O aumento nas provisões para perdas com calotes, mesmo com a inadimplência estável, pressionou o lucro do segundo trimestre do Banco do Brasil, que acelerou as operações de crédito, tendência que deve pressionar suas margens na segunda metade do ano.
A maior instituição financeira da América Latina anunciou na manhã desta terça-feira (14) que teve lucro líquido de R$ 3,008 bilhões entre abril e junho, uma queda de 9,7 por cento ante um ano antes. Em termos ajustados, o BB fechou o período com lucro de R$ 2,986 bilhões, acima da estimativa média de analistas consultados pela Reuters, de ganho de 2,767 bilhões de reais.
Esse desempenho acima das expectativas foi explicado em parte pela forte expansão das operações de crédito, seguindo a orientação do governo federal de que os bancos ampliassem a oferta de empréstimos para conter a desaceleração da economia.
Numa base sequencial, a carteira de crédito ampliada saltou 7,5 por cento, para 508,18 bilhões de reais. Em doze meses, o aumento foi de 20,3 por cento. É um ritmo bastante superior ao de seus concorrentes privados, como Itaú Unibanco e Bradesco, que inclusive reduziram suas previsões para crescimento de suas carteiras em 2012.
O BB, a exemplo do também estatal Caixa Econômica Federal, está indo na mão contrária e prevê que pode superar a previsão inicial para alta do seu estoque de financiamentos no ano, de 17 a 21 por cento.
"Com certeza, o segundo semestre vai ser melhor do que o primeiro", disse a jornalistas nesta terça-feira o presidente-executivo do BB, Aldemir Bendine.
Pelo menos por enquanto, o banco conseguiu manter esse desempenho sem piorar a qualidade da carteira, já que o seu nível de inadimplência no trimestre ficou em 2,15 por cento, pouco acima dos 2 por cento de um ano antes, mas praticamente estável ante os 2,2 por cento do final do primeiro quarto do ano.
De todo modo, o banco elevou em 20,7 por cento o volume de provisões com perdas com crédito, na comparação anual, para 3,677 bilhões de reais. Segundo Bendine, o movimento foi pontual e a tendência para os próximos trimestres é de queda, já que indicadores antecedentes apontam que a inadimplência pode cair.
Por isso mesmo, o BB prevê acelerar ainda mais a concessão de empréstimos, e reduzir os spreads, o que trará um efeito negativo sobre a lucratividade da instituição.
Retorno pressionado
A perspectiva de retorno sobre patrimônio líquido ajustado passou da faixa de 19 a 22 por cento para 17 a 20 por cento. "Vai ter um acirramento da concorrência, o que vai impactar o resultado dos bancos", disse Bendine.
Além disso, a perspectiva de 2012 para o crescimento da margem financeira bruta, a diferença entre os juros cobrados dos tomadores de empréstimos e os juros que remuneram depósitos, caiu de 11 a 15 por cento para 10 a 14 por cento.
Se confirmada essa previsão, o banco terá revertido a tendência vista no segundo trimestre, quando a margem bruta do banco avançou 16,4 por cento sobre um ano antes, para 11,858 bilhões de reais.
Às 14h18, as ações do Banco do Brasil exibiam queda de 2,9 por cento, a 22,74 reais, enquanto o Ibovespa operava praticamente estável, com oscilação positiva de 0,09 por cento.
Apesar do movimento de pressão do governo para a redução dos juros do setor bancário, o spread de operações de crédito do BB fechou o trimestre em 9,2 por cento, ante 8,6 por cento no mesmo período de 2011 e 8,9 por cento no primeiro trimestre.
"Incertezas continuam sobre as implicações da discussão de spread para o Banco do Brasil, enquanto a qualidade de ativos parece estar agora se estabilizando (ou mesmo melhorando)", afirmaram analistas do Barclays em relatório.
Os ativos do banco alcançaram 1,05 trilhão de reais ao fim do primeiro semestre, avanço de 16,3 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior.
Os resultados do Banco do Brasil fecham a temporada de resultados dos grandes bancos de capital aberto do país, após as divulgações de Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil, que também foram impactados por aumento de provisões para perdas com crédito e alta na inadimplência.
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