Para o economista Nelson Barbosa, o ministério dos sonhos só chegou um ano e 21 dias depois da pomposa cerimônia no Palácio do Planalto, que marcou o anúncio da nova equipe econômica para o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, após a vitória nas eleições do ano passado.
Nenhum dos prognósticos otimistas alardeados naquele momento histórico, em 27 de novembro de 2014, se confirmou - pelo contrário, a economia afundou numa recessão. Exceto as previsões de que o fiscalista Joaquim Levy não passaria mais de um ano no comando da Fazenda e seria substituído, mais cedo ou mais tarde, pelo desenvolvimentista Barbosa, o escolhido para comandar o Ministério do Planejamento. Um cargo que não era o mais desejado por ele, presença recorrente nas listas de apostas de candidatos para a Fazenda.
Considerado um economista “brilhante” por seus auxiliares mais próximos, que o acompanham há anos, Barbosa retorna agora ao prédio do Ministério da Fazenda, onde já foi o número dois na gestão de Guido Mantega. Tem pela frente a tarefa de buscar uma “luz no fim do túnel” para a retomada do crescimento. A frase que melhor resume o seu pensamento é de que sem crescimento não há como garantir o equilíbrio sustentável das contas públicas. Primeiro é preciso crescer.
Antiajuste
Na cadeira de Levy, ele precisará, no entanto, afastar a desconfiança do mercado financeiro e a pecha que ganhou de ministro do “antiajuste” das contas públicas. A fama de gastador foi alimentanda ao longo do ano por sua defesa, vitoriosa com a presidente, de enviar ao Congresso Nacional um orçamento com déficit primário e de redução da meta fiscal. A medida em defesa do “realismo fiscal” custou a perda do grau de investimento do Brasil pela agência de classificação de risco e piora na confiança dos investidores.
Assessores refutam essa imagem e alegam que ele fez o maior ajuste fiscal em 2015 desde que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi criada: um corte de R$ 134 bilhões, o equivalente a 2,31% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. “Barbosa não é antiajuste. Ele tem planejado um ajuste no mesmo montante para 2016. O mercado está tentando desconstruir ele ao dizer isso”, reclama um dos seus auxiliares próximos.
A ideia de que foi o construtor da nova matriz econômica - política adotada pela presidente no primeiro mandato e apontada como responsável pela crise econômica atual - também é contestada. Teria sido obra de Márcio Holland, ex-secretário do time de Guido Mantega.
Fla-Flu
Sem a polarização com Levy, que fez da Esplanada dos Ministérios ao longo do ano um verdadeiro “Fla-Flu” entre os ministros da equipe econômica, Barbosa deve conseguir agora implementar, mesmo que não de imediato, um sistema de “bandas” para as metas fiscais para garantir maior flexibilidade da gestão da política fiscal em momentos de choque econômico, como o de hoje.
O risco de que ele faça uma “guinada” na política econômica é hoje a maior preocupação dos investidores. Não se deve esperar, no entanto, uma reviravolta ou giro de 360 graus. Embora em campos muitas vezes opostos, a estratégia de Levy e Barbosa para o ajuste da economia traçado no segundo mandato não era lá muito diferente.
As divergências foram muito mais em torno da velocidade do ajuste e do processo de cortes de gastos do governo. Mas foram se alargando, nos últimos meses, com a disputa pelo poder na gestão da política fiscal e de medidas econômicas.
Os dois concordam que era preciso cortar gastos obrigatórios e uma reforma estrutural nas despesas do governo, principalmente com uma Reforma da Previdência. A diferença entre Levy e Barbosa estava na velocidade e no ritmo que esse processo de mudança deve ser encaminhado para não prejudicar os investimentos.
A falta de unidade, entrosamento e desconfiança mútua, no entanto, aliado ao temperamento forte e teimoso dos dois, acabou os distanciando ainda mais, com prejuízos para a condução da política econômica. Depois do fim da divisão de comando, com Barbosa na Fazenda, a principal missão agora é garantir a CPMF e os recursos necessários para dar fôlego no curto prazo às contas do governo. Sem dinheiro no caixa, seu espaço de atuação será menor. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo