Brasília - Pela primeira vez em nove anos, a entrada de capital estrangeiro no setor produtivo não será suficiente para financiar o déficit nas transações do Brasil com o exterior. Ontem, o Banco Central ampliou novamente a previsão de resultado negativo da conta corrente para 2010 o déficit estimado passou de US$ 40 bilhões para US$ 49 bilhões.
A maior parte desse resultado negativo será coberta pelo ingresso de investimentos diretos vindos do exterior (US$ 45 bilhões, prevê o BC). Porém, o país ficará na dependência de recursos direcionados ao mercado de capitais e de empréstimos do setor financeiro para equilibrar a conta, algo que não acontecia desde 2001.
A revisão no principal indicador que mede a vulnerabilidade externa do país se deve ao aumento das importações, dos gastos com serviços no exterior e das remessas de lucros. De acordo com o BC, ao contrário do que aconteceu há nove anos, os fatores responsáveis pelo aumento do déficit estão relacionados à recuperação da economia brasileira, e não ao endividamento externo do país. O BC também destaca que hoje o resultado das transações representa 20% das reservas internacionais brasileiras. No começo da década, era de 65%.
A instituição espera ainda uma entrada de US$ 35 bilhões de investimentos em títulos e ações para ajudar a fechar essa conta, 40% acima da previsão feita há três meses. "Seria muito bom se tivéssemos o déficit coberto na sua totalidade por investimentos diretos. Isso não vai ser possível, mas o complemento que se tem nesse financiamento também não é de qualidade ruim", disse o chefe do departamento econômico do BC, Altamir Lopes.
1º Bimestre
Os dados sobre as contas externas no primeiro bimestre de 2010 e os números parciais de março ainda estão distantes das previsões do governo. O ingresso no mercado financeiro supera em 90% os US$ 4,7 bilhões que entraram por meio de investimentos diretos em empresas. Esse valor cobre apenas 43% do déficit nas transações correntes nesse período.
Apesar de os investimentos estrangeiros diretos no bimestre terem ficado abaixo do registrado no mesmo período de 2009, eles devem se recuperar no segundo semestre, acompanhando a retomada do crescimento econômico em outros países, segundo o BC.
Para Lopes, os recursos externos que já entraram estão sendo direcionados a setores exportadores. Ele destacou que, pela primeira vez, a China aparece com destaque nas estatísticas. Com investimento de US$ 354 milhões em mineração, é o terceiro país com mais ingresso de capital no setor produtivo brasileiro no ano.
Caminho inverso
O BC revisou também os dados sobre investimento brasileiro no exterior, que passou de US$ 5 bilhões para US$ 15 bilhões. Isso representa uma virada em relação a 2009, quando as empresas brasileiras trouxeram de volta US$ 10 bilhões. Neste ano, esse investimento se concentra, principalmente, nos setores de alimentos e bebidas e serviços financeiros.