Os bancos credores da Atvos, empresas de açúcar e álcool da Odebrecht S.A., decidiram, em reunião realizada esta semana, dar sequência ao rito de execução das dívidas da empresa que está em recuperação judicial, disseram quatro fontes ouvidas pelo 'Estadão/Broadcast'. Uma notificação foi enviada para a companhia e para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que concedeu os recursos, comunicando a declaração de vencimento antecipado dos empréstimos.
Segundo fontes, o movimento não tem efeito prático, mas serve de gatilho para a execução das garantias que o grupo controlador deu aos bancos por empréstimos concedido por eles à Atvos. Tanto é que uma medida judicial de execução do aval da Odebrecht ainda não foi tomada e está sendo preparada.
O movimento foi lido por especialistas como uma forma de pressionar o grupo. "Não precisavam de nada disso para executar a garantia, uma vez que a dívida já está vencida", afirmou uma fonte. A forma de pressão teria sido adotada porque apenas dois credores, no sindicato de bancos formado para conceder empréstimos às empresas da Odebrecht S.A., não têm como garantia ações da Braskem, um dos únicos ativos saudáveis do grupo: Caixa e Votorantim.
A Caixa exige, há três meses, ações da Braskem em garantia aos R$ 500 milhões emprestados à Atvos. Se considerado todo o Grupo Odebrecht, a cifra é de mais de R$ 2 bilhões.
Na reunião já feita com os demais credores, na terça-feira, a Caixa reforçou o pedido, mas os bancos se opuseram. "Não há como fabricar garantias. São coisas concretas e finitas. Os outros bancos podem dar um pouquinho (das ações da Braskem) para a Caixa. É uma decisão deles", diz uma fonte próxima às negociações. Ainda assim, ela ficaria longe na fila de garantias, em 6.º ou 7.º lugar, diz um credor.
Nos últimos meses, a Caixa tem sido uma pedra no sapato da Odebrecht. Além da pressão atual, para conseguir ações da Braskem como garantia, a instituição quase barrou algumas vendas do grupo. Segundo uma fonte, o banco esteve prestes a vetar a venda da Rodovia Rota das Bandeiras e Supervia, da Odebrecht Transporte (OTP).
Empresa só pedirá recuperação judicial em último caso
Na Odebrecht, fontes afirmam que a posição dos bancos credores da Atvos é protocolar e o grupo só vai buscar proteção contra credores na Justiça, ou seja, entrar com o pedido de recuperação judicial, se for executado de fato. Até lá, dizem, nenhum movimento será feito.
Uma nova reunião entre os credores da Atvos está agendada para a semana que vem, para buscar uma alternativa à recuperação judicial da Odebrecht S.A.. Os bancos ainda não têm consenso se executarão o grupo controlador.
A nuvem da recuperação judicial voltou à assombrar a Odebrecht após a Atvos, com R$ 12 bilhões em dívidas, ter seguido esse caminho. Metade da cifra, R$ 6 bilhões, está garantida pelo controlador.
O maior credor da empresa é o BNDES, com mais de R$ 4 bilhões. Na sequência, aparece o Banco do Brasil, com R$ 3,82 bilhões. Na lista estão também Bradesco (R$ 250 milhões), Itaú Unibanco (R$ 106 milhões) e Votorantim (R$ 80 milhões).
Segundo fontes, embora esteja praticamente encurralada, a Odebrecht ainda vive uma divisão interna. Uma ala entende que a melhor forma para proteger o patrimônio dos acionistas é entrar com o pedido de recuperação judicial. Outra ala, formada especialmente pelo presidente da holding, Luciano Guidolin, e pelo acionista Emílio Odebrecht, que se afastou da administração no ano passado, é a favor de proteger o grupo ao máximo de um processo judicial.
Mas, com a desistência da holandesa Lyondell Basell de comprar a Braskem, esse caminho está cada vez mais perto. Segundo fontes próximas à empresa, houve atropelos no processo. Até a recuperação da Atvos poderia ter sido evitada se as negociações fossem mais focadas, em sua opinião. Nesse caso, o Banco do Brasil foi quem mais travou a negociação, dizem fontes.
Agora a Odebrecht trabalha em uma proposta para apresentar aos bancos credores, a fim de evitar a execução e que o grupo entre em recuperação judicial, por consequência. Na mesa, estão R$ 20 bilhões em garantias, conforme revelou o Estadão/Broadcast na terça-feira. Procurada, a Odebrecht disse que não "comenta especulações". A Caixa não se manifestou e a Atvos não retornou o pedido de entrevista.