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BC defende convergência suave para meta de inflação

Em um momento que a inflação acumulada em 12 meses ultrapassa os 6 por cento e que o mercado coloca em dúvida a eficácia da atuação do Banco Central, a autoridade monetária disse nesta quarta-feira ser recomendável buscar uma convergência "mais suave" para as metas, e que irá trabalhar para que isso ocorra em 2012.

Para o mercado, os comentários feitos no Relatório Trimestral de Inflação reforçam a visão de que o ciclo de alta de juro está perto do fim, uma vez que o cenário de 2011 já está dado.

No documento, o BC elevou a previsão para a inflação neste ano, de 5,0 para 5,6 por cento, mas cortou a projeção para o ano que vem, de 4,8 para 4,6 por cento, de acordo com o cenário de referência.

No lado da atividade, o BC reduziu sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano de 4,5 por cento para 4 por cento.

"Está em curso moderação da expansão da demanda doméstica, em ritmo que, apesar de incerto, tende a se acentuar devido a ações de política já implementadas. Além disso, o comitê pondera que a flexibilidade inerente ao regime de metas para a inflação permite que os efeitos primários do choque sejam acomodados", afirmou o BC no documento.

"Dito de outra forma, nas atuais circunstâncias, a boa prática recomenda buscar uma convergência mais suave da inflação para a trajetória de metas, à semelhança de estratégia adotada no passado pelo Banco Central."

O BC afirmou que sua estratégia pode eventualmente ser reavaliada, tanto na magnitude quando no momento das ações, mas que por enquanto visa 2012.

"O Copom ressalta que a estratégia de política monetária será implementada com vistas a conter os efeitos de segunda ordem do choque de oferta e a garantir a convergência da inflação para a meta em 2012."

O mercado de juros futuros reagiu ao relatório com forte queda, sobretudo na curva curta, com os investidores apostando em um aperto monetário moderado neste ano. O contrato janeiro de 2012 recuava para 12,15 por cento, ante 12,24 por cento no pregão anterior.

"O relatório é mais dovish do que o mercado poderia esperar. Sugere que o processo de alta de juro está próximo do fim", disse Vladimir Caramaschi, economista-chefe do Crédit Agricole Brasil.

Segundo o economista, os pontos que devem ser ressaltados são o fato de o BC "abandonar a meta de 2011 e focar a convergência em 2012, e voltar a defender com bastante ênfase que a política não tem que reagir aos efeitos diretos de um choque de oferta, só tomar cuidado para que isso não se espalhe".

A elevada inflação do começo do ano levou o mercado a rever para cima as projeções para o ano, mas grande parte dela deveu-se a movimentos pontuais e sazonais e a maiores custos de alimentos em meio a uma oferta menor devido a problemas climáticos, o que o BC ressaltou no relatório.

Nesta manhã, um índice de inflação já mostrou que as pressões sentidas no primeiro bimestre estão diminuindo. O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) subiu 0,62 por cento em março, ante 1 por cento em fevereiro .

O BC disse ainda que a probabilidade estimada de a inflação ultrapassar o limite superior da meta de inflação --que tem centro em 4,5 por cento e tolerância de 2 pontos para cima ou para baixo-- é de 20 por cento em 2011 e de 13 por cento em 2012.

Desacelerando

Outro ponto de divergência entre mercado e BC é sobre o arrefecimento da atividade e seu impacto sobre a inflação.

"Ele (BC) também mostra uma confiança maior que a do mercado de que a economia brasileira já está em desaceleração, que o hiato já está fechando, e que isso deve continuar", acrescentou Caramaschi.

O BC justificou a revisão para baixo da estimativa de crescimento econômico deste ano devido, principalmente, à "incorporação de dados preliminares do primeiro trimestre e da atualização do cenário macroeconômico para os seguintes".

"O atual ciclo de expansão da economia do país... registrou relativo arrefecimento nos dois últimos trimestres de 2010", diz o BC no relatório.

"A tendência de acomodação... deve persistir nos próximos meses, refletindo as ações de política monetária e de caráter macroprudencial, bem como a base de comparação mais elevada após a forte recuperação registrada ao longo de 2010, constituindo, assim, cenário favorável ao crescimento sustentável."

O prognóstico para a expansão da agropecuária neste ano aumentou de 0,5 por cento no relatório anterior para 1,9 por cento. A indústria deve crescer 4,2 por cento, abaixo da projeção anterior de 5,4 por cento. O cenário para o setor de serviços foi revisto de alta de 4,2 para 3,8 por cento.

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