"Mercosul tem de tirar lição dos erros da UE"
João Pedro Schonarth
As autoridades do Mercado Comum do Sul (Mercosul) precisam aprender com os erros da União Europeia (UE) e agir com cautela no processo de integração do bloco econômico. Isso tem de ser levado em conta principalmente em relação à criação de uma moeda única entre os países algo que exigiria mecanismos de controle financeiro entre os membros, para evitar que problemas como os do Velho Continente se repitam na América do Sul. A avaliação é de debatedores do primeiro dia do Encomex Mercosul, que é realizado na Universidade Positivo, em Curitiba, e termina hoje.
A crise financeira europeia foi assunto recorrente. Para o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Alessandro Teixeira, o Mercosul foi criado tendo a União Europeia como modelo de integração e desenvolvimento continental. "Mas hoje a Europa vive uma crise estrutural e precisamos aprender com a experiência dos europeus, tendo cautela na integração do bloco na América do Sul. O modelo europeu é um bom modelo, mas é preciso cautela no processo por aqui", disse Teixeira.
O adido comercial do Paraguai no Brasil, Sebastian Bogado, afirma que a integração do Mercosul deve ser feita respeitando a dinâmica própria de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. "A integração europeia é um modelo a ser seguido, mas temos de aprender com os erros deles. Há uns cinco anos a UE se encontrou à frente de um dilema: aumentar ou fortalecer a zona do euro? Eles preferiram aumentar", lembrou Bogado.
Segundo ele, para que os sul-americanos avancem na integração do bloco, é preciso consolidar a integração, em pequenas etapas, e superar os problemas entre os países, para depois começar a pensar na inclusão de outros países.
Após essa etapa é que se poderia começar a pensar em uma moeda única para o Mercosul. Para esse plano se concretizar, avalia Bogado, seria preciso antes criar uma unidade financeira supranacional entre os países. "Seria mais conveniente trocar o dólar, nas relações dentro do bloco, por uma moeda de um dos membros, ou talvez uma moeda única. Antes é necessário, porém, um órgão controlador eficiente para evitar o que acontece hoje na Europa", pondera.
O paraguaio considera a possibilidade de que nos próximos anos venha a existir uma moeda única no bloco, "desde que haja uma integração cultural entre os países". O secretário brasileiro pede mais cautela. "É preciso ver o exemplo do euro com calma", salienta Teixeira.
O Paraná chegou em novembro ao quarto mês consecutivo de déficit em sua balança comercial, com importações superando exportações em mais de US$ 400 milhões. Com o resultado, o déficit acumulado no ano chegou a US$ 1,2 bilhão, cifra que dificilmente será revertida em dezembro.
O saldo negativo acumulado em 2011 compreende quase um mês inteiro de exportações paranaenses, cuja média em 2011 é de US$ 1,4 bilhão por mês. Caso o estado vendesse ao exterior exatamente essa cifra em dezembro, as importações teriam de ficar abaixo de US$ 200 milhões algo quase impossível nesta época do ano para que o saldo fechasse o ano no azul. Por isso, tudo indica que, pela primeira vez desde 2000, o Paraná terminará o ano com balança comercial deficitária, possibilidade que vem sendo apontada há vários meses por reportagens da Gazeta do Povo.
Desde janeiro, o Paraná comprou US$ 17,2 bilhões em importados e vendeu ao exterior US$ 15,9 bilhões. Os números correspondem a aumentos de 35% e 22%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados foram apresentados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), durante o Encontro de Comércio Exterior do Mercosul (Encomex Mercosul), que está sendo realizado em Curitiba.
Além do saldo negativo em si, outro aspecto desfavorável ao Paraná está na característica dos produtos que compra e vende: enquanto grande parte de suas exportações são de produtos de baixo valor agregado, as importações paranaenses se concentram em manufaturados e commodities de grande custo.
No ano, os produtos que lideram a lista de vendas do estado são a soja (com US$ 3,2 bilhões e participação de 20,2% no total exportado) e o complexo carnes (com US$ 1,9 bilhão e fatia de 12,4%). Nas compras, pesam no Paraná as importações de automóveis e partes (US$ 3,4 bilhões e 19,6% de participação nas compras), máquinas e equipamentos (US$ 2,8 bilhões e 16,6%) e combustíveis e lubrificantes (US$ 2,4 bilhões, 14%).
Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Edson Campagnolo, os resultados não chegam a preocupar, e podem até ser classificados como "um déficit bom". Isso porque uma parcela significativa das importações estaria vindo para abastecer indústrias do estado algumas delas, recém-instaladas. "Se olharmos pelos resultados gerais, o Paraná possui a quarta maior corrente comercial [soma de importações e exportações] do país, e está apresentando índices já superiores aos de 2008, acumulando bom crescimento tanto nas compras quanto nas vendas", disse Campagnolo, que participou do Encomex.
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