A balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 2,842 bilhões no mês passado, pior resultado para meses de fevereiro da série histórica, iniciada em 1980. O resultado foi influenciado por queda nas exportações em todas a categorias de produtos, com destaque para minério de ferro, petróleo, soja e componentes automotivos. O anúncio foi feito nesta segunda-feira pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
O resultado veio pior do que o esperado pela mediana dos especialistas consultados pela Reuters, com projeção de déficit de US$ 2,2 bilhões. Em janeiro, a balança comercial havia registrado déficit de US$ 3,174 bilhões.
Exportações
Governo ainda trabalha com previsão de superávit comercial para o ano
O diretor de Estatística e Apoio à Exportação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Herlon Brandão, disse que, embora a balança comercial brasileira tenha tido em fevereiro o pior resultado para o mês desde 1980, o ministério ainda trabalha com a previsão de um superávit comercial para o ano. “Ainda é cedo para rever as expectativas. Ainda temos expectativa de superávit para o ano. Os fatores ainda estão se definindo”, disse Brandão.
Segundo ele, a queda nos preços das commodities ainda tem sido determinante para explicar o recuo nas exportações. No caso de fevereiro, houve um atraso nos embarques de soja em relação ao ano passado. Mas, segundo o técnico, esse atraso será normalizado em algum momento para o resultado o ano. “A soja vai ser exportada independente da época do ano”, afirmou.
Segundo Brandão, os embarques da soja em grão em 2014 se concentraram no início do ano por questões climáticas, mas este ano voltou a ter normalidade no cronograma. “Os embarques devem começar mais no meio do ano. Este ano, a colheita está acontecendo um pouco mais tarde que no ano passado”, explicou.
No mês passado, as exportações somaram US$ 12,092 bilhões, com queda de 15,7% em relação a igual mês do ano passado, por quedas nas vendas em todas as categorias de produtos: básicos, semimanufaturados e manufaturados. Entre as principais retrações estão minério de ferro (-35,7%), soja (-72,2%), petróleo (-5,5%) e açúcar em bruto (-44,6%) e autopeças (-12,2%).
No acumulado do ano, os embarques feitos pelo país somam US$ 25,796 bilhões, 13,1% abaixo de igual período de 2014 pela média diárias das operações.
Importações
As importações, por sua vez, ficaram em US$ 14,934 bilhões em fevereiro, com recuo de 8,1% em relação a fevereiro do ano passado com menos compras no exterior dos itens de combustíveis e lubrificantes (-20,3%), bens de capital (-8,0%), bens de consumo (-6,8%) e matérias-primas (-3,0%).
No ano, a importações estão em US$ 31,812 bilhões, 10,2% menores ante os dois primeiros meses de 2014 pela média diária das operações.
Com isso, o com saldo comercial do primeiro bimestre ficou negativo em US$ 6,016 bilhões. No mesmo período do ano passado, o déficit era de US$ 6,196 bilhões.
Cenário
A balança comercial segue este ano prejudicada pelo baixo valor das commodites, perda de dinamismo das exportações de manufaturados e por menores exportações para a Argentina.
A valorização do dólar ante o real pode melhorar o desempenho das exportações, mas autoridades e especialistas em comércio exterior avaliam que assim como um dólar mais valorizado, é necessário também a estabilização no câmbio para permitir planejamento das operações de vendas no exterior.
A fraqueza da balança comercial segue como um dos principais fatores da deterioração das contas externas do país. Em janeiro, a conta transações correntes do balanço de pagamentos registrou déficit de US$ 10,7 bilhões e o Banco Central projeta para fevereiro saldo negativo de US$ 6,4 bilhões.
Em um revés para o comércio exterior, mas a fim de conter renúncia fiscal, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou redução do benefício tributário Reintegra para o setor exportador. Com isso, a alíquota de crédito tributário sobre as vendas de produtos no exterior passou a 1% ante 3% para os anos de 2015 e 2016.
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