Você já ouviu falar em indústria IGI? Pois é ela que pode fazer com que os tradicionais bancões de todo o mundo percam receitas bilionárias nos próximos anos quando o assunto são pagamentos. Até 2025, 15% da receita global formada por eles - ou US$ 280 bilhões - devem ser retirados dos bancos pelos pagamentos digitais e pela concorrência com instituições não bancárias, conforme relatório da consultoria Accenture sobre as movimentações globais do segmento.
Essa perspectiva de queda representa uma consolidação de cenário que há tempo dá seus sinais desfavoráveis para os bancos: nos últimos quatro anos, eles tiveram redução de 33% da receita das transações de cartão de crédito dos clientes corporativos, 12% de pessoa física e 15% menos transações no débito.
O deslocamento desses valores, ainda conforme o relatório, acontece à medida que a indústria de pagamentos se torna cada vez mais instantânea, gratuita e invisível - reunindo as iniciais citadas na pergunta que abre essa reportagem (IGI). Na avaliação de Joana Henklein, diretora-executiva de Serviços Financeiros da Accenture para a América Latina, o próprio setor bancário já está ciente de que esse novo mundo é inevitável, uma vez que ele já é realidade na vida do consumidor (com os serviços de mobilidade - como Uber e 99 -, com as plataformas de delivery e tantos outros exemplos). Em parte, é o surgimento desses novos players que deve causar a migração das cifras.
"De 2015 a 2018, o número [global] de fintechs focadas unicamente em pagamentos aumentou 97%. É exponencial. Como tem muita receita você acaba tendo muitos atores, o que é positivo para que o mercado final seja melhor atendido, porque tem competitividade e principalmente inovação, que é algo que o mercado brasileiro sempre teve", afirma Henklein.
Nesse sentido, ela destaca ainda que a busca pelo combo IGI está intimamente ligada a "uma questão de combinação de tendências, com a expectativa dos clientes e dos comerciantes por velocidade e conveniência – cada vez mais esperadas dos nossos provedores de serviços -[...], somando-se a isso a questão das inovações tecnológicas", pondera. As avaliações se baseiam em um modelo de análise de risco que mede as tendências de métodos de pagamentos entre os consumidores e que projeta mudanças no comportamento, na tecnologia e na regulamentação dos agentes de mercado.
Perdas e ganhos
Se nesse cenário os bancos tradicionais podem ficar para trás e perder terreno (e dinheiro) para os seus concorrentes mais disruptivos e focados em buzzwords como blockchain, inteligência artificial, machine learning e IoT, há outro lado que promete reunir oportunidades também bilionárias. O estudo da Accenture constatou que a receita global de pagamentos provavelmente crescerá a uma taxa anual de 5,5%, saltando de US$ 1,5 trilhão em 2019 para mais de US$ 2 trilhões até 2025.
"Todo mundo vai querer abocanhar uma parte dessa receita adicional de US$ 500 bilhões", garante a diretora-executiva de Serviços Financeiros da Accenture para a América Latina, e acredita que, no Brasil, os bancos têm características que os qualificam como fortes candidatos para tal: escala e capacidade de diferenciação - consideradas essenciais para enfrentar o desafio desse mundo invisível, gratuito e instantâneo.
"A escala aqui é algo muito relevante, porque se você não tiver escala você não consegue atuar com custo baixo num mundo em que a gratuidade é um dos aspectos mais relevantes. Nós [no Brasil] temos escala tanto em termos de economia, quanto os bancos que já operam no país têm negócios em escala para enfrentar o desafio de investir em inovação digital, porque se você tem volume você pode atuar no preço de uma forma bastante estratégica", explica.
No outro ponto, da diferenciação, os bancos tradicionais levam vantagem também no volume, na avaliação de Joana Henklein, uma vez que entregar valor agregado nesse segmento demanda investimento. "Para você ter, por exemplo, a segurança num business de pagamento, isso requer um grande aporte tecnológico e de dinheiro mesmo. Na nossa visão, os grandes bancos - mais do que cientes - já estão atuando nesses dois temas", conclui, "ainda que em diferentes graus de maturidade entre os 22 países pesquisados".