Capital dos arranha-céus, Balneário Camboriú cresce o dobro do Brasil. Mas tem desafios

Oito dos dez maiores prédios do Brasil estão em Balneário Camboriú (veja lista ao fim desta reportagem), cidade de 140 mil habitantes “espremida” entre a BR-101 e o Oceano Atlântico, no Litoral Norte de Santa Catarina. Segundo menor município do estado em extensão, tem o metro quadrado mais caro e um dos mercados imobiliários mais dinâmicos do país. E desde o início do século cresce mais que o dobro do PIB nacional.

Dados da FipeZap+ relativos a agosto mostram que, em 12 meses, o preço médio dos imóveis residenciais aumentou 19,53% na cidade. É a segunda maior alta no país, atrás apenas da registrada na vizinha Itapema (+20,86%).

A valorização é impulsionada por imóveis de alto padrão e tem atraído o interesse de investidores famosos, como os jogadores de futebol Cristiano Ronaldo e Neymar; Falcão, craque do futsal; o treinador Abel Braga e Maurício Shogun, ex-lutador de UFC.

Os dois prédios mais altos são o One Tower, com 89 andares e 290 metros de altura, e as torres gêmeas do Yachthouse, com 81 pavimentos e 281 metros. Este último projeto é assinado por um dos principais escritórios de design do mundo, o italiano Pininfarina. Conta com heliponto particular e acesso direto à marina.

O preço médio do metro quadrado em Balneário Camboriú é de R$ 12,4 mil, o mais alto do país e 18% superior ao de São Paulo. Na avenida Atlântica, que fica à beira-mar, o metro quadrado pode chegar a R$ 32,5 mil em imóveis de alto padrão. Na avenida Brasil, uma quadra atrás da praia e que concentra parte do comércio local, o preço chega a R$ 17 mil.

Não há mais terrenos disponíveis à beira-mar. A última casa de madeira de frente para o Atlântico, localizada em um terreno de 286 metros quadrados, está prestes a ser demolida. Segundo consulta feita pelo portal BBC Brasil a um corretor local, o terreno e o imóvel podem ter custado entre R$ 15 milhões e R$ 18 milhões. Vai dar lugar a um prédio de 12 andares.

A FG Empreendimentos, uma das principais construtoras de arranha-céus e responsável pelo One Tower, tem planos ambiciosos para a cidade. Ela trabalha com quatro lançamentos para o próximo ano, com um valor geral de vendas de R$ 2,6 bilhões. Também está desenvolvendo o maior residencial do mundo, cujo projeto está em tramitação na prefeitura local.

“A cidade possui características que não atraem apenas investidores do país, mas também despertam o interesse no exterior. Com a localização estratégica, o perfil dos moradores vem se transformando, criando um novo eixo de negócios no país. De uma cidade que pulsava na temporada para uma localidade que tem atraído cada vez mais moradores em busca de qualidade de vida e segurança”, diz Jean Graciola, presidente da FG Empreendimentos.

Neste século, PIB de Balneário Camboriú cresce mais que o dobro do brasileiro

O mercado imobiliário e a construção civil são duas das alavancas do crescimento dessa cidade catarinense. O PIB da cidade cresceu a uma média de 4,7% ao ano entre 2002 e 2020, último dado disponibilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mesmo período, a economia brasileira cresceu 2% ao ano.

Segundo Bruno Cassola, corretor de imóveis de alto luxo e perito imobiliário, Balneário Camboriú se tornou uma cidade fora da curva. “Investimentos públicos e privados realizados nas últimas décadas colocaram o município em um patamar elevado de desenvolvimento”, diz.

Ranking divulgado em agosto pelo Centro de Liderança Pública (CLP) coloca Balneário Camboriú como o 13.º município mais competitivo do país entre os 410 que têm mais de 80 mil habitantes.

Os pontos fortes são qualidade da saúde (2.° lugar), saneamento (3.º), infraestrutura de telecomunicações (5.°), sustentabilidade fiscal (6.° lugar) e inserção econômica e funcionamento da máquina pública (15.°).

Os desafios de Balneário Camboriú

A capital brasileira dos arranha-céus também tem desafios pela frente. O forte adensamento populacional é motivo de preocupação para Rosana Silva dos Reis, professora de arquitetura e urbanismo da UniSociesc. A densidade demográfica em 2022 era de 3.078 habitantes por quilômetro quadrado, pouco menos da metade do índice de Hong Kong.

“É preciso pensar em estratégias para dinamizar o transporte coletivo", diz a professora. A cidade sofre com congestionamentos constantes durante o verão.

Outro alerta que ela faz é em relação a um processo de gentrificação, no qual áreas urbanas de baixa renda passam por revitalização e valorização, muitas vezes expulsando os residentes de baixa renda e substituindo-os por pessoas mais ricas, o que pode levar à transformação da identidade e cultura da comunidade.

A pesquisa do CLP aponta que, na esfera econômica, a cidade enfrenta problemas em relação ao capital humano e à inovação e dinamismo econômico.

O nível de qualificação dos trabalhadores de Balneário Camboriú é apenas o 264.º da lista de 410 cidades brasileiras com mais de 80 mil habitantes. Nesse quesito, a cidade perdeu 19 posições em relação ao relatório do ano passado.

O PIB per capita era de R$ 42,6 mil em 2020, o que colocava a cidade na 884.ª posição entre todos os municípios brasileiros, de acordo com dados do IBGE. Em termos de crescimento, tinha a 261.ª posição entre as cidades pesquisadas pela CLP.

Conforme o mesmo levantamento, o acesso à saúde (168.° lugar) e a qualidade na educação (241.°) são dois aspectos desafiadores para a cidade no âmbito social. A cobertura da atenção primária perdeu 30 posições no levantamento divulgado em agosto, passando para a 206.ª posição. E a vacinação caiu para a 265.ª, uma queda de 158 lugares.

O pior desempenho no pilar educacional está na nota do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) do ensino médio. A cidade é apenas a 331.ª posição entre as 410 com mais de 80 mil habitantes no que diz respeito à taxa de rendimento escolar e ao desempenho dos estudantes em avaliações de língua portuguesa e matemática.

Os prédios mais altos do Brasil