O Banco Central elevou ontem o juro básico da economia, a taxa Selic, em 0,50 ponto porcentual, para 10,5% ao ano. Foi a sétima alta seguida. A autoridade monetária ainda deixou aberta a possibilidade de pelo menos mais um aumento.
A decisão foi unânime e confirmou a aposta de parte dos economistas, baseada no atual cenário de pressão inflacionária. Até a semana passada, antes da divulgação da inflação de dezembro, o BC sinalizava uma alta mais suave nos juros.
Indicador "oficial" de inflação no país, o IPCA avançou 0,92% no mês passado, a maior taxa para dezembro desde 2002. E fechou 2013 em 5,91%, acima das expectativas.
A elevação dos juros é um instrumento usado pelo governo para conter o consumo, uma vez que o crédito tanto empréstimos em instituições financeiras quanto parcelamentos em lojas, por exemplo fica mais caro. E, com menos demanda, a inflação tende a ceder.
Para o futuro, as apostas dos economistas variam. Alguns acreditam que a Selic fique estável a partir de agora até o fim de 2014 e outros preveem mais altas, com a intensidade a depender da inflação.
Na avaliação de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, a Selic pode encerrar 2014 em até 11,25% ao ano, sendo mais duas altas, em fevereiro e em abril, de 0,50 e 0,25 ponto porcentual, respectivamente. "O BC tem que lidar com muitas questões [como inflação alta e crescimento fraco, por exemplo] ao mesmo tempo utilizando apenas um instrumento", diz.
O economista Luciano Rostagno, do Banco Mizuho, afirma que a atividade econômica fraca do país, principalmente pelo desempenho da indústria, deve impedir o BC de subir muito mais a Selic. "Indicadores de atividade da indústria sugerem que a produção do setor registrou forte queda na margem em dezembro, após sofrer ligeira contração em novembro", diz.
Para o economista da LCA Antônio Madeira, o ajuste na Selic demonstra que a maior preocupação do BC no momento é com a inflação. "Esse aumento de 0,5 ponto provavelmente é resultado do IPCA", diz.
Impacto
A Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp) defenderam, em nota, que a decisão do Copom de elevar a Selic em 0,50 ponto impede uma possível retomada da indústria.
"Com este novo aumento da taxa Selic, 2014 começa mal, indicando que a esperada retomada da indústria ficará para depois", afirma Paulo Skaf, presidente da Fiesp/Ciesp. "A inflação precisa ser contida, mas é necessário buscar alternativas para combatê-la que não penalizem tanto a atividade econômica e a vida das empresas e das pessoas", completa.