Pela terceira vez seguida, o Banco Central (BC) reajustou os juros básicos da economia. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou nesta quarta-feira (21) a taxa Selic em 0,5 ponto porcentual, para 12,25% ao ano.
O órgão manteve o ritmo do aperto monetário. Na reunião anterior, no início de dezembro, a taxa também tinha sido reajustada em 0,5 ponto.
A decisão do Copom foi tomada dois dias depois que o Ministério da Fazenda aumentou impostos de importação, de crédito, para o setor de cosméticos e para os combustíveis. As medidas podem ser um agravante para a já esperada estagnação da economia este ano.
Mais cedo, na Suíça, o titular da pasta, Joaquim Levy, disse que o Brasil poderá registrar um Produto Interno Bruto (PIB) negativo em algum dos trimestres de 2015 e que o desempenho da economia brasileira estaria próximo a zero.
Apesar disso, as ações foram bem recebidas pelo mercado porque significariam maior austeridade do governo, ajudam na eficácia da política monetária e auxiliaram até na valorização do real, o que é um problema a menos para a inflação que o BC promete controlar.
A questão é que, ao mesmo tempo, esse aumento da carga gera outras pressões sobre os preços, principalmente os administrados pelo governo, que já estão mais sobrecarregados este ano.
"Apesar de o colegiado estar olhando para 2016 e aceitando uma maior inflação corrente, é importante perceber que a batalha contra as salgada expectativas de inflação está longe de ser vencida e passa por combater com ações efetivas os choques atuais, que encontram na perda de credibilidade da autoridade monetária e no pleno emprego ambiente propício para gerar os chamados efeitos de segunda ordem", afirma o banco Pine em relatório.
Para Nicolas Tingas, economista-chefe da Acrefi (que reúne instituições de crédito e financeiras), a alta foi compatível com o que o mercado esperava. "O Banco Central não quer trazer a inflação para a meta este ano. Apenas sinalizar ao mercado que está observando o aumento de preços e também impedir que a economia desacelere mais", afirma.
Em alta
Com o reajuste, a Selic chega ao maior percentual desde agosto de 2011, quando estava em 12,5% ao ano. A taxa é o principal instrumento do BC para manter a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), dentro da meta estabelecida pela equipe econômica.
De acordo com o Conselho Monetário Nacional, o centro da meta de inflação corresponde a 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos percentuais, podendo variar entre 2,5% (piso da meta) e 6,5% (teto da meta).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IPCA somou 6,41% em 2014. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, o IPCA encerrará 2015 em 6,67%, acima do teto da meta.
A projeção deve subir nas próximas semanas por causa dos aumentos da energia, dos combustíveis e da alta de tributos sobre produtos importados anunciados recentemente pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Embora ajude no controle dos preços, o aumento da taxa Selic prejudica o reaquecimento da economia, que ainda está sob efeito de estímulos do governo, como desonerações e crédito barato.
De acordo com o boletim Focus, analistas econômicos projetam crescimento de apenas 0,38% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma dos bens e serviços produzidos pelo país) neste ano.
Efeitos
A taxa Selic é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia.
Ao reajustá-la para cima, o BC contém o excesso de demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Quando reduz os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas alivia o controle sobre a inflação.