O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central destacou a "resiliência" da atividade econômica e o aumento das expectativas de inflação entre as razões para interromper a queda da taxa básica de juros. E avisou que futuros ajustes na Selic serão ditados pelo "firme compromisso de convergência da inflação à meta". Os comentários constam da ata da última reunião, divulgada nesta terça-feira (25).
Na semana passada, os membros do colegiado decidiram, por unanimidade, manter a Selic em 10,5% ao ano. A decisão foi criticada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Apesar da votação unânime, ela culpou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e a imprensa pela interrupção no ciclo de redução dos juros.
Na ata publicada nesta terça, o Copom afirma mais de uma vez que o desempenho da economia tem superado as expectativas do colegiado. A "desancoragem" das expectativas de inflação – isto é, o aumento da distância entre as projeções e a meta – também é citada várias vezes.
"No que se refere ao cenário doméstico, o mercado de trabalho e a atividade econômica, em particular o consumo das famílias, têm surpreendido e divergido do cenário de desaceleração previsto. Além disso, houve nova elevação das projeções de inflação tanto para 2024 quanto para 2025", diz trecho da ata.
Os membros do comitê afirmam que reduzir as expectativas de inflação "requer uma atuação firme da autoridade monetária", mas não só. Em recado ao governo, defendem que também é necessário "o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira".
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou a ata do Copom em conversa rápida com jornalistas nesta manhã. "[A ata] transmite a ideia de que está havendo uma interrupção para avaliar cenário interno e externo, para que o Copom fique à vontade para tomar decisões a partir de novos dados", disse.
Para o economista-chefe da corretora XP, Caio Megale, a ata sugere um cenário de taxa Selic estável em 10,5% "por um longo período". Mas ele destaca que o Copom "está ficando mais preocupado" com as perspectivas de inflação.
O Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco disse, em nota, acreditar que "o firme compromisso do Copom com a meta de inflação de 3% vai dar resultado". O banco prevê uma pausa longa na queda dos juros: "Projetamos inflação do IPCA em 3,1% no ano de 2025, abrindo espaço para retomar o ciclo de afrouxamento monetário no segundo semestre do ano que vem".
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