Os números tímidos do crescimento do país divulgados pelo IBGE aumentaram as pressões políticas por mudanças na política econômica e sobre o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Nesta sexta-feira, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, responsabilizou diretamente a política de juros do BC pelo crescimento de apenas 0,5% do Produto Interno Brupo (PIB, conjunto das riquezas produzidas pelo país) no terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores.
- Estamos sofrendo as conseqüências de uma política monetária conservadora - disse o ministro a jornalistas, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
Na quinta-feira, o ex-ministro e deputado eleito Ciro Gomes (PSB-CE), muito ligado a Lula e constantemente cotado para voltar ao governo, rompeu o silêncio que mantinha desde as eleições e fez duras críticas à política econômica.
- O Brasil vai crescer este ano mediocremente. Não dá 3%. Com o baixo crescimento, o país estaria batendo as portas no nariz dos jovens que estão chegando ao mercado de trabalho. Nós precisamos crescer 5% ao ano, qualquer que seja o custo - disse.
Ciro afirmou que agora fala mais livremente sobre questões econômicas porque, antes, não encontrava apoio.
- Eu me sentia muito só. O governo melhorou muito com a Dilma (Rousseff, chefe da Casa Civil) e com o Guido (Mantega, ministro da Fazenda) - disse, evitando polemizar sobre o que pensava do ex-ministro Antonio Palocci.
Fim do "palocismo"
Reportagem do jornal "Valor", publicada nesta sexta-feira, pondera que as declarações recentes do presidente Lula indicam o fim do "palocismo". Segundo a reportagem, "colocado diante de dois mandamentos - fazer um ajuste fiscal para o país crescer ou crescer para resolver os desequilíbrios fiscais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez a escolha pela segunda alternativa".
Ligado ao grupo do ex-ministro Antonio Palocci, o presidente do BC Henrique Meirelles é criticado por ter promovido o que a "ala desenvolvimentista" do governo chama de dose exagerada nos juros, que teria enfraquecido o avanço da economia. Essa corrente acha que o BC de Meirelles só pensa no controle da inflação e dos gastos públicos, e dá pouca ênfase ao crescimento da economia.
Os "desenvolvimentistas" ponderam que o BC poderia ter baixado mais os juros, já que o país deverá crescer menos de 3% este ano enquanto a inflação fechará 2006 abaixo do centro da meta, de 4,5%.
Meirelles e seus defensores argumentam que a inflação baixa beneficia os mais pobres, e foi um dos principais motivos que levaram Lula à reeleição.
Apesar das críticas de muita gente próxima a Lula, a permanência de Meirelles à frente do BC é dada como praticamente certa, pelo menos no início do segundo mandato. Mas estaria sujeita a mudanças em relação à velocidade da queda dos juros básicos. Segundo fontes de Brasília, Meirelles deve ficar, mas se mudar alguns diretores do BC considerados muito "conservadores".
Copom
Na quarta-feira o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu em 0,50 ponto percentual a taxa básica de juros (Selic), para 13,25% ao ano. Foi a 12ª queda seguida, mas três dos oito diretores votaram por um corte menor, de 0,25 ponto. Isso indica que o Copom -com sua composição atual - já considera rever a velocidade de queda dos juros, o que provoca arrepios na chamada "ala desenvolvimentista" do governo - que Mantega integra - e poderosas entidades industriais, como a Fiesp.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que antes de assumir a pasta no lugar de Antonio Palocci criticava muito o BC pedindo juros mais baixos, disse que o crescimento de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre decepcionou, apostando em avanço maior em 2007.
Lula, por sua vez, minimizou o fraco resultado do PIB no terceiro trimestre.
- Não estou mais pensando em 2006. Estou pensando em 2007, 2008, 2009, 2010. Estamos tomando todas as medidas para que o Brasil tenha um crescimento mais vigoroso - afirmou o presidente, que participou da Cúpula África-América do Sul, em Abuja, capital da Nigéria.
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