Após ter se firmado como a maior instituição financeira do país, o Banco do Brasil agora prepara uma ofensiva internacional que passará pela entrada no varejo bancário em vários países da América Latina e nos Estados Unidos, segundo o presidente da instituição.
"Vamos fazer um movimento de internacionalização em alguns países com aquisições ou com o modelo orgânico", disse o presidente-executivo do BB, Aldemir Bendine, em entrevista à Reuters no início da noite de quinta-feira.
O BB aguarda a aprovação do Federal Reserve (o banco central norte-americano) para iniciar suas operações nos EUA. Dois caminhos para atingir esse objetivo estão sendo estudados.
O primeiro é a montagem de uma estrutura própria, com abertura de agências nas cidades mais povoadas por brasileiros --como Flórida, Nova Jersey e Massachussets.
O outro, o mais provável, seria a compra da unidade naquele país de algum banco europeu que esteja pensando em deixar os EUA, em função dos efeitos da crise.
"De repente, via aquisição você pode sair com uma estrutura pronta", afirmou. "Isso poderia até apressar a aprovação da nossa entrada pelo governo norte-americano."
Já na América Latina, o foco são as maiores economias da região além do Brasil, notadamente Argentina e Chile, mas pode se estender também para Peru e Colômbia. O banco também faz planos de entrar em Portugal, Moçambique e Angola.
"Nesses mercados, independentemente de ter brasileiros lá nos interessa ter operações de varejo. Temos condições de entrar com diferenciais tecnológicos", disse.
Enquanto não obtém aval para entrar no varejo de outros países, o BB vem trabalhando em outras frentes. Numa, finaliza a reestruturação de suas atuais atividades no exterior, incluindo a unificação das operações europeias numa holding com sede em Viena, o que deve acontecer até abril.
Em outro flanco, começa a distribuir produtos de investimento a clientes ao redor do mundo. Uma das investidas prestes a ser concluída é o levantamento de um fundo de agronegócio de quase 1 bilhão de reais, que tem como principais compradores grandes investidores árabes. Outros fundos com perfil parecido devem ser lançados em breve para venda também a investidores chineses.
"Vai ter uma explosão enorme desse mercado que é especialmente atrativo lá fora", disse Bendine, projetando que as atividades internacionais respondam por cerca de 10 por cento da receita do banco "num futuro próximo".
ADR em 2 de dezembro
Visando justamente a ganhar maior visibilidade internacional, o BB passará a negociar American Depositary Receipts (ADRs) de nível 1 no mercado acionário norte-americano a partir de 2 de dezembro, contou Bendine.
No plano doméstico, o principal desafio do banco para o curto prazo é elevar os níveis de capitalização, que foram apertados nos últimos meses com a compra do controle da Nossa Caixa e de metade do Banco Votorantim, e precisam ser reforçados para suportar o ritmo de expansão do crédito (acima de 30 por cento ao ano).
"O nível de capital do banco hoje está inadequado. As conversas com o sócio controlador já se iniciaram", afirmou Bendine.
O índice de Basileia do BB hoje está em 13,9 por cento, pouco acima do piso de 11 por cento exigido pelo BC. O banco deseja elevar esse indicador para patamares próximos aos dos grandes bancos privados, acima de 15 por cento.
O plano deve incluir a oferta primária de ações e a emissão de novas tranches de dívida subordinada. Uma emissão de ADRs de nível 2 não está no radar agora, disse.
Operacionalmente, a meta é elevar a rentabilização dos ativos. Em outra palavras: cobrar das agências a venda de mais produtos financeiros aos clientes, como seguros e cartões de crédito.
Enquanto costura os detalhes finais para concluir a reorganização do BB no ramo de seguros, o banco já começa a fazer planos de aquisições em outros segmentos no Brasil.
"Temos espaço para avançar em corretoras (de valores) e em asset management", afirmou. "Temos também grande oportunidade no segmento de seguro odontológico."