. "Ainda estamos no vermelho por causa do investimento, mas a expectativa é de que em breve possamos ampliar a capacidade da pousada", afirma Nívea, que pretende construir chalés.
O dinheiro para o pontapé inicial foi a maior dificuldade do casal. Além de um empréstimo, eles venderam os dois carros para complementar o valor do investimento inicial, estimado em R$ 65 mil.
Para Nívea, o fato de a pousada estar numa área de Mata Atlântica preservada é uma grande vantagem. "Com o apoio do pessoal do Parque, estamos retirando todas as plantas que não são nativas, pois nosso foco é a preservação", afirma a empreendedora, que também fez parceria com o parque para a criação e acompanhamento das trilhas turísticas na mata.