O aumento do custo de captação, as mudanças nas regras do Banco Central para as tarifas e o cenário externo adverso colaboraram para a queda na rentabilidade dos principais bancos privados do país, no primeiro semestre do ano. O retorno recorrente sobre o patrimônio líquido médio do Bradesco no primeiro semestre ficou em 25,8%, três pontos percentuais abaixo do registrado em igual período do ano passado No Itaú, a queda foi idêntica, para 27,5%. A exceção foi o Unibanco, que ficou praticamente estável em 25,9%, alta de 0,8 pontos.
Desde o começo do ano os bancos vem apresentando queda na rentabilidade, depois de resultados expressivos nos últimos anos E os analistas acreditam que dificilmente a rentabilidade volte para patamares anteriores no curto prazo. "Os retornos brasileiros já são bastante altos. E com o aumento da concorrência, é difícil voltar aos patamares anteriores", afirma a analista da SLW, Kelly Trentin. Ela lembra que em outros países os retornos são mais baixos.
A queda na rentabilidade dos bancos brasileiros está longe de indicar um problema financeiro das instituições. "No ano passado os bancos cresceram vigorosamente, mas isso não quer dizer que nesse ano os resultados foram ruins. O setor continua sadio", afirma o analista da Austin Ratings, Erivelto Rodrigues.
Preocupa os bancos no curto prazo, a queda nas receitas com as tarifas e, nesse caso, a saída será buscar novos clientes. "Não há outra forma de eliminar esse efeito a não ser ter mais clientes", diz Gilberto Travaglia, vice-presidente Corporativo do Unibanco.
A redução com ganhos nas tarifas decorre da nova regulamentação do Banco Central, que limitou a cobrança desde o final de abril. Entre outras regras, foi proibida a incidência de taxas na abertura de crédito e na liquidação antecipada de operações.
No segundo trimestre do ano, as receitas provenientes de contas correntes do Unibanco caíram 7,7%, para R$ 195 milhões. Para compensar, o banco pretende conquistar 200 mil novos correntistas no segundo semestre, mesmo patamar registrado entre janeiro e junho.
No Bradesco, as receitas de contas corrente e operações de crédito caíram 0,3% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. Para compensar essa perda, o presidente do banco, Márcio Cypriano, afirmou que o caminho é abrir neste ano 1,750 milhão de novas contas, sendo que 900 mil novos correntistas já foram conquistados no primeiro semestre. Apesar da expectativa de novos clientes pagando tarifas, o banco reduziu de 5% a 10% para entre 5% e 8% a projeção de crescimento do total das receitas com prestação de serviços, que no primeiro semestre ficou em R$ 5,578 bilhões, valor 7,9% maior que o registrado entre janeiro e junho do ano passado.
No Itaú, a meta é abrir 500 mil novas contas no segundo semestre, número similar ao registrado nos primeiros seis meses do ano. Esses clientes serão responsáveis por compensar a queda nas receitas com tarifas bancárias, que no primeiro semestre foi de 5,8%, para R$ 1,336 bilhão.
Na avaliação de analistas, essa tendência de queda se estabilizará a partir do ano que vem. "A base de tarifas é forte e por enquanto as quedas irão continuar", diz Trentim. Crédito em alta
Mesmo com rentabilidade menor os bancos estão mais otimistas. O crescimento de renda da população, a queda nas taxas de desemprego e os planos de investimentos das empresas fizeram essas instituições elevarem suas projeções para o crédito este ano. Após a divulgação dos resultados do segundo trimestre, Bradesco, Itaú e Unibanco deixaram de lado estimativas conservadoras que variavam de 20% a 25% de crescimento e passaram a apostar em um aumento no crédito neste ano de 30%.
A revisão acontece no meio de um processo de elevação dos juros por parte do Banco Central. "Os bancos estão confortáveis mesmo com o crescimento dos juros. Além disso, a inadimplência está em queda, o que colabora para o otimismo", afirma a analista da SLW, Trentin.
Nas projeções do Bradesco, maior banco privado brasileiro, a carteira de crédito terá uma expansão de até 29% neste ano, ante projeção anterior de 21% a 25%. Ao final de junho, essas operações no Bradesco totalizavam R$ 181,602 bilhões, valor 38,8% maior que o registrado no mesmo período de 2007.
Já no Itaú a expectativa inicial estava entre 25% e 30% e, agora, o banco aposta que ao final do ano o desempenho da carteira ficará mais perto dos 30% e, no ano que vem, será de 25%. Em 12 meses, as operações de crédito da instituição subiram para R$ 148,073 bilhões, um avanço de 41,3%. O Unibanco foi na mesma linha, e decidiu apostar na ponta maior de suas projeções, que é 25%. Isso ocorre após as operações terem crescido 39,2%, para R$ 68,991 bilhões em junho.
Essas apostas refletem não só a expectativa que os bancos têm em aumentar o crédito junto a atual base de clientes, mas também estão baseadas no espaço que o setor ainda tem de crescimento no Brasil. A analista da SLW lembra que boa parte da população brasileira ainda não é bancarizada. E o aumento de renda contribui para a conquista de novos clientes pelos bancos. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgados nessa semana, a classe média já responde por 51,89% das famílias brasileiras. Em 2004, essa participação era de 42,26%.
Inadimplência comportada, demanda aquecida e maior renda dão segurança aos bancos para realizarem essas projeções, conforme Rodrigues, da Austin. "Todo mundo quer crescer. Investir mais e consumir mais", diz. Para ele, os bancos concedem crédito com segurança, já que a inadimplência está controlada e uma possível elevação ao final do ano nos atrasos dos pagamentos não será preocupante para o setor.
Expandir a presença física também reflete o otimismo dos bancos, que é um outro caminho para se expandir as operações de crédito. O Itaú pretende abrir 140 novas agências até dezembro, sendo que 68 foram abertas durante o primeiro semestre. Já o Unibanco espera inaugurar 200 até março de 2009. Os novos pontos de atendimento serão inaugurados a partir desse semestre