Depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defender publicamente uma inflação maior e os três ministros da área não conseguirem se entender sobre o assunto, o governo optou por uma saída ambígua: fixou dois números. Seguindo a vontade de Lula, o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu que a meta de inflação para 2009 será de 4,5% (o mesmo patamar atual), mas o Banco Central deverá atuar mirando em 4%.
Em 2006, a inflação oficial (IPCA) ficou em 3,14%. Com a decisão, o governo quer, por um lado, evitar que uma meta oficial mais baixa leve o BC a apertar sua política monetária no fim do segundo mandato de Lula caso se materializem algumas previsões de um cenário internacional pior.
Por outro, autorizou o Banco Central a perseguir uma inflação abaixo da meta, o que já ocorre hoje. Sinaliza que aceita uma inflação na casa dos 4% em 2010 e enterrou de vez uma taxa mais próxima de 3%.
Esse foi o "consenso'' inédito, destacado pelos três ministros do CMN Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e Henrique Meirelles (BC) para rebater insinuações de disputa nos bastidores. Mas a troca de afagos públicos não esconde as divergências. Até então, durante crises no mercado financeiro, o governo usou uma meta ajustada para substituir a original, mas nunca trabalhou com duas simultâneas.
Mantega, que convenceu Lula de que 4,5% era o melhor patamar de inflação para o Brasil, anunciou a meta para 2009 justificando que ele era fruto do sucesso no controle da inflação. Em seguida, com menos ênfase, lembrou que em 2006 o índice ficou abaixo da meta, que neste ano isso deve se repetir e que caberá ao BC, "sempre que possível, produzir inflação até abaixo do centro da meta''.
Os que defendiam uma queda da meta lembram que, no ano passado, pela primeira vez em nove anos, o IPCA ficou abaixo do objetivo perseguido pelo BC, fechando o ano em 3,14%. "Temos uma demanda comportada, não há choque de oferta e os investimentos crescem. Não há perigo de descontrole da inflação", diz Carlos Magno Bittencourt, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-PR).
Carlos Cleto, professor de Macroeconomia da Unifae, acredita que uma queda na meta reduziria ou mesmo interromperia o ritmo de queda da Selic, uma vez que o BC usa a taxa básica de juros para segurar a demanda e evitar pressões inflacionárias. "Se com um objetivo de 4,5% já temos a maior taxa de juros do mundo, com uma redução na meta o espaço para a queda da Selic ficaria ainda menor."
"Com essa meta, fica mais fácil para o Banco Central administrar a inflação", avalia o economista Luiz Afonso Cerqueira, membro do conselho consultivo do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-PR). "A preocupação do Mantega era justamente que, se o objetivo fosse diminuído, o Banco Central tivesse menos espaço para limitar o efeito de eventuais flutuações dos preços, como as causadas por quebra de safra."