O Banco Central ontem piorou seus cenários de inflação para este e o próximo ano. Para 2013, o BC prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá 2,7% menos que os 3,1% estimados até então. A previsão ainda é melhor do que a colhida na pesquisa Focus que reflete as opiniões do setor privado, bancos, consultorias e universidades , que aponta expansão de 2,46%.
A meta de inflação é de 4,5%, com tolerância de 2 pontos percentuais. Para o BC, as chances de o IPCA estourar o teto neste ano é de 29%.
No ano passado, o PIB cresceu 0,9%. Em 2011, primeiro ano de governo da presidente Dilma Rousseff, o PIB havia aumentado 3,1%. O BC argumenta que os indicadores de atividades já vistos no segundo trimestre sugerem continuidade da recuperação, como a retomada da indústria e a manutenção da expansão do consumo das famílias, apesar de a estimativa de crescimento para esta última variável ter recuado de 3,5% para 2,6%.
A inflação elevada tem afetado a demanda dos consumidores, uma vez que afeta o poder de compra da população. E a perspectiva para a inflação piorou, na visão do BC. Segundo o relatório, o IPCA ficará em 6,0% neste ano pelo cenário de referência. A previsão anterior era de 5,7% para 2013. Para 2014, o prognóstico subiu de 5,3% para 5,4%.
O indicador voltará a estourar o teto da meta do governo no segundo trimestre deste ano no acumulado em 12 meses, chegando a 6,8%, recuando a 6,2% no terceiro trimestre e a 6% no quarto trimestre.
O Banco Central destacou que a maior volatilidade e "tendência de apreciação" do dólar são riscos considerados, mas defendeu que, na última década, o repasse da depreciação cambial para a inflação diminuiu. "Além disso, esse repasse tende a ser suavizado pelo ciclo de ajuste da política monetária ora em curso", trouxe o relatório, acrescentando que a inflação em 12 meses ainda apresenta tendência de elevação e que o balanço de riscos para o cenário prospectivo é desfavorável.
O dólar, até a quarta-feira, acumulava alta de 2% em relação ao real no mês, mas chegou a subir mais de 5% no mês em seu pior momento, quando ultrapassou o patamar de R$ 2,25, sob a expectativa de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, possa reduzir seu programa de estímulos e, consequentemente, diminuir a liquidez internacional.
Apesar de o BC repetir no relatório o tom forte de combate à inflação adotado nas últimas semanas, ainda não há consenso sobre a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) acentuar ainda mais o aperto monetário em julho, quando se reúne novamente.
Influenciado pela soja, IGP-M subiu 0,75% em junho
Agência O Globo
O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) variou 0,75% em junho, com destaque para forte alta dos preços no atacado, puxados pela cotação da soja no mercado internacional. Os dados foram publicados ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em 12 meses, o índice usado com frequência para o reajuste dos aluguéis , acumula alta de 6,31%.
"O resultado de junho interrompeu a desaceleração do índice vista desde setembro do ano passado", explicou Salomão Quadros, professor da FGV responsável pelo levantamento. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que mede a variação dos preços no atacado e responde por 60% do IGP-M, teve alta de 0,68% em junho, ante deflação de 0,30% em maio. A soja em grão (11,38%) e o farelo de soja (18,34%) foram os grandes responsáveis pela alta. Para o professor, no entanto, o aumento no grão é oriundo de especulações do mercado sobre se a grande safra americana esperada para esse ano irá se concretizar. "Essa dúvida deixa de existir quando começa a colheita, em agosto ou setembro. Isso quer dizer que, se a safra for grande como espera-se, essa alta será devolvida", completou.
Variação cambial
Quadros acrescentou ainda que a perspectiva para os próximos meses é de índices menores. Cálculos feitos por ele mostraram que, excluindo a variação da cotação internacional da soja e mantendo a valorização do dólar, o IGP-M de junho teria fechado perto de 0,3%. Agora, excluindo apenas a variação cambial mas mantendo a do grão, o índice geral de preços seria de 0,6% neste mês.