• Carregando...
“É a grande vantagem de o Brasil ter adotado uma política conservadora, prudente: neste momento, temos recursos suficientes para enfrentar uma crise que afeta a todos. Temos recursos suficientes para enfrentá-la com serenidade.”Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. | Jamil Bita/Reuters
“É a grande vantagem de o Brasil ter adotado uma política conservadora, prudente: neste momento, temos recursos suficientes para enfrentar uma crise que afeta a todos. Temos recursos suficientes para enfrentá-la com serenidade.”Henrique Meirelles, presidente do Banco Central.| Foto: Jamil Bita/Reuters

Mercado eleva projeção para o câmbio

Com a recente valorização do dólar ante o real, que chegou a ser negociado a R$ 2,20, o mercado elevou as previsões para as taxas de câmbio no fim de 2008 e de 2009. Segundo a pesquisa Focus, compilação das principais projeções macroeconômicas de instituições financeiras, divulgada semanalmente pelo Banco Central, o dólar deve encerrar este ano valendo R$ 1,80 e, em 2009, a R$ 1,82. Na semana passada, o mercado fazia projeções de R$ 1,70 e R$ 1,77, respectivamente. Os economistas ouvidos pelo BC também reduziram a expectativa para o crescimento da economia em 2009. De acordo com o boletim Focus, a expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2008 subiu de 5,18% para 5,20%. Para 2009, caiu de 3,55% para 3,50%. Em relação à inflação, a expectativa para o IPCA, índice que serve de meta para o BC, ficou estável em 6,14%, depois de cair por nove semanas seguidas. A meta de inflação é de 4,5%, podendo chegar a 6,5% no intervalo de tolerância (teto da meta). Para o próximo ano, a taxa prevista recuou pela quarta semana, de 4,90% para 4,85%. A queda da inflação em 2009 para o centro da meta de 4,5% é um dos principais motivos que têm levado o BC a aumentar os juros neste ano. Para a taxa básica de juros, os economistas ainda prevêem uma alta da Selic dos atuais 13,75% para 14,25% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no fim de outubro e para 14,75% em dezembro. Houve mudanças em relação a 2009. Segundo a pesquisa, a previsão para a taxa básica no final do próximo ano caiu de 13,75% para 13,50% ao ano.

Na tentativa de acalmar os mercados num dia de perdas recordes na Bovespa, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fizeram um pronunciamento às pressas na tarde de ontem para mostrar aquilo que chamaram de "solidez" da economia brasileira e anunciar medidas de apoio às exportações.

Esse apoio ocorrerá de duas maneiras. Uma delas será feita por meio do BC, que irá repassar parte dos recursos das reservas internacionais do país para bancos que financiem o comércio exterior brasileiro. A outra será determinar ao BNDES que libere mais R$ 5 bilhões para linhas de crédito voltadas a empresas exportadoras.

No caso do BC, a novidade será a maneira como a medida será implementada: por meio de leilões, o BC irá conceder empréstimos a bancos que financiam exportações no Brasil. Em troca, esses bancos deverão entregar, como garantia, um valor equivalente ao do empréstimo em títulos negociados no mercado internacional.

Só poderão participar desse leilão bancos que operem com comércio exterior. Nem Mantega nem Meirelles disseram o valor a ser repassado aos bancos ou a data dos leilões. "Vai ser na medida do necessário", disse Meirelles As reservas internacionais do Brasil estão em cerca de US$ 206 bilhões.

Meirelles também não soube dizer quais títulos serão aceitos como garantia: se limitou a informar que papéis emitidos pelo governo brasileiro no exterior estarão entre os papéis a serem incluídos na transação e prometeu mais detalhes amanhã.

Fomento

Em relação ao BNDES, os R$ 5 bilhões ao financiamento de exportações fazem parte de um pacote de R$ 15 bilhões que o Tesouro Nacional já havia prometido injetar no banco estatal. O dinheiro será aplicado nas linhas do BNDES chamadas de "pré-embarque", que atendem a todas as empresas que operam no país, mas dão preferência às micro e pequenas. Por meio dessas linhas, o banco concede empréstimos aos exportadores do embarque da mercadoria vendida.

Quando a entrevista de ontem foi anunciada, no começo da tarde, a Bovespa registrava queda de 12%, e o "circuit breaker", mecanismo que interrompe o pregão em caso de variação muito brusca, já havia sido acionado duas vezes.

Nem Meirelles nem Mantega responderam a perguntas dos jornalistas, e boa parte do pronunciamento consistiu numa tentativa de transmitir tranqüilidade. "O Brasil não está imune. É uma crise global, que atinge mais os países mais fragilizados e menos os mais sólidos, como o Brasil", disse Mantega. "Sairemos dessa fase aguda, embora a crise vá continuar. Talvez a maior desde 1929. Na fase aguda, fica tudo pior. Com a desconfiança total, o mercado cai na irracionalidade e no comportamento de manada."

O ministro disse ainda que espera que a oferta de financiamentos para o Brasil deva se normalizar, embora com juros mais altos do que os praticados antes da crise.

"Quando os governos todos tomarem as providências necessárias, haverá reconstituição das linhas de crédito que secaram. Isso se dará em um patamar de menos crédito e com taxas mais elevadas."

Meirelles seguiu a mesma linha: "É a grande vantagem de o Brasil ter adotado uma política conservadora, prudente: neste momento, temos recursos suficientes para enfrentar uma crise que afeta a todos. Temos recursos suficientes para enfrentá-la com serenidade".

Ele também citou as medidas tomadas pelo BC nas últimas semanas para combater os efeitos da crise no Brasil como sinal de que o governo está atento ao agravamento da crise. Entre as iniciativas citadas estavam as mudanças nas regras do recolhimento compulsório dos bancos e os leilões de dólares feitos pelo BC no mercado de câmbio.

Agilidade ao BC

Em outra frente, o governo vai editar medida provisória que dará mais agilidade ao Banco Central (BC) para atuar na crise financeira. A informação foi dada pelos deputados Maurício Rands (PT-PE), Gilmar Machado (PT-MG) e Sandro Mabel (PP-GO), ao deixarem o Palácio do Planalto, depois de participar da reunião do Conselho Político do governo, com a presença do presidente Lula. O líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), disse que a MP sairia ainda hoje.

Segundo os parlamentares, a medida contemplaria três pontos: garantia a empréstimos feitos para empresas exportadoras, autorização para que o BC possa comprar carteiras de créditos de pequenos e médios bancos, e maior clareza nas operações de leasing.

Na reunião, segundo os líderes, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fizeram uma exposição sobre a crise e as medidas a serem adotadas para enfrentá-la. Na reunião, Lula não poupou críticas ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo relato de três líderes que participaram do encontro, o presidente disse que o FMI só serviu para fiscalizar os países emergentes e nada fez para regular as nações ricas.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]