Uma semana após a cúpula considerada "histórica" na União Europeia e com a região rumando para uma recessão, líderes europeus subiram o tom de críticas mútuas, deixando claro que estão longe de qualquer entendimento para barrar a crise. A Fitch Ratings também advertiu que um acordo parece "distante e que há tendência negativa para as dívidas da França e de outros seis países da zona do euro.
No campo retórico, os franceses tentaram, pelo segundo dia, desviar a atenção de seus problemas para o Reino Unido. Já a Itália criticou a Alemanha e a atitude da chanceler Angela Merkel de cobrar austeridade a todo custo do resto dos europeus.
Novos indicadores mostram que a França já pode estar em recessão e que deve se recuperar apenas lentamente em 2012. O país está ameaçado de perder a nota máxima "AAA para a classificação de sua dívida pública. Mas François Baroin, ministro das Finanças francês, dirigiu as baterias para o outro lado do Canal da Mancha.
"A verdade é que a situação do Reino Unido é muito preocupante. Hoje em dia, qualquer um prefere ser francês a ser britânico no nível econômico, disse Baroin. Um dia antes, o presidente do Banco da França, Christian Noyer, havia dito que as agências de classificação de risco deveriam considerar o rebaixamento da nota do Reino Unido antes da francesa.
O vice-premiê britânico, Nick Clegg, recebeu telefonema do primeiro-ministro francês, François Fillon, que teria tomado a iniciativa de procurá-lo para "dissipar mal entendidos. Mas, em comunicado, Clegg disse que os comentários franceses eram "simplesmente inaceitáveis". Já o premiê britânico, David Cameron, levou a guerra da economia para a religião. Em cerimônia em uma catedral em Oxford, deu a entender que britânicos são mais tolerantes que franceses. "Muitos me dizem que é bem mais fácil ser judeu ou muçulmano aqui no Reino Unido do que em um país secular como a França", afirmou.
Itália
Na Itália, o primeiro-ministro Mario Monti criticou a Alemanha, dizendo que o governo de Angela Merkel está dividindo o continente com sua estratégia "de fome por rigor fiscal". "A construção europeia deve ser orientada para um caminho de união, não de divisão", disse Monti. Ele acrescentou que o ajuste deveria ser feito no longo prazo e de modo sustentável.
A Alemanha lidera a pressão sobre países considerados "pecadores" do ponto de vista fiscal para que reduzam suas dívidas, e defende punição automática se ultrapassarem certos limites. Mas o premiê italiano recordou que Alemanha e França, os países que atualmente possuem as economias mais controladas, violaram o pacto de estabilidade e crescimento em 2003, apresentando déficits superiores aos autorizados.
Monti recebeu ontem um voto de confiança do Parlamento para novos cortes e aumento de impostos que ainda dependem do Senado. Mas entidades sindicais italianas alertaram para uma "explosão social" no país caso sejam adotadas as novas medidas de austeridade.