A qualificação profissional é apontada como o principal entrave para quem busca uma vaga no mercado de trabalho. E o problema pode estar tanto na falta de qualificação, quanto no seu "excesso". Formada em farmácia e bioquímica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e com três pós-graduações nas áreas de biotecnologia, ciências da saúde e manipulação magistral, Úrsula Tomal busca há mais de um ano uma oportunidade para trabalhar na área farmacêutica. E, para ela, não restam dúvidas: é a boa qualificação profissional que a impede de conseguir um emprego."As empresas preferem os recém-formados, crus, que aceitam trabalhar pelo piso da categoria ou até mesmo por um valor mais baixo", interpreta. "Tenho vários amigos que se formaram comigo, investiram nos estudos, e que estão na mesma situação. Ou se sujeitam a trabalhar ganhando pouco, ou não trabalham".Segundo ela, o piso salarial na área de análises clínicas é de R$ 2,9 mil, mas as empresas oferecem vagas com salários entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil. "Apenas a anuidade do CRF [Conselho Regional de Farmácia] é de R$ 450. Investi mais de R$ 15 mil nos cursos de pós-graduação, tudo isso para receber um salário de R$ 1,5 mil? É injusto", considera.
Desempregado há nove meses, Bernardo Machado Canabarro vive o extremo oposto da situação desde que largou o emprego em um frigorífico na cidade gaúcha de São Gabriel. Cansado do frio da câmara de refrigeração e do salário de R$ 600, considerado insuficiente para sustentar a família, ele resolveu retomar a carreira de segurança privado, onde já havia atuado por três anos.
Para isso, Canabarro mudou-se para Curitiba, fez dois cursos de reciclagem e deve iniciar em breve uma especialização para trabalhar em carros-forte, função em que o piso salarial gira em torno de R$ 1,5 mil. Foi justamente este valor, o segundo melhor salário da categoria no Brasil atrás apenas do pago aos trabalhadores de Brasília , que pesou na decisão de se mudar para a capital paranaense. "Curitiba é uma cidade boa de morar, mas muito exigente para se conseguir trabalho. Não imaginei que ficaria tanto tempo procurando emprego", lamenta Canabarro que, no entanto, já recusou duas propostas que não se enquadravam nos seus planos. Uma delas, inclusive, em uma empresa de segurança, onde trabalharia para cobrir folga dos outros funcionários nos fins de semana e feriados. "O salário era de R$ 346, muito pouco. Preferi recusar para não sujar a carteira, já que um registro com um salário desses poderia me prejudicar na hora de negociar em um outro emprego", argumenta. A outra oportunidade foi para trabalhar como frentista em um posto de gasolina, com salário em torno de R$ 600. "Esse eu quase aceitei, mas não conseguiria dar andamento aos cursos de qualificação de segurança, área que paga um salário bem melhor", garante. Os recursos estão acabando, mas não estou desesperado. Quando surgir uma chance na área, sei que será um bom emprego. Vou continuar procurando, mandando currículos e investindo na qualificação", completa.