Contra o calote, educação. Essa é a aposta de pelo menos cinco bancos e financeiras HSBC, Itaú, Banco do Brasil, ABN Amro Real e CitiFinancial , que criaram programas para ensinar seus clientes a evitar dívidas e guardar dinheiro. A lição é óbvia: o brasileiro precisa colocar seu orçamento no papel e fazer uma reserva. Em meio ao texto, claro, os bancos oferecem ao cliente os seus serviços.
A cartilha do HSBC sugere o uso do débito automático e do atendimento via telefone, internet e caixas automáticos que servem para descongestionar o caixa convencional. Foram distribuídos 20 mil exemplares para o público externo. "Queremos que o cliente use as linhas de crédito de maneira positiva e momentânea. E principalmente que ele tome a quantia que caiba no bolso e devolva o dinheiro para a empresa", diz o executivo do HSBC, João Cereda.
A cartilha do Itaú ensina que "o crédito antecipa um sonho, mas só é bom se melhorar a qualidade de vida e couber no orçamento". O texto também dá dicas de como cortar despesas, ensina a ler contratos e a conversar com credores.
As dicas, no entanto, são claramente de quem atua do lado de lá do balcão do crédito. "Em caso de atraso no pagamento, a instituição financeira não é obrigada a renegociar a dívida."
A mais detalhada das cartilhas é a do ABN Amro Real. Ela procura orientar o cliente a traçar seus objetivos, abordando a importância de questões como idade, prazos e sonhos. "É normal que o empenho (em se planejar) seja maior no início. Empolgue-se com sua decisão."
A cartilha também ensina a calcular gastos, o passo-a-passo dos investimentos e modalidades de cartões. É grande a ênfase no relacionamento com o banco. O Real sugere ao cliente, por exemplo, anotar o telefone do gerente na agenda, para emergências, manter conversas freqüentes e tentar diminuir os custos da conta. "Dependendo do relacionamento com seu gerente, você pode até ter isenção de mensalidade."
O consultor financeiro Gustavo Cerbasi, autor do livro "Casais inteligentes enriquecem juntos", participou da elaboração de cinco cartilhas de banco. Para ele, trata-se de uma resposta às críticas de altas tarifas e juros. Como prestadoras de serviços, as instituições financeiras estão interessadas em maximizar os resultados e para isso o cliente precisa saber o que está fazendo com seu dinheiro. "O cliente mais exigente fará melhor proveito dos serviços do banco quanto mais conhecimento tiver."
Já o economista Gerson Lima, professor da Facinter, considera a edição de cartilhas educativas uma forte ação de marketing, mas de fraca eficácia. "Os bancos distribuem o material para agradar clientes que têm dinheiro aplicado, ou seja, que já se planejam." O consultor financeiro pessoal Raphael Cordeiro discorda dessa visão. "Muitas pessoas de alta renda não colocam no papel seu orçamento doméstico."