Na Câmara dos Deputados, Mantega e Meirelles negaram que governo tenha subestimado a crise.| Foto: Jamil Bittar/Reuters

O Banco Central já movimentou US$ 22,8 bilhões no mercado de câmbio para tentar conter a subida do dólar, desde o dia 19 de setembro, segundo dados apresentados ontem pelo presidente da instituição, Henrique Meirelles, durante audiência pública na Câmara dos Deputados. Desse total, US$ 8,5 bilhões saíram diretamente das reservas internacionais do país e o restante foram operações no mercado futuro. Mesmo com todas essas intervenções, o dólar continua em alta e subiu 5% no último pregão, cotado a R$ 2,23.

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Para Meirelles, o valor "não é quase nada" perto da injeção de US$ 595 bilhões nos sistemas financeiros americano e europeu. Na mesma audiência, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo não vai assumir os prejuízos registrados pelas empresas com derivativos de câmbio. Várias empresas exportadoras fizeram operações no mercado financeiro apostando na queda do dólar e tiveram grandes perdas quando a moeda americana disparou, em virtude da crise: "Essas empresas é que terão que arcar com os prejuízos, pois o governo não vai fazê-lo. O governo não vai dar um tostão."

Mantega disse que o governo não sabe de fato o volume do prejuízo com derivativos cambiais. Informações extra-oficiais dão conta que cerca de 200 empresas exportadoras estariam envolvidas em dificuldades decorrentes dessas operações. Apenas a Sadia, a Aracruz e a Votorantim assumiram publicamente perdas que variam entre R$ 760 milhões e R$ 1,95 bilhão. Para o ministro da Fazenda, todas as companhias que fizeram essas operações são saudáveis, com boa lucratividade e terão condições de enfrentar o problema. "Tenho lido nos jornais que muitas estão em negociações com os bancos que fizeram as operações para encontrar uma solução."

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O ministro da Fazenda fez questão de ressaltar que todas as operações para a melhoria da liquidez interna e para o socorro a vários setores econômicos, inclusive o bancário, estão sendo feitas pelo governo dentro das regras de mercado, sem que empresas ou setores estejam sendo beneficiados com recursos públicos. "O governo não está dando socorro a nenhuma empresa ou banco. Estamos adotando procedimentos de mercado, inclusive com o uso dos depósitos compulsórios (dinheiro que os bancos são obrigados a deixar no Banco Central).

Oposição

Durante a audiência pública, vários parlamentares da oposição disseram que o governo subestimou a crise, ao apresentar o Brasil como uma ilha de tranqüilidade em meio à turbulência mundial, numa atitude que o deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC) classificou como "otimismo de fachada". O líder do PPS, deputado Fernando Coruja (SC), viu "um certo exagero no otimismo" do ministro Mantega, que estimou um crescimento entre 4% e 4,5% no próximo ano.

"O governo precisa ter mais responsabilidade, sob o risco de vender ilusão", afirmou Coruja. O líder da minoria, Zenaldo Coutinho (PSDB-PA), pediu que o governo defina "uma estratégia de enfrentamento da crise" e adote um pacote de medidas que ajudem a restabelecer a confiança dos mercados. Ao rebater as críticas, Mantega disse que em julho o governo elevou o superávit primário em mais 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) "com um olhar para a crise". Ele negou que tenha subestimado a crise ou que o governo não tenha agido com presteza.

Para Mantega, a crise financeira global não está próxima do fim e ainda dará "muita dor de cabeça" ao país. "Eu não acredito que a crise esteja acabando, ou em vias de acabar. Ela ainda vai nos dar muita dor de cabeça e muito trabalho."

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