O FMI não está sozinho na corrida pela organização do sistema financeiro. A reação orquestrada pelos bancos centrais das maiores nações do mundo foi mais rápida e objetiva do que qualquer pacote já apresentado pelo Fundo. Em poucos dias, BCs de uma dúzia de países e da União Européia reduziram as taxas de juros, empurraram centenas de bilhões de dólares para dar liquidez aos bancos e convergiram suas políticas para um modelo de salvamento que inclui a compra de participação de bancos em dificuldades.
Diz Emílio Garófalo, consultor da EBS e ex-diretor do BC: "Os bancos centrais são mais simplificados, deixam o FMI parecendo uma entidade da idade da pedra. O Brasil, por exemplo, conseguiu uma linha de crédito com o Fed [banco central dos EUA] antes de conversar com o Fundo. Talvez a crise não tenha a amplitude da depressão dos anos 30 justamente por conta da ação dos BCs."
Com a competição dos bancos centrais, o FMI terá de ativar os neurônios se quiser ter voz no mundo pós-crise. A instituição, por mais ineficaz que tenha sido na prevenção a crises, é ainda o único fórum global para lidar com o universo financeiro. Uma alternativa seria uma expansão do Banco Internacional de Pagamentos (BIS), que tem papel importante como regulador da relação entre os bancos, mas sem o poder de intervenção do FMI.
"Uma grande falha do Fundo é que ele receita normas para países pobres ou emergentes e não olha com o mesmo rigor para as economias ricas, em especial a americana", diz o economista Nilson Maciel de Paula, da UFPR. Para ele, as forças dentro do FMI teriam de ser redivididas e suas regras, valer para todos. "O modelo da Organização Mundial do Comércio poderia ser incorporado pelo Fundo, que assumiria a posição clara de regulador das finanças globais."
A reforma do FMI levaria a instituição de volta às raízes. Fundado juntamente com o Banco Mundial, o Fundo tinha a função de evitar desequilíbrios no sistema financeiro internacional. Atuava no equilíbrio entre as taxas de câmbio e dava orientação para países com problemas no balanço de pagamentos. O modelo era balizado pelo dólar, que tinha valor fixo em relação ao ouro. Mas, no início dos anos 70, os EUA, pressionados por um crescente déficit externo, desvalorizaram o dólar. Desde então, a atuação do FMI é mais de emprestador de último recurso do que de xerife do sistema. (GO)