A Usina Hidrelétrica de Belo Monte é uma usina hidrelétrica brasileira da bacia do Rio Xingu, próximo ao município de Altamira, no norte do estado Pará| Foto: TV Brasil
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Depois de 26 meses sem cobrança extra na conta de luz, com a bandeira verde, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a tarifa amarela para julho. Para os meses seguintes, especialistas acreditam que a taxa deve permanecer como está ou até chegar à bandeira vermelha, que tem os maiores adicionais.

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A troca de bandeiras se deve ao baixo volume de água nos reservatórios das hidrelétricas, que são responsáveis por cerca de 70% da energia gerada desta forma, mas não tem expectativa de ficarem mais cheias até o fim do ano. A previsão de chuvas até dezembro é abaixo da média - em torno de 50%, segundo a Aneel.

As classificações por cores variam conforme o custo para gerar energia. A bandeira amarela tem acréscimo de R$ 1,88 a cada 100 kw/h consumidos. Por exemplo, uma conta de luz de R$ 100 passaria para R$ 102,6 com esse acionamento. Já a vermelha se divide em patamar 1, cujo valor é de R$ 4,463 a cada 100 kWh e patamar 2, de R$7,877 (100 kWh).

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“Esse cenário de escassez de chuvas, somado ao inverno com temperaturas superiores à média histórica do período, faz com que as termelétricas, com energia mais cara que hidrelétricas, passem a operar mais”, disse a Aneel na mudança para a bandeira amarela em julho.

A Ampere Consultoria recomenda cautela para o segundo semestre. O seu relatório mensal, que analisa a tendência de comportamento das bandeiras nos próximos meses, aponta que a bandeira vermelha 1 será acionada em setembro e a 2 em outubro e dezembro. Somente em novembro ficará amarela. E verde, sem taxas extras, somente a partir de 2025.

“A perspectiva é que a bandeira vermelha seja definida já em setembro, o que deve estimular o consumo menor de energia. A perspectiva agora é de piora, com acionamento da bandeira vermelha patamar 2 em outubro”, avalia Guilherme Ramalho de Oliveira, sócio-consultor da consultoria que atua com inteligência de mercado na área de preços de energia e previsões meteorológicas voltadas ao setor elétrico.

Heloisa Pereira Nóbrega, meteorologista da Ampere, explica que o relatório sintetiza a piora na meteorologia, o que deve agravar o despacho térmico - ou seja, exigir mais das termoelétricas, as quais são mais caras para gerar energia. As condições meteorológicas preocupantes para o setor elétrico, diz ela, estão ligadas principalmente ao aquecimento dos oceanos globais, em especial os Oceanos Índico e Atlântico. Segundo ela, eles têm contribuído para uma condição geral de menos chuva e temperaturas mais elevadas.

 “Temperaturas elevadas de forma abrangente nessas áreas têm sido verificadas desde setembro do ano passado e estão por trás das ondas de calor observadas em boa parte do mundo desde então”.

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A expectativa é que na sexta-feira, dia 25 de julho, a Aneel anuncie a bandeira vermelha, por causa da falta de chuvas de julho, segundo o jornal Valor Econômico.

O segundo semestre é geralmente marcado por estiagens e muita volatilidade na previsão de chuvas, o que pode prolongar as cobranças adicionais até o final do ano, afirma Alan Henn, CEO da consultoria Voltera Energia. Ele acredita que o cenário mais provável seja a manutenção da bandeira amarela em agosto.

“O cenário hidrológico atual está mais favorável, com o nível de reservatório em 67%, e temperaturas amenas. A bandeira vermelha só será acionada se houver uma piora significativa nos níveis de reservatório e um aumento de geração termelétrica”, diz Henn.

O empresário ressalta, entretanto, que o aumento do valor energia é significativo no setor produtivo e de serviços, pois eleva os custos de produtividade no curto prazo e contribui para a inflação no médio e longo prazo, “prejudicando sistematicamente toda a população”.

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) calcula um impacto de 2,6% na tarifa do setor industrial. Um desafio, segundo o presidente da entidade, Flávio Roscoe, e que poderia ter sido evitado se houvesse mais investimentos em hidrelétricas:

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“O acionamento da bandeira amarela sinaliza que estamos ligando as termelétricas, que são poluentes e mais caras que as hidrelétricas, estamos encarecendo a conta do consumidor e poluindo o meio ambiente devido a uma escolha que fizemos no passado de não investir mais em hidrelétricas”, pontua Roscoe.

Para Sérgio Pataca, consultor da gerência de Energia da FIEMG, a expectativa para os próximos meses também é positiva, com uma melhoria nas chuvas ao longo de agosto e normalização gradual. Além das chuvas, outro fator que pode ajudar a frear os preços da energia é o consumo cair, uma vez que a conta fica mais cara.

Por que a conta de luz está mais cara?

Desde o final do ano passado, o Brasil enfrenta um acentuado período de seca. As chuvasde outubro a abril não foram suficientes para encher os reservatórios. Somado a isso, as temperaturas do inverno brasileiro têm sido bem maiores do que os valores esperados para essa época do ano, causando um aumento na demanda energética nacional, acrescenta Henn.

Sem chuvas, os reservatórios das hidrelétricas ficam mais baixos, o que demanda o uso das termoelétricas – movidas a carvão, gás e outros derivados do petróleo. Quanto mais elas são acionadas para poupar os reservatórios, maior é o custo repassado às tarifas. É isso que resulta na mudança das bandeiras.

Embora a energia solar e a eólica tenham crescido nos últimos anos, são fontes intermitentes – que dependem de sol e vento para funcionarem. Diante disso, país é necessário complementar com fontes contínuas, como a hídrica e térmica, para abastecer o país.

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No início do ano, a previsão era que isso acontecesse, conforme adiantou a Gazeta do Povo. Chuvas abaixo da média histórica e perspectiva de escassez à frente acenderam o sinal de alerta no setor elétrico, levando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e o governo a acionar usinas termelétricas e economizar água dos reservatórios de hidrelétricas.

Mas o entrave no setor elétrico brasileiro vai além da escassez de chuvas e falta de investimentos. Um deles é que o governo ainda não trouxe solução para reduzir os subsídios que encarecem a conta de luz. Esses "penduricalhos" sustentam a geração de energia por combustíveis fósseis em sistemas isolados e também bancam incentivos concedidos a energias renováveis e à geração distribuída.

Até 24 de julho, os subsídios somam mais de R$ 19 bilhões, segundo o Subsidiômetro, ferramenta da Aneel. O montante é pago por todos os consumidores e corresponde a 13,43% da conta de luz de cada um. Quem mais recebe subsídios é a “fonte incentivada”, que engloba usinas eólicas, solares e térmicas a biomassa, entre outras energias renováveis.

Na contramão de resolver a questão dos subsídios, o presidente Lula e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, assinaram ainda a MP 1.212, que prevê a redução de redução de 3,5% a 5% na conta de luz.

O problema da MP é que não tem data certa, não se sabe o percentual exato, o efeito rebote vai ser pior (a conta ficará mais cara no futuro) e a medida ainda estende, por 36 meses, o prazo para que usinas de geração de energia renovável recebam subsídios – sim, as que hoje já recebem a maior quantia de subsídios.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]