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Conjuntura

BC: inadimplência no Brasil não cede e crédito desacelera

A cautela dos bancos na concessão de crédito e os patamares altos de endividamento das famílias estão segurando o crescimento do mercado de crédito brasileiro, em meio à inadimplência ainda elevada. O Banco Central mostrou nesta sexta-feira (26) que a taxa de atrasos nos pagamentos acima de 90 dias permaneceu no elevado patamar de 5,9% no mês passado, pelo terceiro mês consecutivo. Para pessoas físicas, ela continuou em 7,9% e, para empresas, apresentou leve recuo de 0,1 ponto sobre agosto, para 4%.

"Os bancos estão mais cautelosos por conta da inadimplência. As famílias estão mais endividadas e está cada vez mais difícil pegar financiamento com prazos mais longos", afirmou o economista da LCA Wermeson França.

O principal vilão tem sido o crédito automotivo, que acumula os maiores calotes. No mês passado, a taxa desse segmento subiu 0,1 ponto percentual, para 6 por cento, próximo do recorde histórico de 6,1 por cento atingido em maio deste ano.

O chefe do departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, admitiu que a inadimplência tem surpreendido, mas voltou a defender que ela vai ceder até o final do ano. "Tínhamos a expectativa que ela iria cair agora em setembro. Pode ser que a greve tenha influenciado isso", afirmou ele, referindo-se à paralização dos bancários no mês passado.

Diante do cenário ainda de calotes elevados, as taxas médias de juros para pessoas físicas voltaram a subir depois de seis meses consecutivos de queda, passando de 35,6 para 35,8 por cento ao ano em setembro. Em outubro, o movimento continua: até o dia 17, ainda segundo o BC, ela já estava em 36,5 por cento.

No geral, os juros médios subiam para 30,1 por cento em outubro, também até o dia 17, apesar de terem recuado 0,2 ponto percentual, para a mínima histórica de 29,9 por cento em setembro, sobre o mês anterior.

Para França, da LCA, os juros tendem a se estabilizar nestes patamares porque já houve quedas expressivas antes, além de as concessões não estarem sendo mais expressivas. Segundo o BC, as taxas médias recuaram, entre março e setembro, 8,2 pontos percentuais.

"As taxas de juros devem se manter neste atual patamar, que é bastante baixo", afirmou o economista, acrescentando que a margem de manobra do governo para forçar mais quedas nos juros se estreitou.

O governo tem travado uma batalha com o sistema financeiro privado para forçar a queda nas taxas de juros cobradas dos clientes e, para isso, tem usado os bancos federais Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Além disso, o BC cortou a Selic para a mínima histórica de 7,25 por cento.

Esse movimento abalou a rentabilidade das principais instituições financeiras privadas do país, que têm se mostrado cautelosas frente ao mercado de crédito. O lucro do Itaú Unibanco, por exemplo, encolheu mais de 10 por cento no terceiro trimestre na comparação anual, com aumento das provisões para calotes e queda da margem financeira.

Crédito moderado

O cenário de alta inadimplência acaba segurando o crescimento do estoque total de crédito. Em setembro, houve alta de 1,1 por cento sobre agosto, chegando a 51,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), ou 2,237 trilhões de reais.

Na comparação anual, a expansão ficou em 15,9 por cento, o menor desde dezembro de 2009, quando foi de 15,2 por cento. O BC projeta que o mercado de crédito vai crescer 16 por cento neste ano, sustentado sobretudo pelos bancos públicos.

Em setembro, essas instituições registraram aumento de 2 por cento em seus estoques de crédito, mantendo o ritmo do mês anterior. Os bancos privados nacionais, por sua vez, desaceleraram, com alta de apenas 0,2 por cento no mês passado; em agosto, a expansão havia sido de 0,9 por cento.

"Ainda que estabilizada, a inadimplência elevada ainda fará com que os bancos privados sigam criteriosos nas novas concessões. Portanto, a tendência de maior participação das instituições financeiras do setor público também deve prosseguir", escreveu a equipe econômica do banco Votorantim, por meio de nota.

A demanda por crédito tem se reduzido também por causa do endividamento das famílias ainda elevado e do maior rigor dos bancos para se protegerem contra os calotes. Em agosto, último dado disponibilizado pelo BC, as famílias tinham 22,36 por cento da renda comprometida com o pagamento de dívida, patamar considerado elevado.

Segundo Maciel, do BC, a greve bancária no mês passado explica também a desaceleração no mercado e a alta nos juros, argumentando que a paralisação favorece a tomada de créditos mais caros, como o cheque especial e o cartão de crédito.

"Essas paralisações favorecem o crédito imediato, prontamente disponíveis. São linhas com taxas mais altas", afirmou Maciel, ressaltando que, sem a greve, poderia ter havido queda no juros e nos calotes no mês passado.

O BC informou também que o spread bancário total --diferença entre o custo de captação do banco e a taxa efetivamente cobrada do consumidor final-- atingiu 22,3 pontos percentuais em setembro, contra 22,5 pontos no mês anterior.

Em outubro, até o dia 17, ele já voltou a crescer, chegando a 22,7 pontos percentuais.

Para pessoa física, houve alta de 0,2 ponto percentual no mês passado, a 27,9 pontos. Para empresas, a taxa recuou 0,4 ponto, a 15,3 pontos.

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