Montanha-russa no Beto Carrero World, em Penha, Litoral Norte de Santa Catarina: cidades da região ganham destaque para investimentos imobiliários.| Foto: Renato Soares/MTur
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Descer para BC? Sim, mas não só. Barra Velha, Penha, Balneário Piçarras e Porto Belo estão se tornando a "bola da vez" dos investimentos em imóveis no Litoral Norte de Santa Catarina. Um dos trunfos são os preços, mais acessíveis que em Balneário Camboriú, Itajaí e Itapema – três das quatro cidades com o metro quadrado residencial mais caro do país, segundo levantamento feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para a Zap Imóveis.

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A combinação de mais turistas e economia aquecida na região favorece negócios nos segmentos de construção. Outro segmento que está interessado nessa região é o hoteleiro.

Além do turismo, vocação tradicional da região, o trecho Norte da BR-101 em Santa Catarina tem se tornado um importante polo de desenvolvimento, concentrando empresas de diversos segmentos. "Isso gera um fluxo constante de viajantes a negócios”, diz Abel Castro, responsável pelo desenvolvimento da Accor nas Américas para os segmentos premium, midscale e econômico.

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Porto Belo e Balneário Piçarras se destacam em imóveis de médio e alto padrão

Segundo levantamento realizado por Sienge, CVCRM e Prospecta, em parceria com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Porto Belo está se destacando no mercado de médio padrão (imóveis entre R$ 575 mil e R$ 811 mil, para renda familiar entre R$ 12 mil e R$ 24 mil).

Entre o segundo e o terceiro trimestres de 2024, ela subiu do 17.º para o 7.º lugar em atratividade para negócios imobiliários. Foi a segunda cidade brasileira, e a primeira não capital, que mais avançou no ranking.

Balneário Piçarras, enquanto isso, se destaca no segmento de alto padrão, formado por imóveis acima de R$ 811 mil para famílias com renda superior a R$ 24 mil por mês. A cidade ocupa o sexto lugar no Brasil e lidera entre as não capitais nesse segmento.

Barra Velha também registra crescimento no segmento imobiliário. Entre os censos de 2010 e 2022, sua população aumentou a uma média de 6,1% ao ano, a sétima maior taxa do país, segundo o IBGE.

Região tem preços mais competitivos que Balneário Camboriú

Construtoras como a Rôgga, de Joinville, estão fazendo de cidades como Barra Velha, Piçarras e Penha o seu carro-chefe de negócios. Um dos argumentos é de que os preços de imóveis novos, especialmente os que estão à beira-mar, são muito mais competitivos que os de Balneário Camboriú, Itajaí e Itapema.

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“São um quarto, um terço do valor do metro quadrado ou do ticket que você encontra nessas outras praças que já são mais consolidadas", diz o diretor comercial da construtora, Thales de Souza Silva.

O metro quadrado de um empreendimento à beira-mar na praia Brava, em Itajaí, chega a custar cerca de R$ 100 mil. Os valores podem ser ainda maiores em Balneário Camboriú, onde não há mais disponibilidade de terrenos à beira-mar. Construtoras da cidade estão demolindo prédios antigos para construir novos.

Outros fator que contibui é o geográfico. O executivo afirma que essas cidades estão em uma localização estratégica, entre Curitiba e Florianópolis e bem perto dos principais polos econômicos catarinenses, como Joinville, Jaraguá do Sul e Blumenau.

Silva lembra que Barra Velha, Balneário Piçarras e Penha estão às margens da BR-101 e antes de um dos grandes principais gargalos da rodovia, que é o trecho que vai do entroncamento com a BR-470, em Navegantes, até Florianópolis.

A proximidade do Beto Carrero World, um dos maiores e mais movimentados parques temáticos da América Latina e que está localizado em Penha, também é um importante “cartão de visita” para os negócios. O parque recebeu mais de 3 milhões de visitantes em 2024.

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“É um grande puxador de turismo para a região, fazendo com que vários investidores queiram ter também apartamentos próximo do parque para que consigam ter uma boa rentabilidade de seus investimentos, não somente com a valorização do imóvel, mas também com o ganho no short stay (locação de curta temporada)", afirma o executivo da Rôgga.

Outro trunfo, apontado pelo especialista em mercado imobiliário de alto padrão Renato Monteiro, CEO da Sort Investimentos, é o fácil acesso por via aérea de alguns das principais cidades brasileiras: “Estamos a menos de duas horas por meio de voos diretos”. Há pelo menos quatro aeroportos próximos ao Litoral Norte Catarinense: Curitiba, Joinville, Navegantes e Florianópolis.

A balneabilidade das praias é outro ponto que também conta a favor das cidades ao norte de Itajaí. “É algo que a praia Central em Balneário Camboriú não oferece”, diz Monteiro. O executivo da Rôgga diz que essa questão também é um chamariz que atrai compradores, especialmente aqueles que valorizam a preservação ambiental e a qualidade de vida.

Planos para hotelaria estão no radar de grandes grupos

O momento não é só para os empreendimentos residenciais na região. Iniciativas no segmento hoteleiro também estão em alta. Uma das iniciativas na região é a construção de um complexo turístico, o Amazon Parques & Resorts, em Penha. O empreendimento, que terá uma temática amazônica, deverá entrar em operação no fim de 2026.

O parque deverá ter 28 mil metros quadrados de área construída. Serão três torres com aproximadamente 200 apartamentos, que funcionarão em regime de multipropriedade e terão 420 leitos. Uma das torres já está na sexta laje, outra na segunda e a terceira, na primeira.

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Serão mais de 9 mil metros quadrados de área de lazer, incluindo piscinas, brinquedos aquáticos, trilha ecológica, quadras de beach tênis e bosque com tirolesa e arvorismo. O projeto segue os padrões da Wyndham Hotels & Resorts, uma das maiores empresas de hotelaria dos Estados Unidos e uma das maiores franqueadoras do ramo no mundo.

Segundo o diretor de operações do Amazon Parques, Márcio Piccoli, o público-alvo do investimento são famílias que buscam um produto voltado para o lazer e o bem-estar. “Não é só para obter retorno financeiro”, comenta.

Quem também está interessada em ampliar sua presença no Litoral Norte de Santa Catarina é a rede francesa de hotéis Accor, um dos maiores grupos do segmento no mundo. Com hotéis em Itajaí e Balneário, o próximo passo é instalar uma unidade da bandeira Ibis Sytles em Barra Velha. Ainda não há previsão para a chegada do empreendimento, que terá 80 quartos.

Segundo Abel Castro, da Accor, Barra Velha é uma cidade com forte demanda de lazer e que vem crescendo também com demandas de negócios de serviços com a chegada de indústrias à região

O executivo lembra que o Litoral Norte catarinense é conhecido por suas belas praias e paisagens naturais que atraem turistas de diversos lugares do Brasil e de países próximos como Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. “Isso impulsiona a demanda por hospedagens na região.”

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Ele também ressalta que Balneário Camboriú tem se consolidado como um dos principais polos turísticos e de negócios do Brasil. Além do turismo de lazer, a inauguração do novo centro de convenções da cidade fortalece o turismo de eventos e corporativo, atraindo congressos e feiras de grande porte.

Balneário Camboriú serve de exemplo para desafios a serem superados

Piccoli, que também é presidente da Associação Empresarial de Penha, diz que, apesar da resistência de alguns moradores, há um impacto positivo com a chegada de empreendimentos imobiliários à cidade. “Há 10, 15 anos não tínhamos lançamentos. Hoje o dinheiro circula mais, tanto na execução quanto na utilização desses produtos imobiliários.”

Os especialistas apontam, entretanto, que o processo de verticalização vetificado nas cidades ao Norte de Itajaí e maior crescimento populacional impõe desafios às cidades do entorno de Balneário Camboriú, Itajaí e Itapema.

“É preciso pensar muito no planejamento urbano, para evitar os problemas que ocorrem em Balneário Camboriu”, diz Piccoli. Ele destaca que um dos caminhos é estar em sintonia com o poder público para discutir as necessidades da cidade.

Um dos pontos de preocupação é com a BR-101, que já se mostra saturada, especialmente na temporada. O dirigente empresarial lembra que vários canais estão sendo utilizados para tentar solucionar o problema, como ações conjuntas com a Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc) e maior interação com deputados.

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Uma alternativa para tentar contornar o problema na rodovia federal que corta o litoral catarinense é a construção de uma paralela a ela, pelo menos, no Norte do estado. A expectativa é de um investimento de R$ 7 bilhões para construir 145 quilômetros entre Joinville e Biguaçu, na Grande Florianópolis.

As ordens de serviço dos projetos executivos de quatro dos cinco lotes foram assinadas no fim de outubro e a previsão é de que sejam concluídos entre 18 e 24 meses.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]