A crise na Argentina e a exportação de um número menor de plataformas de exploração de petróleo levaram o Brasil a fechar 2014 com o maior déficit histórico na balança comercial de produtos industrializados.
O saldo ficou negativo em US$ 109,44 bilhões, US$ 4,28 bilhões acima de 2013, mesmo com a queda nas importações. O resultado reflete uma retração forte das exportações de manufaturados.
Os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que as vendas externas de produtos com maior valor agregado voltaram ao mesmo nível de 2010.
Em 2013, as manufaturas tinham retornado ao padrão de 2008, quando ainda não tinham sofrido os efeitos da crise financeira internacional.
O levantamento do MDIC mostra que os manufaturados também registraram em 2014 a menor participação na pauta exportadora brasileira. Os produtos industrializados representaram apenas 35,6% de tudo que foi mandado para o exterior em 2014.
As vendas externas de manufaturados somaram US$ 80,21 bilhões no ano passado, queda de 13,7% em relação ao 2013. A retração das importações foi menor: somaram US$ 189,65 bilhões e tiveram um recuo de apenas 4,3% no período. Mesmo com queda, o valor das importações é o segundo maior da história.
Argentina
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, destaca que "o efeito Argentina" e a diferença no número de plataformas reduziram em US$ 10,8 bilhões as exportações de manufaturados em 2014. A queda nas vendas de industrializados foi de US$ 12,73 bilhões em relação a 2013.
A Argentina era o maior mercado para manufaturados brasileiros, mas perdeu o posto no ano passado para os Estados Unidos. Além disso, em 2013, foram exportadas sete plataformas no valor de US$ 7,7 bilhões e apenas duas, de aproximadamente US$ 2 bilhões, foram registradas no ano passado.
Castro acredita que o cenário esse ano será melhor em 2015, refletindo o câmbio mais favorável para os exportadores. Ele avalia que produtos com contratos e ciclo de produção menores, como calçados, confecções e móveis, já podem registrar um aumento nos embarques no primeiro semestre do ano.
"O que deve ajudar a balança em 2015 deve ser os manufaturados. As commodities devem ser afetadas pela queda dos preços internacionais", disse. O presidente da AEB disse que petróleo e minério de ferro podem reduzir muito o valor exportado, apesar da expectativa do aumento das quantidades embarcadas.
A economista do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Lia Valls, disse que o resultado da balança de bens industrializados reflete a falta de competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional e a baixa produtividade da indústria.
"O efeito câmbio é importante, mas é preciso ter demanda." Ela acredita que não se deve esperar uma recuperação do mercado argentino, assim como o presidente da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan. "Estamos mantendo o market share na Argentina, mas para um mercado muito menor."
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