Acostumados com prazos a perder de vista e com o crédito farto nos últimos anos, empresas e consumidores estão se adaptando aos financiamentos mais curtos, aos juros mais altos, ao rigor e à lentidão na concessão dos recursos.
No setor automotivo, mesmo com a melhora nas vendas, impulsionada pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o número de cadastros recusados pelos bancos deu um salto. O movimento veio no embalo do aumento da inadimplência. Em janeiro, o calote no setor bateu recorde, com 4,7%.
"Antes, o cadastro de um comprador que era recusado por um banco era levado a outros dois. Hoje nem adianta fazer isso. Se um banco nega, os outros nem fazem a avaliação", diz Luís Antônio Sebben, diretor geral da regional da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Segundo ele, o porcentual de recusas chegou a 18% no auge da crise, caiu para 12% e agora está em 8%. "Mas ainda assim está bem acima dos 3% de antes", diz.
De acordo com ele, o consumidor tem de driblar a seletividade usando muitas vezes o nome de outra pessoa. "Tem muita gente que vai comprar uma motocicleta e usa o nome do pai, do marido ou de outro familiar, cujo perfil é mais fácil de ser aceito pelos bancos", diz.
Para o professor Marcio Cruz, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), essa mudança traz uma comparação interessante com o que ocorreu nos Estados Unidos. "Antes da crise e com o crédito farto, os critérios de seleção de clientes foram relaxados, a exemplo do que vimos no mercado imobiliário americano", compara.
Para as empresas, a situação é ainda pior. As linhas de capital de giro ficaram mais caras e o crédito para exportação ainda não voltou ao normal. Uma das maiores exportadoras de móveis do Paraná, a Famossul, com fábrica em Piên (a 80 quilômetros de Curitiba) viu cair em 30% sua linha de financiamento para exportação, enquanto a liberação ficou mais lenta. "Uma operação que saía em dois, três dias, hoje leva dez, quinze dias", diz Guido Orlando Greipel, presidente da empresa, que exporta cerca de 80% da produção.
Fabricante de papéis, a Sepac teve de adiar para este ano um investimento na fábrica de Mallet, no Sul do estado, porque o mercado financeiro travou no fim do ano passado. "Houve um momento em que realmente faltou crédito. Decidimos retomar as negociações neste ano", diz João Ferreira Dias Filho, presidente da indústria. A companhia tem planos de investir R$ 100 milhões para dobrar a capacidade de produção para 200 toneladas por dia de papel tissue (papel sanitário) e conta com um financiamento de R$ 10 milhões do BNDES.
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