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Momento delicado

Fernando Jasper, repórter de Economia

A decisão do Copom ocorre em momento delicado. De um lado, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 6,75% ao ano em setembro, um tanto acima do nível de tolerância da meta perseguida pelo Banco Central. A meta é de 4,5%, mas tolera-se até 2 pontos porcentuais acima dela. Visto por esse ângulo, algum aumento do juro básico parecia mesmo necessário.

De outro lado, a economia se arrasta: a expectativa do mercado financeiro é de que o PIB cresça apenas 0,27% neste ano e 1% em 2015. Com uma taxa de juros mais alta, o avanço pode ser ainda mais tímido, principalmente no ano que vem.

Elevar a Selic, que serve de referência para grande parte dos empréstimos, tem o efeito de limitar um pouco a busca por crédito. Os financiamentos vão ficar mais caros e, com isso, o consumidor tende a consumir menos, o que em tese reduz a pressão sobre os preços ao mesmo tempo em que esfria a atividade econômica.

Ocorre que o efeito não é tão imediato assim – alguns estudos indicam que uma alta da Selic pode demorar mais de meio ano para dar resultado. Há outros problemas. Uma taxa mais alta não influencia em nada os empréstimos a juros subsidiados concedidos pela Caixa, o Banco do Brasil e o BNDES. E tampouco terá impacto sobre os reajustes de preços administrados, como a gasolina e o transporte público, que em algum momento virão.

Mas a decisão do Copom tem um componente psicológico importante. O mercado financeiro, que ainda aguarda o nome do novo ministro da Fazenda, pode interpretá-la como um sinal de que o governo reeleito está, sim, preocupado com a inflação e quer trabalhar para baixá-la mais rapidamente.

Numa decisão totalmente inesperada, o Banco Central (BC) decidiu elevar ontem a taxa básica de juros, para 11,25% ao ano, na primeira ação depois da reeleição da presidente Dilma Rousseff. Desde abril, a Selic estava em 11% ao ano. No comunicado que se seguiu à decisão, a diretoria da instituição avaliou que seria oportuno ajustar as condições monetárias para garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016.

INFOGRÁFICO: Veja o histórico da taxa básica de juros

Com a surpresa, os economistas começam hoje a refazer os cálculos para as projeções de vários indicadores e também para definir as apostas para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para o início de dezembro. Até porque havia unanimidade entre os analistas de que a taxa seria mantida em 11% ao ano.

Um fator que será fundamental para o BC nas próximas decisões de política monetária é o comportamento do dólar. Principalmente depois que o Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos) anunciou na tarde de ontem que não irá mais continuar com seu programa de compra de ativos. Embora amplamente esperado, o encerramento pressiona as moedas de países emergentes, como o real.

Além disso, a divulgação é vista como um prenúncio de que a alta dos juros por lá está mais próxima. O anúncio se deu antes do início da segunda parte da reunião do Copom e se encaixa no teor do alerta feito pela diretoria do BC no Relatório Trimestral de Inflação de setembro sobre a aversão ao risco que se instalou no mercado internacional.

Pressão

Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 6,75%. A meta de inflação este ano é de 4,5% com margem de tolerância de dois pontos porcentuais. "Foi uma decisão correta para conter a expectativa de inflação. Essa surpresa funcionou como um bom primeiro passo para recuperar a confiança do mercado. É um custo baixo para o ganho em credibilidade, que é o grande problema do Brasil", disse Luiz Eduardo Portella, gestor da Modal Asset.

A alta da Selic também foi vista por analistas como um sinal de que o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, permanecerá no cargo. "Essa é a primeira grande ação de política econômica do segundo mandato de Dilma, antes mesmo do anúncio do novo ministro da Fazenda. O governo quer enviar um sinal ao mercado de que não está para brincadeira no combate à inflação", afirmou o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito. "Se Tombini está fazendo isso, é para mostrar que ele continuará à frente do BC".

Indefinição

Ninguém apostava também que o BC decidiria por uma guinada na política econômica sem saber quem ocupará a cadeira de ministro da Fazenda, porque fica difícil traçar projeções para a política de gastos públicos. Como o governo representa um terço da economia brasileira, a velocidade de crescimento de suas despesas pode continuar sendo combustível para a inflação. Neste ano, por exemplo, o BC teve de trabalhar dobrado porque a União elevou seus gastos em porcentual maior que as receitas.

Racha

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