O aumento do risco e o crescimento dos índices de inadimplência nas operações de crédito, em decorrência da crise financeira, levou os bancos a aumentarem em 50% suas reservas para cobrir eventuais perdas com calote de clientes no ano passado. Segundo dados do Banco Central, as provisões encerraram o ano passado com um volume de R$ 97,6 bilhões, o equivalente a 6,9% do total de crédito fornecido pelas instituições financeiras públicas e privadas. Em 2008, essa reserva era de R$ 65,2 bilhões e correspondia a 5,3% do total de crédito concedido.
De acordo com analistas, as dificuldades financeiras enfrentadas por muitas empresas ao longo do ano, especialmente as indústrias e companhias exportadoras, o aumento do desemprego no primeiro semestre e o impacto negativo na renda, fatores diretamente provocados pela crise, elevaram significativamente a chance de os clientes não honrarem seus compromissos com os bancos. E o volume de calotes efetivamente teve forte alta mais de 60% de 2008 para 2009. "A economia não estava favorável à qualidade creditícia", argumentou o analista de bancos da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu.
Essa situação forçou os bancos a separarem recursos para cobrir o risco de perdas, o que na prática diminui a lucratividade das instituições e também reduziu a capacidade de as instituições fazerem empréstimos.
Uma medida adotada pelo Banco Central ao fim de 2008 também criou um incentivo para os bancos aumentarem suas reservas anticalote em 2009. A iniciativa, de caráter prudencial, permitiu que as instituições financeiras fizessem provisões adicionais ao que normalmente seria necessário para os créditos concedidos a pessoas e empresas sem que isso alterasse sua capacidade de financiar clientes.
Com isso, as instituições buscaram ampliar suas reservas, mas não perderam tanta musculatura para ofertar crédito, embora tenham mantido um ritmo lento de concessões em 2009. "O BC induziu os bancos a ampliarem o excesso de provisionamento, porque o risco era muito grande. Foi um incentivo a se provisionar mais", avalia o economista João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho, lembrando que esse mecanismo acabará em abril deste ano, o que deve levar a uma relativa "desmontagem" do excesso de provisionamento realizado pelas instituições.
Na comparação entre bancos públicos e privados, o ritmo de alta das provisões foi bem maior no segundo grupo. As instituições financeiras privadas elevaram suas reservas contra perdas em 65,2%, para R$ 46,6 bilhões, e acima do ritmo da inadimplência dos seus créditos. Enquanto isso, os bancos públicos subiram as provisões em 39,8%, para R$ 32,5 bilhões e abaixo do ritmo de alta no seu índice de calotes.
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