Pesquisa focus
Mercado eleva previsão para 2011
O mercado elevou a previsão para a inflação oficial o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano para 5,66%, ante 5,64% na semana anterior, registrando a nona alta consecutiva. A previsão se afasta cada vez mais do centro da meta proposta pelo Banco Central, de 4,5%. Para 2012, a projeção foi reduzida de 4,70% para 4,61%, segundo o boletim Focus divulgado pelo BC ontem. Já a expectativa do mercado para a taxa básica de juros (Selic) permaneceu em 12,50% ao ano para o fim de 2011 e em 11% para 2012. A projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) também não foi alterada, ficando em 4,60% e 4,50%, respectivamente. A estimativa para o dólar passou de R$ 1,75 para R$ 1,73 ao fim de 2011 e, para 2012, permaneceu em R$ 1,80.
Folhapress
Após quase 12 anos e em um momento em que o brasileiro volta a alimentar a preocupação com o retorno da inflação, o Banco Central convidou coordenadores de institutos de pesquisas de preços do país e especialistas da academia internacional para discutir formas de refinamento técnico e melhora da qualidade dos indicadores de inflação. Foram três dias de trabalhos intensos, de segunda a quarta-feira da semana passada, na sede do BC, em Brasília.
O grande destaque entre os trabalhos apresentados acabou sendo o do professor Ricardo Reis, da Universidade Columbia (Estados Unidos), que se baseia na Metodologia de Índices de Preços Dinâmicos e que sustenta um Índice de Custo de Vida, ainda embrionário, levando em consideração a substituição intertemporal. Pelo estudo apresentado pelo professor de Columbia, há que se considerar que, quando o preço de um produto de uso costumeiro sobe, o consumidor pode deixar de comprar o produto caro e usar o dinheiro para adquirir um ativo financeiro, por exemplo, e angariar algum lucro enquanto o produto ou serviço de sua preferência não volta ao preço anterior.
Paulo Picchetti, da FGV, recorre à figura de um aparelho eletrônico para explicar a ideia por trás da proposta do professor português. "Se o preço de televisor sobe e o consumidor sabe que ele voltará ao nível anterior, ele não o substitui por outro produto Apenas deixa de comprá-lo e usa o recurso para, por exemplo, comprar um CDB", explica o professor da FGV. Comportamentos e operações desta natureza, de acordo com os especialistas, não são captados pelos índices atuais de inflação, que, com raras exceções, seguem a metodologia do economista estatístico alemão Etienne Laspeyres, que ignora o comportamento de substituição do consumidor no mundo real, conforme explica o economista-sênior do Besi Investimento do Brasil, Flávio Serrano.
Heron do Carmo, professor da Universidade de São Paulo (USP), presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo e representante da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), contribuiu para a série de estudos e debates apresentando trabalho em defesa da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) contínua, que nada mais é que uma pesquisa de orçamento familiar mensal, em vez de atualizações a cada dez anos. Pela proposta de Heron, um grupo de mil famílias seria pesquisado a cada mês e, depois de um ano, estes grupos voltariam a ser visitados para informar eventuais mudanças na estrutura de consumo.
Para Serrano, do Besi Investimentos, faz sentido a proposta do professor da Fipe porque o que o professor Reis, da Universidade Columbia, sugere com sua Metodologia de Índices de Preços Dinâmicos só pode ser captado a cada realização de uma nova POF e sua comparação com a anterior. Ocorre que, em dez anos, a estrutura de gastos de uma família muda muito e acaba deixando os indicadores defasados e os resultados, eventualmente, distorcidos. Esta é, de acordo com Heron do Carmo, uma das preocupações do Banco Central. Carmo saiu muito satisfeito do encontro por ter visto na autoridade monetária vontade e disposição de receber e ouvir os coordenadores de pesquisa de preços no sentido de melhorar a qualidade das informações.
Encontro semelhante ao workshop "Medidas Alternativas de Custo de Vida" ocorreu apenas em 1999, logo após a adoção pelo Brasil do Regime de Metas Inflacionárias e ano em que IPCA fechou em 8,94%, quase um ponto porcentual acima da meta de 8%, pressionado, entre outras coisas, pela forte desvalorização cambial, de 48,1%. Em dezembro de 1999, a Selic estava em 19% ao ano, mas tinha experimentado o nível de 45% em março.Para Carmo, da USP, o ideal era que este tipo de encontro ocorresse pelo menos uma vez por ano. "O trabalho de pesquisa de preços é muito solitário e o BC acabou abrindo um fórum para que pudéssemos compartilhar e debater nossas experiências", afirma. Paulo Picchetti também diz ver com bons olhos a iniciativa do BC em se aproximar mais da academia e dos institutos de pesquisas de preços. Outros participantes incluíam os economistas e professores da FGV Salomão Quadros e André Braz; e representantes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
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