Em mais uma tentativa de amenizar os efeitos da crise financeira internacional, o Banco Central aprovou nova operação que libera parte dos depósitos compulsórios e direciona os recursos para a compra de papéis emitidos pelos pequenos e médios bancos. A intenção é oferecer dinheiro para as instituições de menor porte que têm enfrentado dificuldade em meio à escassez de recursos no mercado. Podem ser liberados até R$ 6 bilhões.
A ajuda será dada por meio do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Mensalmente, todos os bancos têm de fazer depósitos nesse fundo. O FGC é administrado pelo próprio mercado e tem como objetivo garantir o dinheiro de clientes em caso de problema de caixa nas instituições financeiras.
Esse seguro garante até R$ 60 mil por cliente. A partir de agora, bancos sobretudo os grandes, que têm recursos disponíveis poderão antecipar o pagamento de 60 parcelas ao FGC. Se fizerem o pagamento, o Banco Central libera valor idêntico do compulsório sobre os depósitos à vista. O compulsório é a parte do dinheiro dos clientes que as instituições financeiras são obrigadas a recolher ao BC. Com o dinheiro antecipado, o FGC poderá comprar títulos emitidos por bancos que eventualmente tenham problema de caixa.
Escassez
Mesmo com o esforço do governo federal em abrir as torneiras do compulsório, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu ontem que o sistema de crédito ainda não foi normalizado na economia brasileira. Mantega e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, se reuniram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para darem um panorama da crise no Brasil e no mundo, como a dificuldade de fluidez do crédito no país e a situação da economia internacional.
Mantega afirmou que há problemas na concessão de crédito a exportadores, para financiar capital de giro de empresas, no setor agrícola e para o consumo de bens duráveis e imóveis. O ministro da Fazenda disse que a situação é preocupante, mas em seguida afirmou que o Banco Central tem adotado medidas de flexibilização do compulsório para "irrigar" o mercado de crédito (veja box nesta página). Ele afirmou que, se isso ainda não ajudou a destravar o crédito, a justificativa está no fato de que algumas decisões "demoram um pouco" para surtir efeito.
Sobre o crédito aos consumidores, o ministro da Fazenda afirmou que o "travamento" inicial já foi atacado. "Houve uma redução momentânea do crédito, o que está sendo sanado pelo governo. Sabemos que houve uma redução drástica, um travamento, mas há uma recomposição desse crédito. Os bancos estão operando com 70% a 80% dos créditos de que dispunham antes", afirmou o ministro.
Ele lembrou que a oferta de financiamentos havia se expandido com força nos últimos anos e que o sistema não retornará àqueles patamares. "O crédito tinha crescido de forma grande, então havia uma gordura. A tendência é a da recomposição [do crédito] para o setor agrícola, imobiliário, para capital de giro e ACCs", disse.