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Crise

BC ganha motivo para elevar juro

Marcelo Curado, da UFPR: crise comparável ao crash de 1929. | Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo
Marcelo Curado, da UFPR: crise comparável ao crash de 1929. (Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo)

O dólar deve manter sua tendência de alta pelo menos até o fim do ano, o que pode dar fôlego extra à inflação. O Banco Central terá novos motivos para continuar elevando a taxa de juros, o que vai encarecer os financiamentos e desestimular o consumo. E, a partir de 2009, o Brasil pode voltar a conviver com taxas medíocres de crescimento econômico, na casa dos 3%.

Esses devem ser os efeitos, em terras brasileiras, do colapso financeiro norte-americano – a maior crise já vista pelo planeta desde 1929, segundo o doutor em Economia Marcelo Curado, chefe do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná. Estudioso de crises cambiais e financeiras, Curado pondera que é improvável que a economia nacional venha a se retrair – para ele, o país vai penar bem menos que nas sucessivas crises da segunda metade da década passada. E, em meio à falência de instituições centenárias nos Estados Unidos, ele garante: não há qualquer motivo para temer quebras de bancos no Brasil.

Desde quando o mundo não via uma crise assim?

O próprio Alan Greenspan [ex-presidente do banco central americano], disse que esse tipo de crise acontece a cada 50 anos, ou até 100 anos. É uma crise comparável à de 1929, quando houve a quebra da Bolsa de Nova Iorque.

A crise também será traumática para o Brasil?

Não. Não acredito que teremos aqui algo parecido com o que sofremos nas crises dos anos 90, por exemplo. E, ao menos por enquanto, estamos muito longe de vislumbrar uma queda do PIB [Produto Interno Bruto, soma das riquezas geradas pelo país]. O país está em uma situação tranqüila, pois os fundamentos de sua economia estão muito mais sólidos. É inegável que o ritmo de expansão mundial vai diminuir, o que vai se refletir no crescimento brasileiro. Mas retração, não.

Que taxas de crescimento podemos esperar?

O PIB brasileiro de 2008 quase não será afetado, e deve registrar expansão de cerca de 5%. Mas as previsões para 2009 [atualmente o mercado espera expansão média de 3,6%] serão revistas para baixo, para algo entre 3% e 3,5%. Se o Brasil já cresceu menos ao longo dos últimos 15 anos de expansão mundial, será ainda mais difícil em meio à recessão global.

Qual deve ser o primeiro impacto da crise no Brasil?

Para começar, a Bovespa e o dólar vão continuar com muita volatilidade, por conta da saída de capital estrangeiro. A tendência para os próximos três ou quatro meses é de alta do dólar. Mas a médio e longo prazo, passado o abalo, a tendência é de que o dólar volte a perder força, no mundo todo e principalmente no Brasil.

O que podemos esperar para a taxa de juros?

O Banco Central vai continuar elevando os juros, já que dólar em alta pressiona a inflação. O aumento dos juros também serve para limitar a fuga de investimento estrangeiro em épocas de forte instabilidade, como agora.

De que maneira as empresas brasileiras serão afetadas?

Para os exportadores, a situação é bastante complicada. A partir de 2009, deve haver redução de exportações para mercados desenvolvidos, sobretudo o americano. Os preços das commodities devem recuar e afetar seus produtores. Para quem trabalha mais com o mercado doméstico, a provável redução do crescimento, a queda da confiança do consumidor e o aumento dos juros tendem a desestimular o consumo e inibir o investimento industrial.

Os consumidores também devem sofrer?

Temos que conferir como os bancos vão agir em relação ao crédito. Pode ser que aumentem as restrições e também os juros, pois os banqueiros sempre ficam mais conservadores em meio a crises. E isso, claro, dificultaria o consumo para boa parte da população.

Poderemos esperar quebras de bancos por aqui também?

Não há nada que indique uma crise no sistema bancário brasileiro. Os bancos brasileiros não têm relações fortes com os bancos internacionais que estão em colapso. Hoje nosso sistema bancário é muito mais sólido e, ao contrário dos bancos de vários países, os brasileiros não negociaram os títulos podres do subprime que causaram essas quebras no exterior.

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