Os balanços das empresas de varejo do terceiro trimestre mostraram um traço comum: os estragos causados pela recessão. Segundo analistas de mercado, as vendas reais (descontada a inflação) encolheram e não houve espaço para repasse de preços. Algumas companhias anunciaram a reestruturação dos negócios, com fechamento de lojas e encerramento de atividades. Neste ano, o varejo amarga sete meses seguidos de queda nas vendas, segundo o IBGE. No ano, a retração é de 3,5%.
“Com a renda corroída pela inflação, desemprego e cenário político instável, há uma crise de confiança, e os números do varejo só tendem a piorar. Nossa expectativa é de queda real de 3% nas vendas este ano e as perspectivas também são ruins para 2016”, diz Claudio Felisoni, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar).
O setor de eletroeletrônicos e de eletrodomésticos tem sofrido mais. A Via Varejo, empresa do Grupo Pão de Açúcar e que administra Casas Bahia e Ponto Frio, teve prejuízo de R$ 46 milhões entre julho e setembro, contra lucro R$ 216 milhões 12 meses antes. As vendas no conceito mesma loja (sem contar as lojas novas) encolheram 24,6% apenas no terceiro trimestre.
“O fim do desconto no IPI para linha branca e móveis, e o gasto médio alto da Via Varejo, com o crédito caro, afastam os consumidores”, diz o analista Lenon Borges, da Ativa Investimentos. A Via Varejo fechou 31 lojas no terceiro trimestre e cortou 11 mil postos de trabalho este ano para reduzir custos.
Já o Magazine Luiza teve prejuízo de R$ 19,1 milhões no terceiro trimestre de 2015, contra um lucro de R$ 42,1 milhões em 2014.
Os analistas avaliam que o setor de alimentos é mais resistente à crise, mesmo assim a alta das vendas tem ficado abaixo da inflação. No Grupo Pão de Açúcar, as vendas no conceito mesma loja cresceram 3,3%, enquanto a inflação está próxima de 10%. As ações do Pão de Açúcar recuam 47% no ano.
No setor de vestuário, o prejuízo da rede Lojas Marisa aumentou 46,6% no terceiro trimestre. As perdas saltaram de R$ 18,4 milhões para R$ 27 milhões. A empresa anunciou o fechamento de lojas, fim da venda por catálogo e redução no programa de fidelidade. A empresa culpou a crise e disse que as medidas darão “um diferencial” para a companhia.
Já o lucro líquido da Hering foi a R$ 87,8 milhões, mas as vendas caíram 4,3% porque a empresa continuou desovando estoques de franqueados. No balanço, a empresa informou que encerrou o ajuste de estoque.
BRF segura preços para não perder mercado
A BRF, gigante do setor alimentício, teve lucro de R$ 877 milhões no terceiro trimestre. O número foi puxado pelo bom desempenho das unidades no exterior e pela alta do dólar. Para analistas, a divisão brasileira decepcionou com margens de ganho menores do que o esperado. A empresa não repassou o aumento de custos aos consumidores, em razão da crise econômica e de uma estratégia mais agressiva para reintroduzir no mercado a marca Perdigão. A BRF confirmou aos analistas, durante a teleconferência, que não vai aumentar os preços no quarto trimestre também por causa da concorrência com a Seara, marca da JBS. Desde a divulgação do balanço, em 30 de outubro, as ações da companhia caíram 16%.
“As vendas caíram 1,8% no Brasil. Como a BRF está reintroduzindo no mercado a marca Perdigão, optou por cortar margens e não reajustar preços. O mercado não gostou”, diz Bruno Piagentini, analista de Investimentos da Coinvalores.
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