Margens ainda maiores beneficiadas pelo aumento dos spreads devem compensar o menor ritmo de expansão do crédito nos grandes bancos brasileiros e atingir o pico durante o terceiro trimestre. Ao desacelerarem a oferta de empréstimos, porém, essas instituições podem ter uma piora no índice de inadimplência, algumas a segunda alta seguida, e a revisão de guidances tão esperada pelo mercado deve tornar-se realidade, assim como já anunciou o Itaú Unibanco no início deste mês.
Caso sejam divulgadas projeções mais tímidas durante a divulgação de resultados do terceiro trimestre, será o segundo ano consecutivo no qual os bancos terão de rever suas metas para baixo. Apesar disso, analistas consideram o ciclo de crédito atual como positivo, uma vez que a despeito do crescimento baixo das concessões, a oferta conta com spreads melhores e os calotes sob controle.
"Vemos a maioria dos benefícios de spreads mais elevados já nas margens dos bancos, com o terceiro trimestre provavelmente sendo o ponto mais alto em termos de margem financeira com clientes (NIM, na sigla em inglês). Para 2015, há riscos descendentes para NIM dos bancos, especialmente decorrentes de competição", avaliam Francisco Kops e Giovanna Rosa, do Safra.
O lucro líquido de Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Banco do Brasil deve alcançar R$ 12,5 bilhões no terceiro trimestre deste ano, segundo a média de casas consultadas pelo Broadcast. A cifra, caso seja confirmada, vai representar elevação de 13,2% na comparação com o mesmo intervalo de 2013, quando essas mesmas instituições entregaram resultado de R$ 11,1 bilhão.
Bradesco
O Bradesco abre a temporada de balanços dos grandes bancos na próxima quinta-feira (28) antes do pregão. A média de 18 casas consultadas pelo Broadcast (Banco do Brasil, Deutsche Bank, Goldman Sachs, Bradesco, BTG Pactual, Credit Suisse, Bank of America Merrill Lynch, Brasil Plural, Citibank, Grupo Bursátil Mexicano (GBM), JP Morgan, Morgan Stanley, Safra, UBS, Santander Votorantim, HSBC e uma casa que preferiu não ser identificada) indica lucro líquido contábil de R$ 3,355 bilhões no terceiro trimestre.
Caso a projeção seja alcançada, será 9,5% maior que os R$ 3,064 bilhões vistos em igual intervalo de 2013. O resultado será impactado, conforme antecipou o banco em agosto último, por uma baixa de R$ 356 milhões resultante de ajuste contábil não-recorrente do investimento no Banco Espírito Santo (BES) após a decisão do regulador português de intervir na instituição e dividi-la em duas.
A carteira de crédito do Bradesco deve crescer menos no terceiro trimestre ante o segundo e pode, inclusive, crescer abaixo dos 8%, na opinião de analistas que acompanham o setor bancário. Na projeção mais otimista, os empréstimos do banco podem avançar 9% no comparativo anual. Diante disso, Andre Riva Gargiulo e Gilberto Tonello, do GBM, consideram "difícil" o banco atingir a meta de alta de 10% a 14% neste ano. Com isso, a inadimplência, que subiu 0,1 ponto porcentual em junho ante março, para 3,5%, deve apresentar nova deterioração.
Se do lado do crédito o estímulo para o crescimento das receitas do Bradesco é menor, as áreas de serviços e tarifas e seguros devem seguir impulsionando os ganhos da instituição. Para Tito Labarta, do Deutsche Bank, o crescimento das receitas com serviços deve acelerar para o teto do guidance anunciado para 2014, de 9% a 13%, devido ao aumento da penetração na base de clientes. "As despesas devem permanecer sob controle e continuar a crescer mais ou menos em linha com a inflação", acrescenta ele em relatório a clientes.
Itaú Unibanco
O Itaú Unibanco deve anunciar, no dia 04 de novembro, antes da abertura do mercado, lucro líquido de R$ 5,002 bilhões no terceiro trimestre deste ano, segundo a média de oito casas consultadas pelo Broadcast (Deutsche Bank, Goldman Sachs, BTG Pactual, GBM Brasil, Morgan Stanley, Safra, Santander e UBS). O montante, caso alcançado, será 25,2% superior ao resultado de R$ 3,995 bilhões registrado um ano antes. Na visão de Kops e Giovanna, do Safra, o banco entregará o melhor conjunto de resultados no terceiro trimestre entre os pares de capital aberto.
Apesar de algumas casas projetarem crescimento da carteira de crédito do Itaú próximo dos 10%, piso do guidance para 2014, cujo teto é de avanço de 13%, o banco já anunciou que não vai conseguir alcançá-lo. Em reunião Apimec-MG com analistas e investidores, o diretor de Relações com Investidores do banco Itaú Unibanco, Marcelo Kopel, informou que o banco não vai conseguir alcançar o guidance para crédito que deve avançar cerca de 8% neste ano. As demais projeções, contudo, foram mantidas.
A inadimplência do Itaú, que no segundo trimestre ainda teve melhora na contramão dos pares privados, também pode ter leve deterioração, segundo analistas que ainda veem o indicador sob controle. Carlos Macedo, do Goldman Sachs, vê aumento de 0,1 p.p. nos calotes. Ele destaca ainda, em relatório ao mercado, sólido crescimento das rendas líquidas de juros e estabilidade na margem financeira com clientes (NIM, na sigla em inglês) em meio à seletividade do banco para emprestar. "O retorno sobre o patrimônio (ROE) deve permanecer robusto e acima dos 23%", destaca Macedo.
Santander
Também no dia 04 de novembro, antes da abertura do mercado, o espanhol Santander, que espera concluir na semana que vem a oferta de recompra de ações da filial brasileira, apresenta seus resultados do terceiro trimestre. A média de cinco casas consultadas pelo Broadcast (Deutsche Bank, Goldman Sachs, BTG Pactual, GBM Brasil e Safra) aponta lucro líquido gerencial, que corresponde ao resultado societário somado à reversão da despesa de amortização do ágio, de R$ 1,379 bilhão de julho a setembro. O montante representa declínio de 2% ante cifra de R$ 1,407 bilhão identificada em igual período do ano passado.
No terceiro trimestre, o Santander pode voltar a acelerar o crescimento dos empréstimos depois de reduzir o ritmo de avanço da carteira nos três meses anterior, segundo os analistas do mercado. A expectativa mais otimista aponta incremento de 5% do volume em um ano e de 3% na comparação trimestral. "A qualidade dos ativos pode melhorar devido à mudança no mix da carteira de crédito do Santander após a surpresa negativa no segundo trimestre (aumento de 0,3 ponto porcentual)", avalia Labarta, do Deutsche.
O retorno do Santander, conforme analistas, deve continuar pressionado e abaixo dos pares. Gargiulo e Tonello, do GBM, porém, veem melhora, com o indicador avançando de 9,3% para 9 6%. Antes da divulgação de resultados do Santander, o mercado aguarda o desfecho da oferta de recompra de ações da filial brasileira do banco espanhol, que tende a ser influenciado pelo resultado nas urnas devido ao impacto no preço dos papéis. O banco estima que se todos os minoritários aceitarem a troca (ela não é obrigatória), a operação vai envolver R$ 14 bilhões. Não haverá, contudo, desembolso de dinheiro, pois os minoritários que aceitarem a oferta vão receber ações do Santander Espanha em troca.
Banco do Brasil
Como de costume, o Banco do Brasil encerra a temporada de balanços dos grandes bancos de capital aberto ao divulgar seus números no dia 05 de novembro, antes da abertura do mercado. A instituição deve registrar lucro líquido ajustado, que desconsidera efeitos não-recorrentes, de R$ 2,807 bilhões, de acordo com a média de nove casas consultadas pelo Broadcast (Deutsche Bank, Goldman Sachs, BTG Pactual, GBM Brasil, Morgan Stanley, Safra, Santander, UBS e uma casa que preferiu não ser identificada). Se confirmado, o montante representará alta de 7 5% ante um ano, de R$ 2,610 bilhões.
"Esperamos que o Banco do Brasil entregue bons resultados no terceiro trimestre de 2014, com um retorno de 16,9%, e a maior parte das tendências do segundo trimestre se replicando também neste período", analisam Kops e Giovanna, do Safra.
Segundo eles, a carteira de crédito do BB deve apresentar "fraco" crescimento, podendo ficar abaixo da orientação do banco para este ano, de avanço de 14% a 18%. Os analistas do Safra esperam que os empréstimos cresçam 13,2% no ano e 2,0% no trimestre. Macedo, do Goldman, é um pouco mais otimista e projeta incremento de 14,6% e 3,0%, respectivamente. Ele vê o retorno do banco estável, mas acima do patamar visto no ano passado.
Também deve permanecer sem alterações a inadimplência do BB. " O banco continua a se beneficiar de uma taxa de crescimento de crédito muito maior do que seus pares, ajudando a manter as taxas de inadimplência sob controle", concluem os analistas do GBM.
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