O Federal Reserve (banco central americano) manteve inalterado nesta quarta-feira (18) o seu programa de recompra mensal de US$ 85 bilhões em títulos públicos - mecanismo adotado para estimular o país após a crise de 2008. A decisão surpreendeu o mercado, que esperava um corte no programa para algo entre US$ 70 bilhões e US$ 75 bilhões mensais.

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As ações dos Estados Unidos subiram para patamares recordes de alta nesta quarta-feira (18), após o comunicado. A Bolsa brasileira atingiu seu maior nível em mais de três meses e o dólar caiu para o menor valor desde o final de junho, também depois da informação ser divulgada.

A notícia de que está mantido, por ora, o programa do Fed que desembolsa US$ 85 bilhões mensais no mercado americano anima os investidores do mundo todo porque parte desse dinheiro vira investimentos em outros mercados, especialmente nos emergentes, como o Brasil.

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Os analistas esperavam uma redução do programa para esta reunião de setembro baseados nas indicações dadas pelo presidente da instituição, Bem Bernanke, nos últimos meses sobre uma possível retirada gradual já a partir deste ano. "O aperto das condições financeiras observado nos últimos meses, se sustentado, poderia desacelerar o ritmo de melhora na economia e no mercado de trabalho", disse o Fed em comunicado.

A decisão foi tomada diante de um quadro um pouco mais sombrio para o crescimento econômico pintado por autoridades do Fed. Em um novo conjunto de estimativas trimestrais, o Fed projeta agora crescimento entre 2% e 2,3% neste ano, ante 2,3% a 2,6% em sua estimativa de junho. A redução da expectativa para o próximo ano foi ainda mais forte.

A maioria das autoridades, 12 de 17, também projetou que a primeira alta da taxa de juros não acontecerá antes de 2015, embora as estimativas sugiram que o patamar para avaliar um aumento da taxa deve ser atingido já no próximo ano. O Fed reiterou ainda que não começará a elevar os juros pelo menos até que o desemprego caia para 6,5%, desde que a inflação não ameace ir acima de 2,5%. A taxa de desemprego nos EUA estava em 7,3% em agosto. "Não podemos deixar as expectativas de mercado ditarem nossas ações", afirmou Bernanke. Ele assegurou que o Fed vai se esforçar ao máximo para comunicar as intenções da política monetária.

O Fed disse ainda que a economia ainda está realizando progressos, mesmo frente aos aumentos dos impostos e cortes de orçamento em Washington. As autoridades deixaram claro que ainda estão avaliando exatamente quando começar a reduzir o estímulo de compra de títulos. "O comitê decidiu aguardar mais evidências de que o progresso será sustentado antes de ajustar o ritmo de suas compras", disse. Esther George, presidente do Fed de Kansas City, foi novamente dissidente, afirmando estar preocupada com as bolhas financeiras devido à política de taxas de juros baixas do Fed. Repercussão

Segundo especialistas, embora a economia americana tenha, sim, mostrado que está se recuperando, o mercado de trabalho dos EUA ainda não está tão sólido quanto o Fed esperava para poder começar a reduzir seu programa. "A economia americana não está exatamente indo bem. O desemprego caiu, mas foi porque as pessoas desistiram de procurar trabalho, não porque foram contratadas", diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

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Para Perfeito, isso é evidenciado pelo corte nas projeções do Fed para o crescimento da economia dos EUA, anunciado junto com a decisão de manter o estímulo monetário no país nesta tarde. De acordo com a autoridade monetária americana, o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA deve crescer entre 2% e 2,3% em 2013 -a projeção anterior era de um avanço entre 2,3% e 2,8%. Para 2014, também houve corte na estimativa de crescimento, que passou para um crescimento entre 2,9% e 3,1%.

"Isso sugere, na minha visão, que a política acomodativa do Fed [programa de recompra mensal de títulos] deve continuar até meados de 2014. Já a taxa de juros só deverá subir em 2015", afirma o economista.

Câmbio

Além da manutenção do estímulo do Fed, que significa que a oferta de dólares no Brasil não será restringida no curto prazo, a desvalorização da moeda americana continua amparada pelas intervenções diárias do Banco Central brasileiro no câmbio.O Banco Central realizou pela manhã um leilão de swap cambial tradicional, que equivale à venda de dólares no mercado futuro. A autoridade vendeu, ao todo, 10 mil contratos com vencimento em 3 fevereiro de 2014, por US$ 497 milhões.

A operação estava prevista pelo plano da autoridade para conter a escalada do dólar. O programa do BC -que começou a valer em 23 de agosto- prevê a realização de leilões de swap cambial tradicionais de segunda a quinta, com oferta de US$ 500 milhões em contratos por dia, até dezembro.

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