O quarto trimestre pode indicar uma inversão de tendências para os grandes bancos de capital aberto, com sinais de desaceleração nos resultados, piora na qualidade de ativos e aumento de provisões em meio aos problemas enfrentados por grandes empresas envolvidas na Operação Lava Jato. O crédito deve continuar desacelerando e as projeções de expansão para as carteiras em 2015 tendem a vir, segundo analistas, ainda mais conservadoras.
O lucro líquido contábil de Bradesco, Itaú Unibanco, Banco do Brasil e Santander deve somar R$ 13,5 bilhões no quarto trimestre do ano passado, de acordo com a média de casas consultadas pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Caso este montante seja confirmado, representará elevação de 16,7% ante o mesmo intervalo de 2013, de R$ 11,6 bilhões.
"Os bancos devem reforçar as provisões e reclassificar créditos por conta da Lava Jato e também do colchão adicional, mas nada que assuste o setor bancário. Bons resultados são esperados na tesouraria, com a Selic beneficiando a rentabilidade dos títulos e ainda o estímulo sazonal do Natal", avalia Luiz Santacreu, da Austin Rating, em entrevista ao Broadcast.
No ano passado, os bancos brasileiros se beneficiaram de taxas mais elevadas, menores custos de crédito e controle de despesas para acelerar o crescimento dos lucros, conforme Carlos Macedo, Marcelo Cintra e Tyson Bryan, do Goldman Sachs. "Embora alguns elementos ainda permaneceram no cenário atual, o quarto trimestre deve começar a mostrar sinais mais claros de desaceleração", atentam eles, em relatório.
O Bradesco abre a temporada de balanços dos grandes bancos ao divulgar seus resultados no dia 29 de janeiro, antes do mercado. A média de 17 casas consultadas (Banco do Brasil, Deutsche Bank, Goldman Sachs, BTG Pactual, Credit Suisse, Bank of America Merrill Lynch - BofA, Brasil Plural, Citibank, GBM Brasil, JPMorgan, Safra, UBS, Santander, Votorantim, HSBC e duas casas que preferiram não se citadas) aponta lucro líquido contábil de R$ 3,962 bilhões no quarto trimestre, cifra que, se confirmada, vai indicar alta de 28,80% ante R$ 3,079 bilhões de igual período de 2013.
Analistas esperam resultado em linha com o visto no terceiro trimestre de 2014, com possibilidade de alguma melhora e retorno sobre o patrimônio (ROE) em torno dos 20%. A carteira de crédito deve crescer 3% na comparação trimestral, segundo Eduardo Rosman Gustavo Lobo e Jose Rizzardo, do BTG Pactual, encerrando o ano com avanço próximo dos 7%. A projeção para 2015, conforme eles, deve ser alta de 7% a 10%, mais tímida que a do ano passado, de 7% a 11%.
O Itaú Unibanco, que divulga seus números dia 03 de fevereiro, antes do mercado, deve anunciar lucro líquido de R$ 5,385 bilhões no quarto trimestre de 2014, segundo a média de sete casas consultadas pelo Broadcast (Deutsche Bank, Goldman Sachs, BTG Pactual, BofA, Safra, UBS e uma casa que preferiu não ser identificada). Tal montante, se alcançado, vai representar expansão de 15,9% na comparação com o identificado no último trimestre do ano anterior, de R$ 4,646 bilhões.
Novamente, o índice de inadimplência, considerando os atrasos acima de 90 dias, do Itaú deve indicar qualidade de ativos sob controle, de acordo com Tito Labarta, do Deutsche. Depois de nove trimestres em queda, ele prevê estabilidade do indicador em 3,2%, o menor desde a fusão entre o Itaú e o Unibanco. O retorno da instituição, segundo o Goldman, deve cair para 22,8% uma vez que o patamar do terceiro trimestre, de 24,7%, era insustentável. Crédito deve crescer no mínimo 3,5% no trimestre e no máximo 8%, conforme analistas.
Também no dia 03 de fevereiro, o mercado vai acompanhar os números do Santander Brasil que deve anunciar lucro líquido gerencial, que não exclui o ágio da compra do banco Real, de R$ 1,259 bilhão de outubro a dezembro de 2014, conforme a média de seis casas (Deutsche Bank, Goldman Sachs, BTG Pactual, BofA, Safra e UBS) consultadas pelo Broadcast. A cifra, caso seja confirmada, será 10,6% inferior em relação a idêntico intervalo do ano anterior, de R$ 1,409 bilhão.
O Santander deve apresentar aceleração no crescimento dos empréstimos, beneficiado, principalmente, pelo segmento grandes empresas e ainda a mudança de mix por parte do banco. O BofA projeta expansão de 4% ante o terceiro trimestre e 7% na comparação anual. "A pressão sobre a margem financeira (NIM) deve continuar devido ao mix de crédito mais fraco enquanto as provisões tendem a seguir resilientes com estabilidade na qualidade de ativos", dizem Mario Pierry, Jose Barria e Gustavo Schroden, do BofA.
Encerrando a temporada de balanços dos grandes bancos, dia 11 de fevereiro, o Banco do Brasil, segundo a média de cinco casas consultadas pelo Broadcast (Goldman Sachs, BofA, Safra, UBS e uma casa que não quis ser citada) deve anunciar lucro líquido ajustado, que desconsidera efeitos não-recorrentes, de R$ 2,884 bilhões no último trimestre do ano passado. Caso o montante seja atingido, será 19% maior ante R$ 2,424 bilhões registrados um ano antes. No período, o BB também pode anunciar impacto de R$ 3 2 bilhões em seu lucro não recorrente por conta da aprovação da joint venture com a Cielo na área de gestão de cartões.
Os analistas do BofA preveem nova deterioração na qualidade dos ativos do BB no quarto trimestre, principalmente por conta do segmento empresas, levando a um aumento de provisões. No crédito eles projetam alta de 4% no trimestre e 11% no ano, desacelerando em bases anuais. O retorno (RSPL, sigla utilizada pelo banco) deve ter nova retração, segundo analistas, podendo chegar a 14,1% na expectativa mais pessimista. "O retorno deve ser negativamente impactado pelo aumento de capital, devido ao reconhecimento do instrumento híbrido de R$ 8,1 bilhões no capital principal", justificam Francisco Kops e Giovanna Rosa, do Safra.