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Energia

Barril cotado a US$ 100 acende sinal vermelho

Economistas vêm alertando para uma possível recessão mundial desde 2004, quando o preço do petróleo começou a subir com força. Na época, o barril estava próximo dos US$ 30, e estimativas apontavam que cada US$ 10 adicionais representariam menos 0,2% de crescimento mundial. Desde então, o valor do óleo mais que triplicou e a economia mundial manteve uma rota de crescimento sem precedentes. Nos últimos meses, quando as cotações passaram a se aproximar rapidamente do recorde histórico, os alertas sobre o terceiro "choque do petróleo" voltaram às manchetes.

Há várias tentativas de explicação sobre o motivo de a economia mundial ainda não ter se retraído. E, assim como poucos têm coragem de arriscar a que nível chegará o preço no próximo ano – as projeções mais freqüentes variam muito, de US$ 75 a US$ 120 –, ninguém consegue afirmar ao certo sobre qual o risco de uma recessão. Só se vê alguma ênfase na afirmação de que, se houver um terceiro choque, ele não será tão dramático quanto os dois primeiros – em 1973 e em 1979. Foi em abril de 1980, na esteira da segunda crise, que o petróleo atingiu sua maior cotação, hoje equivalente a US$ 101,70 por barril.

"Em 2003, quando o barril estava em US$ 23, eu teria dito que uma cotação de US$ 100 seria catastrófica", diz Helder Queiroz, professor do grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "O que intriga, e que tem sido objeto de inúmeras pesquisas, inclusive de nosso grupo, é que nada aconteceu [após a alta]." Entre as possíveis razões, Queiroz cita a forte contribuição da China ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, que pode estar neutralizando os efeitos do petróleo.

O professor acrescenta que muitos países reduziram os impostos sobre derivados como a gasolina, aliviando pressões inflacionárias. Outra tese sugere que a escalada das cotações é conseqüência do crescimento da economia, tratando-se, portanto, de uma pressão natural de demanda. Nos choques dos anos 70, foi a brusca redução da oferta que afetou a economia. Além disso, naquela época não havia a variedade de combustíveis alternativos disponíveis hoje.

Se já é complexo explicar o que aconteceu nos últimos anos, as projeções são ainda mais incertas. "O atual quadro de oferta e demanda está apertadíssimo. Qualquer greve em país produtor, qualquer duto rompido aqui ou ali, qualquer tensão geopolítica causa forte oscilação nos preços", diz Queiroz. "Por outro lado, as petroleiras estão investindo e têm encontrado novas jazidas, o que alivia preocupações com a oferta."

O consultor do núcleo de negócios internacionais da Trevisan Consultoria, Pedro Raffy, está entre os que consideram o cenário digno de alerta. "Todo choque do petróleo representa risco para a economia mundial e, conseqüentemente, para a brasileira. Se o atual patamar se mantiver por muitos meses, os custos de produção das empresas subirão demais, os juros vão subir também, e aí vem recessão."

Para a economista Fernanda Feil, da consultoria Rosenberg & Associados, o petróleo tem hoje um peso menor no consumo. "O galão de gasolina nos Estados Unidos está entre US$ 2 e US$ 3. Teria de chegar a US$ 5 para ter o mesmo peso que nos anos 70", diz Fernanda. A Rosenberg projeta que o petróleo ficará muito próximo da cotação atual em 2008, mas duvida que ele venha a ser responsável por alguma crise. "O crescimento mundial deve cair de 5,2% para 4% em 2008, mas por conta dos problemas nos Estados Unidos e da pressão inflacionária de todas as commodities, não apenas do petróleo."

Em relação aos preços dos combustíveis no Brasil, poucos acreditam em forte alta: há anos a Petrobrás tem segurado os preços, e a persistente queda do câmbio tem reduzido o efeito da alta do barril.

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