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O ministro Mantega, em entrevista: sugestão de banda cambial | Ueslei Marcelino/Reuters
O ministro Mantega, em entrevista: sugestão de banda cambial| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

23/11/12 - O teto

Em fins de novembro passado, o ministro Mantega defendia o patamar de R$ 2 para o dólar como fato consumado. O discurso do governo, à época, era de que era preciso manter um câmbio um pouco mais elevado para dar competitividade à indústria nacional no comércio exterior. Durante alguns meses, a indústria esteve em paz com a administração federal. Além do câmbio adequado (ao menos para os exportadores), havia medidas protecionistas como a elevação de IPI para os carros de montadoras que não têm fabricação no país.

"Temos uns quatro ou cinco meses com câmbio acima de R$ 2, o que mostra que veio para ficar."

Guido Mantega, ministro da Fazenda.

8/2/13 - O piso

Agora, o Banco Central passou a atuar no mercado de forma a contribuir para quedas na cotação do dólar. Nesta semana, o dólar recuou para patamares de 8 ou 9 meses atrás. Isso coincide com a constatação de que a inflação está se aproximando do limite aceitável de 6,5% ao ano – um dólar baixo permite o controle de preços mediante a concorrência de produtos importados no varejo. Mantega agora diz que o governo não pretende aceitar cotações menores que R$ 1,85.

"O ideal é que não houvesse intervenção, mas isso é sonho. Agora, se houver de novo uma tendência especulativa, se o pessoal se animar e disser ‘vamos puxar esse câmbio para 1,85’, aí estaremos de novo intervindo."

Guido Mantega, ministro da Fazenda.

Em mais um episódio da luta contra a pressão inflacionária, o governo fez hoje algo que os investidores já previam: voltou a intervir no mercado de câmbio. Estranho foi a forma como ele agiu, comprando dólares no mercado futuro e, com isso, contribuindo para elevar a cotação da moeda americana. Até poucos dias atrás, a atuação do Banco Central vinha sendo no sentido de forçar para baixo o câmbio.

O movimento ocorreu de forma quase simultânea com declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo ele, o governo brasileiro não permitirá que a moeda americana volte a ser cotada a R$ 1,85 e fará intervenções no mercado caso seja necessário. "O ideal é que não houvesse intervenção, mas isso é sonho. Agora, se houver de novo uma tendência especulativa, se o pessoal se animar e disser ‘vamos puxar esse câmbio para 1,85’, aí estaremos de novo intervindo", disse o ministro.

O instrumento usado pelo Banco Central foi um leilão de contratos de swap cambial reverso, que funcionam como uma compra de dólares no mercado futuro. Com a operação, o BC conseguiu mudar a tendência negativa do dólar, que operava na casa de R$ 1,95, empurrando a cotação para cima. Foram vendidos 10 mil contratos, o equivalente a US$ 502 milhões. A absorção pelo mercado ficou bem abaixo da oferta do BC, que contemplava 37 mil papéis, ou US$ 1,85 bilhão. Mesmo assim, a moeda terminou o dia cotada a R$ 1,971 no mercado à vista, ligeiro avanço de 0,05%.

Repercussão

Entre as medidas que o governo poderia tomar, Mantega citou a elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) na entrada de moeda estrangeira no país e a compra de dólares no mercado. "Se houver tendência especulativa, aumentaremos a intervenção: posso comprar mais reservas e posso reconstituir os IOFs (que foram reduzidos)", disse. Para ele, o dólar está flutuando em uma faixa adequada.

Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso, a fala de Mantega confundiu o mercado. "Ele sempre foi em sentido oposto ao BC, dizendo que a cotação do dólar tinha que cair, enquanto a autoridade estimulava a alta da moeda. Hoje, o que pareceu foi que ele não quer mais o dólar muito baixo também", diz. Para Hideaki Ilha, operador de câmbio da Fair Corretora, o episódio foi ruim para o país. "A presidente fala uma coisa, o Mantega fala outra, o BC outra, e ninguém entende nada. O fato é que o governo tem que lidar com crescimento econômico, inflação e câmbio, mas não dá para controlar os três juntos", afirma.

Declarações confundem investidores estrangeiros

Nos últimos anos, o governo estimulou o aumento do dólar para impulsionar o desempenho das indústrias no país (exportadoras), ajudando no crescimento econômico. Porém, a alta da moeda encarece os produtos no mercado interno, elevando o nível de inflação.

Na quinta-feira, declarações do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que demonstrou preocupação com a inflação (0,86% em janeiro, o maior índice mensal em oito anos) fizeram o mercado concluir que o governo passaria a trabalhar com uma cotação mais baixa, de forma a trazer produtos importados para concorrer com os nacionais e, assim, controlar os preços.

No meio da confusão, os investidores estrangeiros não se sentem seguros em relação à política do governo e acabam evitando investir por aqui, por isso a saída de dólares do país tem sido muito maior do que a entrada.

Sobre a sinalização de Mantega em voltar a mexer no IOF, Hideaki Ilha, operador de câmbio da Fair Corretora, é categórico: "o ministro não pode falar uma coisa dessas nesse momento. É irresponsabilidade. Isso só alimenta as desconfianças com as medidas do governo e afasta ainda mais os investidores estrangeiros."

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