O Banco Central elevou sua projeção de déficit em transações correntes do país em 2010 para 49 bilhões de dólares, maior valor nominal da história e superior à estimativa de investimentos estrangeiros diretos no ano.
A revisão foi divulgada nesta segunda-feira junto com os dados de fevereiro, que apontaram um déficit também recorde para o mês e acima do esperado por analistas.
"O resultado está fortemente influenciado por maiores gastos com viagens, aluguel de equipamentos e transporte, e também reflete o saldo comercial, que se reduziu", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, acrescentado que esses movimentos refletem o aquecimento da economia.
O déficit no mês passado foi de 3,251 bilhões de dólares, bem acima do déficit de 612 milhões de dólares registrado há um ano e também superior à estimativa do mercado de 2,35 bilhões de dólares, segundo mediana de sondagem feita pela Reuters.
Os investimentos estrangeiros diretos (IED) somaram 2,849 bilhões de dólares no mês e não foram suficientes, portanto, para cobrir sozinhos o buraco das transações correntes.
O BC prevê que essa tendência será mantida ao longo do ano. Sua estimativa para o IED em 2010 ficou inalterada em 45 bilhões de dólares.
Se as projeções se confirmarem, será a primeira vez desde 2001 que o país terá de contar com outras fontes para financiar seu saldo em conta corrente.
"Seria muito bom se tivéssemos o déficit em transações correntes coberto em sua totalidade por investimento direto, todavia o complemento desse financiamento também não é de qualidade ruim", afirmou Altamir, citando os empréstimos às empresas, o mercado de ações e o de renda fixa.
A estimativa do BC para a entrada de investimentos estrangeiros em papéis de longo prazo e ações no ano foi elevada em 10 bilhões de dólares, para 35 bilhões de dólares.
Balança despenca
Para o ano, o BC reduziu sua projeção de superávit comercial para 10 bilhões de dólares, ante estimativa anterior de 15 bilhões de dólares. Em 2009, o país teve saldo positivo de 25,3 bilhões de dólares.
O BC prevê que, com a retomada da economia interna, as importações brasileiras crescerão em ritmo superior ao das exportações.
No mês, o superávit comercial caiu a 394 milhões de dólares, contra 1,761 bilhão de dólares em fevereiro de 2010.
No mesmo período, a conta de serviços, que inclui viagens e aluguel de equipamentos, foi deficitária em 2,075 bilhões de dólares, bem acima do déficit de 896 milhões de dólares registrado no mesmo período do ano passado.
Segundo o BC, as remessas líquidas de lucros e dividendos somaram 1,255 bilhão de dólares, ante 1,103 bilhão de dólares em fevereiro de 2009. Para o ano, a estimativa do BC para essas remessas foi elevada a 32 bilhões de dólares, ante prognóstico anterior de 30,2 bilhões de dólares.
Em 12 meses até fevereiro, o déficit em transações correntes correspondeu a 1,66 por cento do Produto Interno Bruto. Em janeiro, o déficit era de 1,55 por cento do PIB.