O Banco Central espera um reajuste da tarifa de energia elétrica de 9,5% em 2014, de acordo com o Relatório Trimestral de inflação divulgado nesta quinta-feira (27). A projeção anterior era de 7,5%. Era esse o número que constava da ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do final de fevereiro, quando a instituição subiu a taxa básica de juros 10,50% para os atuais 10,75% ao ano.
O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, afirmou que o modelo de previsões do BC não tem como incorporar, por exemplo, o pacote anunciado recentemente pelo governo para equilibrar as contas do setor elétrico.
A instituição também não se manifestou sobre a possibilidade de racionamento e o seu impacto nos preços. Disse apenas que o número considera as condições de oferta e demanda de energia.
Gasolina
Hamilton citou a política de adiamento de reajuste de preços administrados, como energia, gasolina e transportes, como um dos fatores que atrapalham o trabalho da instituição de administrar as expectativas de inflação.
"É um vento contrário, porque certamente as expectativas de inflação trabalham com a correção desses preços em algum momento. Então dificulta a administração dessas expectativas", afirmou.
A instituição não divulgou sua projeção para o reajuste da gasolina. Informou apenas que, até fevereiro, o aumento foi de 0,6%. Na ata do Copom, a previsão era de estabilidade no preço em todo o ano.
O BC reviu também a projeção de reajuste do conjunto de preços administrados de 4,5% para 5%, tanto em 2014 como em 2015.
Estouro da meta
A expectativa de inflação mais alta e a revisão dos preços administrados estão entre os fatores que fizeram o BC elevar suas projeções de inflação neste e no próximo ano. A projeção que considera o nível atual dos juros e um câmbio dentro da média recente subiu de 5,6% para 6,1% para 2014.
Será o segundo ano seguido de aumento do IPCA, que ficou em 5,9% em 2013 e 5,8% em 2012. O IPCA chegaria a 6,4% em setembro, próximo do centro do limite de tolerância da meta, que é de 6,5%. Segundo o BC, a chance de estouro do teto da meta no fim do ano é de 38% nesse cenário.
"O Copom entende que uma fonte relevante de risco para a inflação reside no comportamento das expectativas de inflação, impactadas negativamente nos últimos meses pelo nível da inflação corrente, pela dispersão de aumentos de preços e pelas incertezas que cercam a trajetória de preços com grande visibilidade, como o da gasolina e os de alguns serviços públicos, como eletricidade", diz o documento.
Ao apresentar os números, o diretor do BC citou ainda como fatores para a revisão índices acima do esperado em meses recentes e o choque no preço dos alimentos. Carlos Hamilton disse que o BC divulga projeções para os próximos 24 meses.
Nesse horizonte, a inflação deve recuar gradativamente até 5,4%. Confirmadas as previsões, a inflação ficaria em todo esse período acima do centro da meta (4,5%).
A instituição disse que parte do efeito do aumento dos juros já realizado ainda terá efeito sobre os preços e que continuará vigilante.