O Banco Central voltou a subir nesta quarta-feira (28), durante reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da instituição, os juros básicos da economia brasileira. A taxa avançou 0,75 ponto percentual, passando de 8,75% ao ano, a menor já registrada até o momento, para 9,5% ao ano.É a primeira elevação dos juros em 19 meses. A última subida havia ocorrido em setembro de 2008, poucos dias antes do anúncio de concordata do banco norte-americano Lehman Brothers, que deu início à fase mais aguda da crise financeira internacional - que espalhou a recessão pelo planeta. Desde então, os juros haviam ficado estáveis, ou recuado para tentar conter os efeitos da crise no crescimento do país.
A expectativa do mercado financeiro é de que esse seja apenas o início de um ciclo de subida nos juros básicos do país. A previsão dos economistas é de que a taxa continue avançando nos próximos meses, e que atinja o patamar de 11,75% ao ano ao final de 2010.
Porque os juros sobem
O objetivo do BC ao subir os juros é conter pressões inflacionárias e buscar com que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), que serve de referência para o sistema de metas de inflação, não suba muito. Para este ano, e para 2010, a meta central é de 4,5%. Ao subir os juros, o BC atua para conter a demanda por produtos e serviços e, com isso, para tentar impedir o crescimento dos preços.
A subida de juros já era amplamente esperada pelo mercado financeiro. A dúvida era somente qual seria a intensidade da elevação. Na semana passada, a maioria do mercado apostou que o aumento seria de 0,5 ponto percentual, para 9,25% ao ano. Nesta semana, porém, grande parte dos analistas já passaram a acreditar em um crescimento maior: de 0,75 ponto percentual, para 9,5% ao ano. Alguns chegaram até projetar um aumento de um ponto percentual, para 9,75% ao ano.
Ao fim do encontro desta quarta-feira, o BC divulgou a seguinte frase: "Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias ao cenário prospectivo da economia, para assegurar a convergência da inflação à trajetória de metas, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 9,50% a.a., sem viés".
Críticas ao BC
A elevação acontece em um momento de fortes críticas de economistas ao Banco Central. A reclamação é de que a autoridade monetária teria sido leniente na busca da meta central de inflação deste ano. Em seu último encontro, em março, o BC já previa um IPCA de 5,2% para este ano, para uma meta central de 4,5% em 2010, e, mesmo assim, manteve a taxa básica estável em 8,75% ao ano.
Naquele momento, ainda não havia clareza sobre a possível candidatura do comandante da instituição, Henrique Meirelles, nas próximas eleições. A definição aconteceu somente no início deste mês, quando Meirelles anunciou que permanecerá no comando do Banco Central até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
As críticas motivaram resposta presidente do BC. Nesta terça-feira (27), mesmo dia em que teve início a reunião do Copom, Meirelles afirmou que não houve mudança de orientação da autoridade monetária por não ter subido os juros em março.
"O Banco Central não precisa provar nada a ninguém (...) Estamos administrando o sucesso, uma situação não usual. Buscam-se motivações negativas de um lado ou outro, de 'movitação politica, ou para recuperar credibilidade'. Quando, na realidade, a credibilidade do BC é reconhecida internacionalmente", afirmou ele na ocasião.
Reflexos do aumento de juros
Com a subida dos juros para tentar conter a inflação, as taxas cobradas dos clientes bancários também podem avançar. Desde setembro do ano passado, quando o BC começou a manifestar uma preocupação maior com a inflação, a taxa de captação dos bancos já avançou 0,7 ponto percentual. Os aumentos da taxa básica da economia devem gerar novos aumentos no custo de captação dos bancos, que poderão ser repassados aos juros cobrados dos clientes bancários.
Além disso, a subida da taxa de juros também terá, segundo economistas, outros reflexos na economia brasileira. Um deles pode ser uma entrada maior de recursos no país, que viriam em busca de uma remuneração melhor, gerando uma queda do dólar.
Mesmo em 8,75% ao ano, os juros reais brasileiros (após o abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses), já eram os maiores do mundo. Com a elevação desta quarta-feira, o país dispara na liderança do ranking mundial de juros reais. Segundo cálculos da consultoria UpTrend, os juros reais, com a elevação feita pelo Copom nesta quarta-feira, passam para 4,5% ao ano, contra 3% ao ano do segundo colocado (Indonésia).
"Esse aumento de juros, e os outros que devem vir em seguida neste ano, pode gerar uma entrada maior de capitais e o câmbio pode se apreciar [dólar caindo] um pouco. Mas deve ter alguma volatilidade [para cima] nas eleições, por conta de declarações que podem gerar incertezas, o que deve contrabalançar um pouco esse movimento", avaliou o economista da Tendências, Bernardo Wjumiski.
Impacto na dívida pública
Outro reflexo da subida de juros é o seu impacto nas contas públicas. Atualmente, o volume de títulos públicos em mercado corrigidos pela taxa básica de juros está em R$ 500 bilhões. Se sobe a taxa básica de juros, o governo também tem de pagar uma remuneração maior aos detentores destes papéis.
Se mantido pelos próximos 12 meses, esse aumento de 0,75 ponto percentual nos juros, para 9,25% ao ano, vai gerar um gasto a mais de R$ 3,75 bilhões para o governo. E se for confirmada a expectativa do mercado financeiro de elevação de 3 pontos percentuais nos juros até o fim deste ano, para 11,75% ao ano, o impacto total do ciclo de aumento, nas contas públicas, será maior ainda: de R$ 15 bilhões em doze meses.