
O ano de 2011 fechou com o maior déficit em transações correntes da história, mas o rombo nas contas externas brasileiras acabou ficando bem menor do que se projetava inicialmente. O superávit maior da balança comercial foi decisivo para contrabalançar o aumento das despesas com serviços contratados no exterior, principalmente viagens internacionais e aluguel de equipamentos.
O Banco Central começou 2011 projetando um déficit em transações correntes de US$ 64 bilhões, estimativa que supera em mais de US$ 10 bilhões os US$ 52,6 bilhões efetivamente realizados em 2011. Enquanto o BC tinha uma projeção de apenas US$ 11 bilhões para o saldo comercial, a balança fechou 2011 com superávit de US$ 29,8 bilhões.
A diferença entre a projeção e o desepenho real ocorreu basicamente pelo bom resultado das exportações que ficaram muito acima do que o BC estimava há 12 meses. As vendas externas do Brasil atingiram em saldo de US$ 256 bilhões, para uma estimativa inicial bem mais modesta do BC, de US$ 235 bilhões. Já as importações atingiram US$ 226,2 bilhões, muito próximo do valor projetado de US$ 224 bilhões.
Remessas
Na contramão da balança comercial, as remessas de lucros e dividendos ficaram US$ 5 bilhões maiores do que o estimado no início de 2011. O BC projetou remessas de US$ 33 bilhões e, na prática, elas fecharam em US$ 38,2 bilhões.
A despeito desse desempenho para remessas de lucros e dividendos, o chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central (BC), Túlio Maciel, não demonstrou preocupação com esse item do balanço de pagamentos e projetou um crescimento muito pequeno para 2012. Pelas contas do BC, as remessas líquidas de lucros e dividendos vão saltar de US$ 38,2 bilhões para US$ 39,6 bilhões em 2012.
Os gastos com viagens internacionais também acabaram surpreendendo negativamente o BC e fecharam num patamar US$ 2,5 bilhões superior à expectativa da instituição.
Estabilidade
Apesar do aumento em valores nominais, o déficit em transações correntes entre 2008 e 2011 está estabilizado em cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse dado foi ressaltado pela consultoria LCA em relatório divulgado ontem. Para a LCA, os dados de 2011 mostram que as condições de solvência externa, que foram um dos grandes fatores que levaram o Brasil a conquistar o grau de investimento ainda em 2008, continuaram bastante favoráveis.
Investimento na produção compensou o déficit
Folhapress e Agência Estado
O Brasil nunca recebeu tanto investimento produtivo quanto no ano passado. O Investimento Estrangeiro Direto (IED) ajudou a cobrir o rombo nas contas externas e somou US$ 66,66 bilhões em 2011. Como o déficit de transações correntes foi de US$ 52,6 bilhões, a balança de pagamentos terminou o ano positiva em US$ 58,6 bilhões.
"O deficit nas transações correntes foi financiado com folga pelo investimento estrangeiro direto", disse Tulio Maciel, chefe do departamento econômico do Banco Central. "Isso mostra a confiança do investidor estrangeiro nos fundamentos do país. A expansão do mercado doméstico é um estímulo que traz investimentos ao país."
Em janeiro, segundo Maciel, o investimento estrangeiro direto deve alcançar US$ 4,5 bilhões do início do mês até ontem, entraram US$ 4 bilhões em investimento produtivo no país.
Para o economista Gabriel Hartung, do BBM Investimentos, o investimento externo reflete o bom momento do país em relação às demais economias. "As entradas de investimento estrangeiro direto têm sido bem diversificadas entre os setores. No fundo é um reflexo do diferencial de crescimento do Brasil com o restante do mundo", comentou Hartung. "Apesar da desaceleração da economia no ano passado, as expectativas são boas para este ano, se comparadas às que estão sendo feitas para outros países."