Carros argentinos em pátio do Porto de Paranaguá: montadoras do estado importaram US$ 3,2 bilhões no ano| Foto: Fábio Scremin/Appa

"Mercosul tem de tirar lição dos erros da UE"

João Pedro Schonarth

As autoridades do Mercado Comum do Sul (Mercosul) precisam aprender com os erros da União Europeia (UE) e agir com cautela no processo de integração do bloco econômico. Isso tem de ser levado em conta principalmente em relação à criação de uma moeda única entre os países – algo que exigiria mecanismos de controle financeiro entre os membros, para evitar que problemas como os do Velho Continente se repitam na América do Sul. A avaliação é de debatedores do primeiro dia do Encomex Mercosul, que é realizado na Universidade Positivo, em Curitiba, e termina hoje.

A crise financeira europeia foi assunto recorrente. Para o secretário executivo do Minis­tério do Desenvol­vimento, In­­dústria e Comércio Exterior (MDIC), Alessandro Teixeira, o Mercosul foi criado tendo a União Europeia como modelo de integração e desenvolvimento continental. "Mas hoje a Europa vive uma crise estrutural e precisamos aprender com a experiência dos europeus, tendo cautela na integração do bloco na América do Sul. O modelo europeu é um bom modelo, mas é preciso cautela no processo por aqui", disse Teixeira.

O adido comercial do Paraguai no Brasil, Sebastian Bogado, afirma que a integração do Mercosul deve ser feita respeitando a dinâmica própria de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. "A integração europeia é um modelo a ser seguido, mas temos de aprender com os erros deles. Há uns cinco anos a UE se encontrou à frente de um dilema: aumentar ou fortalecer a zona do euro? Eles preferiram aumentar", lembrou Bogado.

Segundo ele, para que os sul-americanos avancem na integração do bloco, é preciso consolidar a integração, em pequenas etapas, e superar os problemas entre os países, para depois começar a pensar na inclusão de outros países.

Após essa etapa é que se poderia começar a pensar em uma moeda única para o Mercosul. Para esse plano se concretizar, avalia Bogado, seria preciso antes criar uma unidade financeira supranacional entre os países. "Seria mais conveniente trocar o dólar, nas relações dentro do bloco, por uma moeda de um dos membros, ou talvez uma moeda única. Antes é necessário, porém, um órgão controlador eficiente para evitar o que acontece hoje na Europa", pondera.

O paraguaio considera a possibilidade de que nos próximos anos venha a existir uma moeda única no bloco, "desde que haja uma integração cultural entre os países". O secretário brasileiro pede mais cautela. "É preciso ver o exemplo do euro com calma", salienta Teixeira.

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O Paraná chegou em novembro ao quarto mês consecutivo de déficit em sua balança comercial, com importações superando exportações em mais de US$ 400 milhões. Com o resultado, o déficit acumulado no ano chegou a US$ 1,2 bilhão, cifra que dificilmente será revertida em dezembro.

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O saldo negativo acumulado em 2011 compreende quase um mês inteiro de exportações paranaenses, cuja média em 2011 é de US$ 1,4 bilhão por mês. Caso o estado vendesse ao exterior exatamente essa cifra em dezembro, as importações teriam de ficar abaixo de US$ 200 milhões – algo quase impossível nesta época do ano – para que o saldo fechasse o ano no azul. Por isso, tudo indica que, pela primeira vez desde 2000, o Paraná terminará o ano com balança comercial deficitária, possibilidade que vem sendo apontada há vários meses por reportagens da Gazeta do Povo.

Desde janeiro, o Paraná comprou US$ 17,2 bilhões em importados e vendeu ao exterior US$ 15,9 bilhões. Os números correspondem a aumentos de 35% e 22%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados foram apresentados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), durante o Encontro de Comércio Exterior do Mercosul (Encomex Mer­cosul), que está sendo realizado em Curitiba.

Além do saldo negativo em si, outro aspecto desfavorável ao Paraná está na característica dos produtos que compra e vende: enquanto grande parte de suas exportações são de produtos de baixo valor agregado, as importações paranaenses se concentram em manufaturados e commodities de grande custo.

No ano, os produtos que lideram a lista de vendas do estado são a soja (com US$ 3,2 bilhões e participação de 20,2% no total exportado) e o complexo carnes (com US$ 1,9 bilhão e fatia de 12,4%). Nas compras, pesam no Paraná as importações de automóveis e partes (US$ 3,4 bilhões e 19,6% de participação nas compras), máquinas e equipamentos (US$ 2,8 bilhões e 16,6%) e combustíveis e lubrificantes (US$ 2,4 bilhões, 14%).

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Edson Cam­pagnolo, os resultados não chegam a preocupar, e podem até ser classificados como "um déficit bom". Isso porque uma parcela significativa das importações estaria vindo para abastecer indústrias do estado – algumas delas, recém-instaladas. "Se olharmos pelos resultados gerais, o Paraná possui a quarta maior corrente comercial [soma de importações e exportações] do país, e está apresentando índices já superiores aos de 2008, acumulando bom crescimento tanto nas compras quanto nas vendas", disse Campagnolo, que participou do Encomex.

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