Os bancos europeus necessitam de uma recapitalização de 200 bilhões de euros em razão das perdas que terão com os títulos da dívida soberana da zona do euro e também com a inadimplência geral nas suas carteiras de crédito. O cálculo é dos analistas do banco JPMorgan, para os quais o colapso na captação de recursos em dólar de curto prazo é igual ou até mais grave do que no período pós-quebra do Lehman Brothers.
Segundo os analistas do JPMorgan, em relatório divulgado para clientes, os bancos espanhóis estão em situação mais grave: precisam de uma injeção de capital entre 70 bilhões e 75 bilhões de euros. Os bancos italianos precisarão de um socorro entre 20 bilhões e 25 bilhões de euros, enquanto os bancos alemães necessitam de um programa de recapitalização de 25 bilhões de euros e as instituições francesas, de 20 bilhões de euros.
Sem uma injeção de capital, dizem os analistas do JPMorgan, será muito difícil para os bancos europeus conseguirem captar recursos em dólar, em particular pelos fundos de "money market" dos Estados Unidos, que reduziram substancialmente a compra de papéis de dívida de curtíssimo prazo emitidos pelos bancos europeus para fecharem suas contas do dia a dia.
"O desfecho mais provável será uma estratégia coordenada mas, em última instância, a recapitalização de bancos dos países principais será executada pelos governos nacionais. Já os bancos da Itália e da Espanha serão recapitalizados via o EFSF (fundo europeu de estabilização financeira)", afirmaram os analistas Pavan Wadhwa e Kedran Panageas, do JPMorgan.
Com o agravamento da crise da dívida soberana da zona do euro, houve uma forte retração na captação de curto prazo em dólar, em especial de "commercial papers" (títulos de dívida de curtíssimo prazo, com vencimento em até 270 dias). Para os bancos italianos e espanhóis, essa fonte de recursos simplesmente secou: não há captação para esses bancos. Já para os bancos belgas, a captação de curto prazo em dólar reduziu-se 73% neste ano, enquanto para os bancos alemães, a redução foi de 32% e para os bancos franceses, 29%.
"Com base nos dados sobre emissão de commercial paper (CP) divulgados pelo Federal Reserve, estimamos que a queda no volume de CP atualmente rivaliza, se não supera, a queda registrada na época da crise do Lehman Brothers", explicam Wadhwa e Panageas. "A principal diferença é que a retração desse mercado na época do Lehman Brothers aconteceu em apenas seis semanas, enquanto a queda atual tem sido um sangramento lento que vem ocorrendo nos últimos cinco ou seis meses."
Segundo levantamento dos analistas do JPMorgan, os fundos norte-americanos, em particular os fundos de "money market", reduziram suas exposições à dívida de bancos europeus, incluindo os commercial papers, em US$ 130 bilhões desde o fim do ano passado. A redução na emissão da dívida bancária geral e também da captação de recursos em dólar tem sido mais gradual, porém com duração mais ampla, do que na época do Lehman Brothers.
"Se o ritmo dessa retração persistir, deveremos ver um aumento significativo na dependência dos bancos em relação ao Banco Central Europeu (BCE)", afirmaram os analistas. E a única forma de resolver esse problema, ressaltaram os analistas do JPMorgan, será um amplo programa de recapitalização do sistema bancário europeu que restaure a confiança dos investidores e reabra as fontes de captação em dólar.