Se nos Estados Unidos e na Europa a crise global já provocou uma onda de prejuízos bilionários e quebras de bancos, por aqui a turbulência teve, até agora, reflexo pequeno no resultado financeiro do sistema bancário. Os quatro maiores bancos privados que divulgaram balanços nos últimos dias Bradesco, Itaú, Unibanco e Santander/Real registraram, juntos, um lucro líquido de R$ 16,3 bilhões de janeiro a setembro, 4,4% menos do que no mesmo período do ano passado. A rentabilidade ficou em 21,2%, abaixo dos 24,8% registrados na mesma base de comparação.
Apesar da queda, a percepção de analistas é a de que os reflexos foram amenos se comparados aos estragos provocados pelo que se viu nos mercados financeiros de Estados Unidos e Europa. "Não dá para comparar a situação aqui com a quebradeira e os prejuízos registrados nos Estados Unidos", diz Rogério Garrido, gerente da filial da corretora Fator em Curitiba.
Para Carlos Daniel Coradi, diretor presidente da consultoria Engenheiros Financeiros & Consultores (EFC), especializada no setor, o sistema bancário brasileiro "é sólido e capitalizado" e muito mais conservador do que o americano, o que lhe garante boa rentabilidade e pouca exposição ao risco.
Liquidez
Por aqui, o principal efeito da crise foi a falta de liquidez no mercado, que gerou uma redução da oferta de crédito. As instituições brasileiras, embora nunca tenham trabalhado com o segmento subprime (hipotecas de alto risco) que deram origem à crise nos Estados Unidos passaram a sentir, a partir de setembro, os efeitos indiretos da piora do cenário econômico mundial. Como as linhas de crédito ficaram mais escassas por conta da turbulência internacional, o custo de captação dos recursos (que são usados pelos bancos para emprestar a empresas e consumidores) disparou e as instituições reduziram o ritmo de concessão de linhas de crédito a partir de meados de setembro.
O reflexo desse movimento, contudo, só deve ser sentido nos próximos balanços. "Com a acomodação do crédito, os bancos devem reportar resultados mais tímidos no quarto trimestre", diz Garrido, da Fator.
Derivativos
Outra preocupação do mercado era com o grau de exposição dos bancos a clientes que apostaram no dólar fraco, por meio de derivativos cambiais agressivos, complexas operações que já resultaram em estragos bilionários a companhias como Sadia, Aracruz e Votorantim Papel e Celulose (VCP). Juntos, os quatro bancos tinham R$ 4,8 bilhões em derivativos cambiais de clientes em setembro, montante que representa menos de 0,5% dos ativos. O porcentual baixo serviu para acalmar o mercado, segundo analistas.