O Banco Central já começa a discutir internamente quais são os benefícios e as perdas de assumir o mais rapidamente possível que a inflação só vai para o centro da meta, de 4,5% ao ano, em 2017.
O tema já tem sido comentado nos últimos meses entre analistas do mercado financeiro, mas agora começou a fazer parte de encontros entre diretores do banco, conforme a Agência Estado.
Oficialmente, o BC nega que essas discussões estejam ocorrendo. O assunto, no entanto, já foi pauta em reuniões reservadas de alguns diretores.
Com a perspectiva de que o BC não mexerá na taxa básica de juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que será realizada nesta semana, essa postergação do cumprimento da meta possivelmente será debatida com todos os membros da diretoria neste encontro.
Até agora, o Banco Central insiste que o IPCA, o índice oficial de inflação, convergirá para o centro da meta no final de 2016. Mas os analistas do mercado dão esse fato como improvável.
O que o BC tem de pesar agora é o quanto poderá afetar sua credibilidade se mais uma vez insistir em um discurso de cumprimento da meta no ano que vem, quando os agentes não confiam mais nessa possibilidade.
O melhor, apontam alguns analistas, é o Banco Central assumir mais uma vez que o alvo não será atingido e focar no cenário mais plausível, que é o de 2017. Isso, alertam alguns especialistas, é bom que seja feito o quanto antes.
Sem folga
A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, defende que tal decisão por parte do BC deveria ser tomada já. “Não é para deixar para a virada do ano”, diz ela, acrescentando que a folga que o Banco Central tem para ancorar as expectativas é muito estreita.
Para a economista, o BC deveria postergar a convergência inflacionária para 2017 deixando claro, obviamente, que se algum choque surgir ao longo de 2016, ameaçando a meta no ano seguinte, pode agir.
Até meados deste ano, o BC vinha conseguindo levar as expectativas do mercado para mais perto do centro da meta em 2016, mas já tinha ancorado as expectativas para os anos seguintes.
Nas últimas semanas, o que se tem visto, no entanto, é uma descrença generalizada do mercado de que o BC conseguirá esse feito. O ponto da virada foi a questão fiscal.
Um fator que ilustra bem essa questão é o resultado do Top 5 da última pesquisa Focus. Pela primeira vez, os analistas que mais acertam as projeções, cravaram que a inflação de 2016 ficará acima do teto de 6,5%. Para o grupo formado por cinco instituições, o IPCA encerrará o ano que vem em 6,72%.
No mesmo boletim, a expectativa geral estava em 6,05%. Pode ser uma questão de tempo a convergência do levantamento geral para esse patamar mais elevado.
Além disso, a avaliação de que a alta dos preços administrados se restringiria a 2015 não parece ser mais o cenário base do mercado e nem do BC. Havia uma expectativa de redução dos preços da conta de luz, por exemplo, que já tem sido deixada de lado.
Além disso, aumentaram as chances de a Petrobras anunciar um novo reajuste dos preços dos combustíveis no ano que vem. Até por conta dessas novas informações, a expectativa para o conjunto desses preços de 2016 na Focus subiu de 5,88% para 6,27% em apenas um mês.
Como o BC vinha comunicando, a tarefa da autoridade monetária este ano era a de tentar circunscrever a 2015 os efeitos secundários desse realinhamento de preços. Não só dos administrados, mas também do câmbio.
Mesmo que o BC bata na tecla de que o repasse do dólar para o IPCA está menor, a elevação da moeda americana este ano está em 44%.
A grande questão que praticamente tira o poder de fogo do Copom é a área fiscal. Por isso, até ressurgiu no mundo acadêmico o debate sobre a possibilidade de o Brasil estar em meio a um processo de dominância fiscal. O BC nega que isso esteja ocorrendo.
De qualquer forma, mesmo com a inflação em alta, não se encontra um agente financeiro que acredite em mais uma elevação da taxa básica de juros. O consenso para o encontro desta semana é de estabilidade em 14,25% ao ano.
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